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Matérias / Coluna

Serra Pelada: A origem da chaga aberta no coração da floresta

Um pequeno agricultor que passava por dificuldades financeiras teve o bom senso de encaminhar uma amostra daquelas pedrinhas bonitas para a cidade de Marabá, no sudoeste do Pará

M.R. Terci Publicado em 25/07/2019, às 07h00

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Garimpo de Serra Pelada / Crédito: Sebastião Salgado
Garimpo de Serra Pelada / Crédito: Sebastião Salgado

O Brasil sempre foi ambiente favorável à proliferação da febre do ouro, ou seja, a migração súbita e em massa de trabalhadores para áreas onde se fez alguma descoberta espetacular de jazidas. Sua imensa extensão continental, com domínios muito diferenciados uns dos outros, sempre proporcionou ao país reservas imensas de riquezas naturais, tanto na superfície como no subsolo.

Tudo teve início com a chegada dos portugueses e atingiu seu auge entre fins do século 17 e a primeira metade do século 18. Após esse período, as autoridades acreditavam que não haveria nenhuma grande jazida de ouro no país.

Contudo, em 16 de dezembro de 1979, na região Norte do país, após um dia de trabalho pesado no campo, um vaqueiro chamado Sebastião Ferreira estava tomando banho no córrego Grota Rica, quando notou umas pedrinhas bonitas nas proximidades de uns pés de bananeira.

Seu patrão, Genésio Ferreira da Silva, um pequeno agricultor que passava por dificuldades financeiras e que pretendia vender sua propriedade, não possuía conhecimentos técnicos em geologia, mas teve o bom senso de encaminhar uma amostra daquelas pedrinhas bonitas para a cidade de Marabá, no sudoeste do Pará. Feitas as averiguações, para seu deslumbramento, ficou constatado que aquilo era ouro.

Genésio não perdeu tempo. Montou um acampamento de garimpo o qual designou de Grota Rica e colocou três equipes de garimpeiros que se revezavam, noite e dia, na extração. Mas isso foi apenas o começo.

Em janeiro de 1980, um comprador de ouro espalhou a notícia da nova lavra em Marabá. Naquela mesma semana, chegaram ao local, cerca de mil garimpeiros. Em fevereiro do mesmo ano, o acampamento contava com 25 mil homens e, todo dia, chegava mais gente à procura de trabalho.

Logo, o acampamento virou vila e como aquela região, em meio à floresta Amazônica, era formada praticamente por vegetação de cerrado, passaram a chamar a colina, onde estava situado o acampamento do seu Genésio, de Serra Pelada, designação que, por fusão de significados, logo viria a nomear a vila e o distrito do município de Curionópolis.

A quantidade de ouro encontrada na colina foi maior e o trabalho de extração de ouro era contínuo. O incansável formigueiro humano era movido pelo desejo de homens que vinham de miserável condição de vida e pobreza, e que sonhavam ficar ricos repentinamente.

O grande fluxo de pessoas não passou despercebido pelos olhos das autoridades governamentais. Em 21 de maio de 1980, uma comitiva do governo do presidente João Batista Figueiredo chegou à Serra Pelada com a missão de agir, em caráter sigiloso, no trato com os garimpeiros. Visavam, obviamente, a desocupação das terras, mas logo constataram ser impossível demover aquele imenso contingente de garimpeiros de seus interesses.

E isso foi apenas o começo da história do maior garimpo a céu aberto do mundo que, em seu ápice, contaria com 80 mil garimpeiros.


M.R. Terci é escritor e roteirista; criador de “Imperiais de Gran Abuelo” (2018), romance finalista no Prêmio Cubo de Ouro, que tem como cenário a Guerra Paraguai, e “Bairro da Cripta” (2019), ambientado na Belle Époque brasileira, ambos publicados pela Editora Pandorga.