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Matérias / Personagem

A inusitada carta que trouxe à tona um amor proibido de um soldado gay na guerra

A relação entre Gilbert Bradley e Gordon Bowsher foi separada pela Segunda Guerra e por preconceitos, só sendo revelada décadas depois

Fabio Previdelli Publicado em 08/12/2020, às 11h32 - Atualizado em 07/05/2021, às 08h00

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Imagem meramente ilustrativa de uma carta - Divulgação/Pixabay
Imagem meramente ilustrativa de uma carta - Divulgação/Pixabay

Ao embarcar na Segunda Guerra Mundial, vários soldados deixavam para trás a vida que já estavam acostumados a viver. Por mais que fosse difícil, muitos afastaram-se de suas famílias, amores e sonhos. Tudo isso em prol de um ideal, em busca de um futuro melhor para sua nação, fruto de um conflito que não optaram por acontecer, mas que jamais desistiram de lutar. 

A guerra não os colocou somente frente a frente com uma ameaça bélica, mas também os fizeram encarar seus próprios medos, inseguranças e seus fantasmas interiores. No fim, o que lhes dava esperança era saber que alguém ainda os mantinha vivos em seus pensamentos, mesmo que a morte fosse o caminho mais provável a se seguir.  

O amor os fortalecia e revigorava suas energias, porém o amor não era igual para todos, muitos tiveram que o esconder, não por escolha própria, mas pela imposição da sociedade à época. Afinal, o que pensariam de um soldado que se relaciona com outro homem? 

Foto de Gilbert Bradley / Crédito: Divulgação/ Oswestry Town Museum

Esse foi o caso de Gilbert Bradley, que constantemente trocava missivas com seu grande amor, que só assinava suas cartas com a inicial “G”. Naquela época, a homossexualidade não era apenas ilegal e podia render uma pena na prisão, como o soldado que fosse identificado como gay poderia ser baleado e deixado para morrer.  

Mesmo assim, isso não impediu GilbertGordon Bowsher de viverem esse sonho. “Meu querido, fico acordado a noite toda esperando o carteiro de madrugada, e aí quando ele não traz nada de você eu só existo, uma massa de nervos. Todo meu amor sempre”, dizia uma das missivas datada de 24 de janeiro de 1939. 

Com toda essa Guerra contra o preconceito, não era de se surpreender que, quando o conflito começou, Gilbert não queria estar no Exército. Em uma ocasião, ele até que tentou fingir um ataque epilético, mas para sua infelicidade, os médicos o aprovaram e lhe concederam um atestado de saúde. Assim, recebeu ordens para ser treinado como artilheiro de aviões no Park Hall Camp em Oswestry. 

Amor impossível  

Um ano antes de ser aprovado como soldado, Bradley conheceu Gordon em uma festa. Naquela época, Bowsher estava em um relacionamento com o sobrinho de Gilbert, mas quando os dois se conheceram, foi amor à primeira vista, os dois tiveram uma química inegável e passaram a nutrir um caso secreto.  

Apesar da família rica, que tinha uma empresa de transporte marítimo que fornecia mercadorias da Grã-Bretanha por todos seus territórios, Gordon só teve tudo que mais precisava quando conheceu Gilbert: um amor verdadeiro e alguém que o compreendesse por inteiro. 

Algumas das cartas trocadas entre Gilbert Bradley e Gordon Bowsher / Crédito: Divulgação/ Oswestry Town Museum

Mas tudo mudou quando a Guerra estourou e eles tiveram que se separar. “Meu próprio menino querido, não há nada mais do que desejo na vida, a não ser ter você comigo constantemente”, dizia o trecho de uma carta. “Eu posso ver ou imagino que posso ver, qual seria a reação de sua mãe e seu pai... O resto do mundo não tem ideia do que é o nosso amor, eles não sabem que é amor”. 

O segredo 

Na década de 1940, a vida de um homossexual era extremamente difícil. Ser gay era uma ofensa à corte marcial, com muitos sendo presos pela chamada “indecência grosseira”, isso sem contar que grande parte da sociedade desaprovava veementemente a relação entre pessoas do mesmo sexo.  

As coisas só começaram a mudar quase trinta anos depois, quando a Lei de Ofensas Sexuais, de 1967, que permitia que homens de 21 anos ou mais fossem legalmente autorizados a terem relacionamentos gays, foi assina. Porém, nas Forças Armadas, isso não foi permitido até o ano 2000. 

A troca de cartas entre os dois só foi descoberta após a morte de Bradley, em 2008, se tornando um registro extremamente raro da Segunda Guerra, já que muitas missivas de relacionamentos desse tipo eram queimadas para acabar com qualquer prova comprometedora.  

“Faça uma coisa por mim, com seriedade vital”, disse Bowsher em um escrito. “Quero todas as minhas cartas destruídas. Por favor querido, faça isso por mim. Até então e para todo o sempre, eu te amo”.  

Porém, ele jamais a fez, o que permitiu que uma empresa de limpeza de residências encontrasse os registros e vendesse a um especialista em correspondência militar. Assim, ele as anunciou no eBay e Mark Hignett, curador do Oswestry Town Museum, as ofertou enquanto procurava itens relacionados com a cidade.  

Mark Hignett junto com sua coleção de cartas / Crédito: Divulgação/ Oswestry Town Museum

No início, Mark pensou que Gilbert estava trocando correspondências com sua namorada ou noiva, já que a assinatura do remetente, como já explicado, era somente a letra ‘G’. No entanto, quando ele percebeu que o outro elo dessa ligação era Gordon Bowsher, ele ficou chocado. 

Com isso, Hignett começou uma busca implacável pelas outras peças desse quebra-cabeça e partiu em uma missão de vários anos para descobrir o maior número possível de documentos relacionados ao soldado. Assim, após vários meses — e mais de mil libras depois —, ele, enfim, conseguiu a última pista que colocava fim e dava outro rumo a história. 

Final feliz? 

Em um ponto da Guerra, Bradley foi enviado à Escócia em uma missão para defender a Ponte Forth. Por lá, ele conheceu e se apaixonou por dois outros homens. Porém, supreendentemente, ele falou sobre essas relações para Bowsher, que seguiu com o pensamento de que tudo que acontecesse na Guerra, permaneceria na Guerra. “[Eu entendo] por que eles se apaixonaram por você. Afinal, eu também me apaixonei”, disse em uma carta.  

Embora a relação tenha continuado, eles pararam de se falar em 1945, perto do final do conflito, algo que Hignett só descobriu conforme foi em busca das páginas seguintes de grande livro de amor, como o próprio descreve. "Eu só tive que continuar comprando as cartas para descobrir o que aconteceu a seguir." 

Porém, o curador acredita que a relação dos dois jamais se concretizou após o conflito. Embora o destino de ambos tenha sido marcado por traços curiosos. Gordon se mudou para a Califórnia e virou treinador de cavalos. Uma estranha curiosidade é que uma vez contratou Sirhan Sirhan, que mais tarde viria a ser condenado pelo assassinato de Robert Kennedy.  

Gilbert se envolveu brevemente com Paul Latham, político do Partido Conservador britânico que foi preso em 1941 após ser julgado pela corte marcial por “conduta imprópria” junto a outros três soldados da artilharia e a um civil, sendo desmascarado depois que algumas “cartas indiscretas” foram descobertas.  

Com todo esse material, Mark Hignett pretende elaborar um livro sobre a história, onde as cartas serão expostas, algo que, de certa forma, realizaria um dos sonhos de Gilbert Bradley e Gordon Bowsher: "Não seria maravilhoso se todas as nossas cartas pudessem ser publicadas no futuro em uma época mais iluminada. Então, todo o mundo poderia ver o quanto estamos apaixonados”, dizia um dos registros.


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