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Matérias / Personagem

Sem aliados e derrotado: há 22 anos, morria Pol Pot, o sangrento líder do Khmer Vermelho

Após anos de resistência contra a derrubada do governo genocida, o líder cambojano perdeu todos os colaboradores e morreu em condições deploráveis

André Nogueira Publicado em 15/04/2020, às 11h08

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Pol Pot - Wikimedia Commons
Pol Pot - Wikimedia Commons

Pol Pot foi o principal responsável por um dos governos mais sangrentos e contraditórios da história, ligado ao grupo Khmer Vermelho, que aterrorizou o Camboja nos anos 1970. De matriz leninista, mas apoiado pelos governos dos EUA e Reino Unido contra a URSS, o Kampuchea Democrático levou à morte de milhões de cambojanos por motivos insólitos. No entanto, o regime entrou em crise no ano de 1978, após dissidências partidárias geradas pelo autoritarismo descabido.

Após ataques contra vilarejos na fronteira leste, o Vietnã Comunista, recém-vencedor da guerra, iniciou uma ocupação militar do Camboja, assim revelando as atrocidades do governo Pol Pot. Isso resultou na queda de seu governo no ano seguinte e à instalação da Republica Popular do Kampuchea. Os partidários do Khmer se uniram na fronteira oposta, organizando uma guerrilha de resistência. Logo, houve um ressentimento com a ocupação estrangeira, o que acalorou o cenário nacional.

Pol Pot passou a receber apoio direto da China, enviando diplomatas, armas e dinheiro. O ditador montou uma rádio e iniciou uma campanha internacional contra o Vietnã e a URSS. Quando o exército estrangeiro chegou a Sisophon, local de ocupação do Khmer, Pol Pot passou para a Tailândia, reorganizando o movimento de maneira oposta à sugerida por Deng Xaoping, líder chinês. Uma nova sede da resistência se formou a oeste do Monte Thom e o ditador deixou seu nome político para se denominar Phen.

Nova fase ideológica

Em setembro de 1979, houve uma remodelação: negando o projeto socialista, membros maiores do movimento criaram a Frente Democrática Patriótica, visando unir todos os cambojanos contra a invasão. Para o historiador Phillip Short, autor da obra Pol Pot: The History of a Nightmare, esse é um momento de virada ideológica, em que até os uniformes do partido mudaram. Foi ordenado o fim das execuções. O Khmer era reconhecido e apoiado pelo mundo capitalista, inclusive pela ONU.

No fim daquele ano, Phen deixou o governo do Kampuchea e focou no esforço de guerra. Pouco a pouco, o governo paralelo retomava o oeste do Camboja, surfando na onda anti-estrangeira; em 1980, o exército de Phen tinha cerca de 40 mil homens.

Phen se encontrou com Deng, em uma articulação para reestabelecer um governo estruturado. A China pressionava para que Khieu Samphân fosse substituído por Norodom Sihanouk (exilado na Coreia do Norte), antigo rei do Camboja, no governo. Sihanouk, Samphân e Son Sann criaram seu próprio governo em Cingapura.

Então, o Partido Comunista foi dissolvido e o movimento de resistência foi completamente tomado por um Comando Militar. O lado aliado a Pol Pot passou a reformar o país contra as antigas medidas comunistas: encerrou-se a alimentação coletiva e restaurou-se o estatuto da propriedade. Depois, Phen afirmou que seu governo antigo era esquerdista demais, o que teria ocorrido pela influência errada de “indivíduos traiçoeiros”.

Em meio à guerra com o Vietnã, foi declarado um Governo de Coalizão do qual o Khmer Vermelho fazia parte, contra as decisões da capital oficial Phnom Penh. Líder da resistência militar, Phen teve de ir para Bangkok em 1983, onde exames médicos afirmaram que ele tinha uma espécie de câncer no sistema imunológico, ao mesmo tempo em que os vietnamitas voltaram a expulsar o Khmer para a Tailândia.

Em 1985, finalmente, Phen deixou o comando militar em favor de Son Senn, mesmo ainda tendo influência. Meses depois, casou-se e teve uma filha. Porém, foi encaminhado para Pequim, onde tratou o câncer e só retornou em 1988. Naquele ano, uma negociação de paz se iniciou entre as facções, algo que Pol Pot não apoiava, temendo ser derrotado no estabelecimento do novo governo.

Fim do Khmer Vermelho

Após a Queda do Muro de Berlim, os ânimos internacionais em relação ao Camboja baixaram. O antigo rei Sihanouk retornou ao país, e iniciou um processo de cessar-fogo, além da criação de um Conselho Nacional. Iniciou-se uma campanha para que os governantes do Khmer Vermelho fossem julgados pelos crimes que cometeram. Líderes do partido, quando chegaram em Phnom Penh, foram espancados em praça pública.

O grupo aliado a Phen voltou à fronteira e se negou a cessar a guerra. Nas eleições, formou-se um governo de aliança entre os pró-Vietnã e os monarquistas, enquanto Pol Pot comandava uma reocupação militar do oeste (que sofreu grande dissidência).

Praticamente derrotado, Pot Pot também estava com a saúde deteriorada. Com um pequeno território e sem medicamentos, ele sofreu um derrame que o deixou paralisado pela metade. Nesse tempo, voltou a interagir mais com a família.

Todavia, ele estava cada vez mais neurótico e, em 1997, ordenou a execução de Senn, seu maior aliado. Ta Mok ("O Açogueiro"), seu principal general, se voltou conta ele. Precisando ser carregado, o ex-ditador não conseguiu fugir e foi colocado em prisão domiciliar.

Túmulo de Pol Pot, onde repouzam suas cinzas, no Distrito Anlong Veng / Crédito: Wikimedia Commons

Ele foi condenado à prisão perpétua, sendo muitas vezes amarrado a uma coluna, e seus três principais partidários foram mortos. Supervisionado por Ta Mok, Pot deu poucas entrevistas no fim da vida, quando sua saúde já estava péssima.

Em abril de 1998, morreu durante o sono, por razões ainda discutidas: um ataque cardíaco ou um suicídio por medicamentos. Seu corpo foi conservado no gelo para que fosse averiguado, até que foi cremado por sua esposa, de maneira improvisada (com pneus e lixo), em ritos tradicionais budistas.


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