Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / Esporte

Política misturada ao futebol: Quando os Collor comandaram o CSA

Na época, a família do 32° presidente do Brasil tomou conta do campeonato alagoano através da condução do time nordestino

Coluna - José Renato Santiago Publicado em 05/09/2021, às 10h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Fotografia do ex-presidente Fernando Collor e dos times de 1929 e 1941 do CSA - Agência Brasil/ Museu dos Esportes de Alagoas
Fotografia do ex-presidente Fernando Collor e dos times de 1929 e 1941 do CSA - Agência Brasil/ Museu dos Esportes de Alagoas

Em tempos de grandes dificuldades no transporte de produtos entre as cidades, uma das mais prósperas profissões no começo do século 20 foi a de caixeiroviajante. Como o próprio nome sugere, cabia a ele viajar de povoado em povoado carregando caixas com produtos a serem vendidos para as comunidades mais distantes dos locais onde eles eram produzidos.

Por causa das dimensões continentais de nosso país, o caixeiro-viajante, pode acreditar, até hoje ainda tem vasto espaço de atuação, sobretudo no Nordeste, repleto de pequenos povoados espalhados pelo sertão. O estado de Alagoas foi um dos primeiros a organizar essa atividade de maneira mais estruturada.

Ainda no final do século 19, em 1879, foi criada a Sociedade Perseverança e Auxílio dos Caixeiros de Maceió. Tendo como objetivo agrupar os caixeiros e os guarda-livros empregados em casas comerciais, essa sociedade adotava a prática do mutualismo, que se caracterizou por ser o precursor dos modernos sistemas de seguros.

Ele consistia na criação e gestão de um fundo comum, formado a partir da contribuição de seus associados como maneira de suportar futura assistência a eles e respectivos familiares. O mutualismo foi uma das primeiras formas de organização de trabalhadores no Brasil, e na capital alagoana persistiu até 1917.

Muito populares entre os caixeiros, com o passar dos anos, logo outras associações similares baseadas no mutualismo foram criadas, entre elas a Sociedade Perseverança e Auxiliar dos Empregados no Comércio, que passou a congregar todos aqueles que atuavam junto às atividade comerciais na capital alagoana.

Por envolver uma grande quantidade de pessoas, em 1913, seus integrantes resolveram criar um espaço para a prática de atividades esportivas. Por causa disso, foi criado em 7 de setembro, por iniciativa de Jonas Oliveira, o Centro Sportivo Sete de Setembro, que passou a funcionar na própria sede da Sociedade Perseverança. Nesse espaço havia treinamentos de boxe, luta greco-romana, levantamento de peso e atividades similares.

Logo o Centro Sportivo passou a ser reconhecido como uma academia de atletas, e seus fundadores passaram a vislumbrar seu crescimento. Em 1915, resolveram mudar o nome para Centro Sportivo Floriano Peixoto, uma homenagem ao atleta José Floriano Peixoto.

Filho caçula do ex-presidente da República, “Zeca Peixoto” era um grande esportista da época e chegou a praticar 18 diferentes modalidades esportivas, com maior destaque na luta greco-romana e boxe. Além disso, naquele tempo, ele vivia uma aura de herói, por ter salvado a vida de algumas pessoas em um naufrágio que ocorrera na Bahia.

A verdade é que Zeca Peixoto foi um dos atletas mais conhecidos e exaltados no país nas duas primeiras décadas do século 20. Foi justamente nesse ano que o futebol começou a ser praticado no Centro Sportivo. O aniversário de 3 anos do clube foi comemorado no dia 7 de setembro de 1916, em jogo realizado contra o Clube de Regatas Brasil, o CRB, que tinha sido fundado em 1912. Vitória por 1 a 0.

O ano de 1917 marcou a entrada do Centro Sportivo Floriano Peixoto nos esportes náuticos e a partir daí o inicio da efetiva rivalidade com o Clube de Regatas Brasil, a ponto de seus dirigentes, já em 1918, sugerirem nova alteração de nome, de forma a trazer maior simpatia dos alagoanos.

Em 13 de abril, assumiu o nome de Centro Sportivo Alagoano, CSA. O que em qualquer cidade do mundo seria o clássico Brasil x Alagoano, acabou por se transformar em CRB x CSA, o clássico das multidões, ou o clássico Sopa de Letrinhas. Foi inegável o acerto na decisão tomada sobre a adoção de um nome mais regional. Ainda assim, o CSA não conquistou o título de clube mais popular do estado, que sempre pertenceu ao rival CRB.

O campeonato alagoano de futebol começou a ser disputado em 1927 e passou a se popularizar a partir da cobertura dada pelo jornal Gazeta de Alagoas, criado em 1934, e que tinha como colaborador Arnon Afonso de Farias Mello. O alagoano Arnon morava no Rio de Janeiro, onde estudava Direito e trabalhava como jornalista nos Diários Associados. Em 1936, assumiu a direção do jornal alagoano.

Com o fim do Estado Novo, em 1945, Arnon se associou à União Democrática Nacional (UDN), por onde foi eleito deputado federal e, em 1950, governador de Alagoas. O período que ficou como mandatário do estado coincidiu com o crescimento vertiginoso da Gazeta de Alagoas, como o grande sustentáculo das Organizações Arnon de Mello.

Paralelo a isso, as conquistas das Copas do Mundo de 1958 e 1962 pela Seleção Brasileira fizeram com que a popularidade do esporte crescesse de forma vertiginosa em todo o país. Durante essas décadas, o clube mais vitorioso do estado foi o CSA, que conquistou 11 títulos estaduais e atraía muitos torcedores em seus jogos.

Como governador do estado, dono do maior jornal em circulação e, posteriormente, senador, era comum a presença de Arnon em jogos do futebol local acompanhado dos filhos, Leopoldo, Leda Maria, Ana Luísa, Fernando e Pedro.

Era uma forma de manter sua popularidade. A terceira conquista mundial, em 1970, no auge do regime militar, fez com que o futebol passasse a ser visto, ainda mais, como um dos principais meios a ser utilizados para o “controle” da população. Uma das frases que se tornou célebre naqueles dias foi “Onde a Arena vai mal, mais um time no Nacional. Onde vai bem, mais um time também”.

A Arena era o partido do governo, do qual Arnon fazia parte desde 1965, e, através de convites a clubes de todas as regiões do Brasil, contentava as suas torcidas e garantia a simpatia do povo. Arnon logo identificou isso como uma oportunidade.

A inclusão de uma equipe alagoana no Campeonato Brasileiro o CRB, aconteceu pela primeira vez em 1972 e o entusiasmo foi tão grande da população que o fez convocar seu filho, Fernando Collor, a assumir a presidência do CSA em tempo recorde.

Com apenas 24 anos, em 7 de agosto de 1973, ele se tornou conselheiro, e em 3 de setembro do mesmo ano, por aclamação, condição imposta por ele próprio, foi indicado como presidente. Embora tenha ficado pouco tempo no cargo, Collor fez história no clube, apesar do boato na época de ele nem sequer ser torcedor da equipe.

Recém-empossado, tratou de organizar uma partida festiva, onde contou com Garrincha e Dida, craques da Copa do Mundo de 1958, na equipe azulina em um amistoso frente o ASA de Arapiraca, em 19 de setembro. Também levou a equipe à conquista do estadual de 1974 e, por fim, conseguiu interromper a sequência de participações do rival, CRB, no Campeonato Brasileiro, ao derrotá-lo por 3 a 1 em partida decisiva válida pela vaga.

O sucesso no futebol fez com que Fernando passasse a ser reconhecido como dirigente competente e de sucesso. Ainda como diretor da Gazeta de Alagoas, em 1979, por influência de Arnon, então senador, foi nomeado prefeito de Maceió.

Era o começo da trajetória política de um homem que, dez anos depois, seria eleito presidente da República. Passaram-se mais dez anos e em 1999, seu filho, Arnon Afonso de Mello Neto, resolveu seguir seus passos, ao se tornar diretor de futebol do CSA. Ficou no cargo até 2001. No ano seguinte, candidato a deputado federal, não foi eleito.


+Saiba mais sobre a história do esporte através de obras disponíveis na Amazon: 

O algoritmo da vitória: Lições dos melhores técnicos esportivos do mundo para você aplicar em seu time, sua carreira e sua vida, de José Salibi Neto (2020 ) - https://amzn.to/2CqpUtJ

Psicologia do esporte, de Dietmar Samulski (2008) - https://amzn.to/2AVENUi

Fisiologia do Esporte e do Exercício, de W. Larry Kenney, David L. Costill e Jack H. Wilmore (2020) - https://amzn.to/315r0Wd

Esportes, de Daniel Tatarsky (2017) - https://amzn.to/3hMqrqb

História dos esportes, de Orlando Duarte Figueiredo (2004) - https://amzn.to/2YVFKnC

Vale lembrar que os preços e a quantidade disponível dos produtos condizem com os da data da publicação deste post. Além disso, a Aventuras na História pode ganhar uma parcela das vendas ou outro tipo de compensação pelos links nesta página.

Aproveite Frete GRÁTIS, rápido e ilimitado com Amazon Prime: https://amzn.to/2w5nJJp 

Amazon Music Unlimited – Experimente 30 dias grátis: https://amzn.to/2yiDA7W