Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / Música

Por que Sinéad O'Connor boicotou o Grammy?

Em 1991, Sinéad, a intérprete de 'Nothing Compares 2 U', era uma das favoritas da noite e ganhou apoio de outros indicados

Wallacy Ferrari Publicado em 13/03/2021, às 08h00 - Atualizado em 26/07/2023, às 15h25

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Sinead do clipe de 'Nothing Compares 2 U' (esq.) em montagem com estatueta do Grammy (dir.) - Divulgação
Sinead do clipe de 'Nothing Compares 2 U' (esq.) em montagem com estatueta do Grammy (dir.) - Divulgação

No início da década de 1990, poucas mensagens eram tão impactantes no mundo da música como as da cantora irlandesa Sinéad O'Connor. A morte da talentosa artista de 56 anos foi anunciada nesta quarta-feira, 26. 

Diferente de outras cantoras do mainstream norte-americano na época, não ostentava um corpo dos sonhos acompanhado de longas madeixas; do contrário, raspava o cabelo e usava roupas confortáveis.

Sua principal arma eram as composições e o vocal polido de longo alcance, que se somavam em músicas que edificaram seu álbum 'I Do Not Want What I Haven’t Got', no ano de 1990.

Em uma das faixas, no entanto, era uma composição de Princeresponsável por amplificar a voz perfeita pelo mundo, com 'Nothing Compares 2 U' alcançando o primeiro lugar da Billboard Hot 100 em abril do mesmo ano.

Sinéad aproveitou o palco para protestar a favor de seus ideais; entrou em uma rixa pública com a Madonna ao apoiar o feminismo 'sem tirar a roupa', rasgou uma fotografia do Papa João Paulo IIao vivo enquanto participava de um programa de TV em rede nacional e, principalmente, sobre os discursos e métodos abusivos da indústria cultural. E se engana quem pensa que as polêmicas ficaram no passado.

No ano de 2013, a cantora norte-americana Miley Cyrus escandalizou o mundo ao se libertar dos cadeados da Disney. Foi com o lançamento do polêmico clipe da canção Wrecking Ball, que apresenta fortes inspirações da carreira de Sinéad, que a veterana se irritou e chamou atenção Cyrus numa carta aberta publicada através do The Guardian. 

“A indústria não liga para você, ou para qualquer uma de nós. Eles vão prostituí-la por tudo que você vale e facilmente vão fazer você pensar que isso era o que você queria”, disse a jovem cantora dona dos sucessos Party In The Usa e Midnight Sky. “E quando você acabar em uma clínica de reabilitação por ter sido prostituída, 'eles' estarão em seus iates em Antígua, que compraram com a venda de seu corpo, e você vai se sentir muito sozinha”.

Cyrus não gostou das críticas e rebateu comparando Sinéad à atriz Amanda Bynes e relembrando o polêmico episódio em que ela rasgou a foto do Papa.

Sinéad em apresentação acústica durante o ano de 2008 / Crédito: Flickr/haagsuitburo/CC 2.0

Sinéad x Grammy

De acordo com a organização da premiação, a cantora já havia sido indicada dois anos antes como Melhor Performance Vocal Feminina de Rock por seu álbum de estreia, 'The Lion And The Cobra', sendo derrotada.

No auge com o disco seguinte e sabendo da recepção acadêmica que teria no Grammy, a principal premiação musical da indústria, decidiu preparar uma surpresa.

Na trigésima terceira edição do evento, a artista foi indicada em quatro categorias, dentre elas a de Melhor Videoclipe, Melhor Performance Vocal Feminina de Pop, Melhor Performance de Música Alternativa e a mais importante da noite, Gravação do Ano, sendo cotada como favorita para todas elas.

Porém, horas antes da cerimônia, O'Connor soltou uma nota oficial destinada a veículos populares da imprensa explicando que não iria para a premiação, nem mesmo se ganhasse algum troféu, como informou o jornal Los Angeles Times na época. A justificativa seria a transformação de uma condecoração pela arte em um evento que valorizava o sucesso comercial.

"Como artistas, acredito que nossa função é expressar os sentimentos da raça humana — sempre falar a verdade e nunca mantê-la escondida, embora estejamos operando em um mundo que não gosta do som da verdade. [...] Eles respeitam principalmente o ganho material, pois esse é o principal motivo de sua existência. E eles criaram um grande respeito entre os artistas pelo ganho material — honrando-nos e exaltando-nos quando o alcançamos, ignorando em grande parte aqueles de nós que não o fizeram”, escreveu a cantora.

Vernon Reid discursa em apoio a Sinéad O'Connor na noite do Grammy / Créditos: Divulgação/YouTube/Grammy's

Na noite do evento

A decisão repercutiu na organização do Grammy como um direito de expressão livre que não deveria reverberar em punições, como explicou o presidente da academia de votação, Michael Greene, ao Tampa Bay Times: “Aplaudimos que Sinéad se preocupe tanto com essas questões e acreditamos que suas convicções apenas aumentam a seriedade de seu trabalho. Mas ela pode estar equivocada”.

Mais tarde, Sinéad ainda foi a vencedora como Melhor Performance de Música Alternativa, desbancando Kate Bush na estreia da categoria — contudo, não apareceu para buscar o troféu, sendo a primeira a recusar um Grammy na história da premiação.

Em solidariedade ao ato, o lendário guitarrista do Living Colour, Vernon Reid, aceitou o prêmio de Melhor Performance de Hard Rock com uma estampa da cantora em sua camiseta: “A NARAS [conselho responsável pelas indicações e premiações do evento] não dita meu código de vestimenta”, disse ao Washington Post.

Receba o melhor do nosso conteúdo em seu e-mail

Cadastre-se, é grátis!