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Matérias / Reino Animal

Um peixe consegue viver com um parasita no lugar da língua?

Esses traiçoeiros animais matam a língua de seu hospedeiro e então as substituem — mas como fica a vítima após esse terrível ataque?

Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 31/10/2021, às 12h28

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Peixe com o parasita substituindo sua língua - Wikimedia Commons/ Marco Vinci
Peixe com o parasita substituindo sua língua - Wikimedia Commons/ Marco Vinci

A ideia de ter um parasita vivendo em seu corpo é o suficiente para causar ânsia de vômito em muitos. Em comparação com os peixes, porém, muda.

Isso pois eles são atormentados por um temível tipo de isópode (que é, basicamente, um crustáceo de dimensões pequenas) conhecido como "piolho comedor de língua". Esses seres pérfidos, como o nome já sugere, tem um modus operandi nada agradável. 

Eles costumam invadir o organismo dos peixes através de suas guelras, e depois começam beber o sangue que seria enviado à língua de seu hospedeiro. Com a irrigação cortada, o órgão atrofia e cai, deixando apenas o osso para trás.

É nesse momento que o crustáceo toma o lugar da língua parasitada, assumindo assim uma posição que lhe permite continuar vivendo ao alimentar-se de muco e restos de alimentos.

Porém, de que forma o ataque do isópode oportunista impacta o peixe

Parceria involuntária

Por pior que seja o dano que o parasita faz ao seu hospedeiro, a morte dele não o beneficia, uma vez que também significa sua própria morte. Um peixe não consegue alimentar-se sem uma língua, e como perdeu a sua, o isópode que a está substituindo definitivamente é melhor do que nada. 

Mais exemplos de peixes com parasitas no lugar da língua / Crédito: DIvulgação/ Int.J.Parasitol/ Nico Smit

Essa parceria improvável da língua viva com o peixe pode prosseguir, por incrível que pareça, durante toda a vida do animal, segundo explicado por Kory Evans, um biólogo marinho, conforme repercutido LiveScience em um artigo de 2020. 

Já foram inclusive registados casos em que o isópode morreu, porém seu hospedeiro prosseguiu vivendo normalmente, de acordo com Stefanie Kaiser, pós-doutoranda da Associação Americana para o Avanço da Ciência. 

Algo que, por outro lado, realmente impediria a sobrevivência do animal, seria a presença de dois parasitas habitando sua boca de uma vez. Isso pois essa lotação toda pode não deixar espaço para o alimento passar. 

"Eles basicamente morreriam de fome e teriam apenas algumas semanas de vida. Mas os peixes são duros como pregos, muitas vezes não se deixam abater facilmente", afirmou Kory em entrevista, conforme repercutido pelo UOL na semana passada.

Vários tipos

Outra informação relevante é que não existe apenas um parasita comedor de língua, mas 380 espécies diferentes. Cada uma é adaptada para parasitar uma espécie de peixe diferente. 

Esses crustáceos são, porém, mais fáceis de ser encontrados nas águas do Golfo do México. Kory Evans, em particular, já encontrou dois deles durante um estudo em que estava fazendo reconstruções em 3D de esqueletos de peixes. 

Fotografia 3D de peixe com crustáceo substituindo sua língua / Crédito: Divulgação/ Twitter/ Arquivo Pessoal

Em uma dessas ocasiões, que se deu em 2020, ele fez uma postagem sobre o ocorrido em seu Twitter:

“Parecia que ele [o esqueleto do peixe] tinha algum tipo de inseto na boca. Então eu pensei: espere um minuto, este peixe é um herbívoro, ele come algas marinhas. Foi quando eu puxei o scanner original e, vejam só, era um piolho comedor de língua", escreveu o especialista na época.