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Matérias / Personagem

Início do reinado de Elizabeth II foi marcado por profundas mudanças na conjuntura internacional

A monarca passou por momentos complicados no início de seu reinado, mas seguiu firme no poder

Texto Joseane Pereira Publicado em 03/11/2020, às 14h30 - Atualizado em 08/09/2022, às 17h53

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Elizabeth II - Getty Images
Elizabeth II - Getty Images

Na mesma época em que discursava para legiões de crianças britânicas, Elizabeth trocava cartas com seu primo de segundo grau e futuro esposo, o príncipe Philip da Grécia e Dinamarca.

Ingressando com 18 anos na Marinha Real Britânica, o turbulento jovem grego logo se aproximou da reservada princesa que havia conhecido cinco anos antes, no casamento de Marina da Grécia com George, Duque de Kent.

Mas o amor entre os primos teve inúmeros percalços: além de estrangeiro, Philip não tinha uma família real abastada e uma de suas irmãs havia se casado com um nobre alemão ligado ao nazismo, o que causava profundo constrangimento na corte britânica.

Em 1947, para amenizar os conflitos do noivado, Philip se converteu ao Anglicanismo, renunciou os títulos gregos e dinamarqueses da família paterna e assumiu o sobrenome britânico de seus avós maternos.

Deixando para trás religião, nacionalidade e família, ele recebeu o título de Alteza Real pelo rei George VI e foi feito Duque de Edimburgo, Conde de Merioneth e Barão de Greenwich em 20 de novembro daquele ano. Horas depois, os noivos se casaram em uma grandiosa cerimônia na Abadia de Westminster.

Elizabeth e Philip viveram uma relação tranquila nos três anos seguintes, com o nascimento do príncipe Charles e da princesaAnne e a promoção de Phillip a tenente-comandante da Marinha Real.

Crédito: Getty Images

Porém, com a morte de George VI em 1952, Elizabeth herdou as responsabilidades da Coroa – e Philip acabou deixando o serviço militar para caminhar em sua sombra. Após receber a notícia da morte de seu pai enquanto o substituía em compromissos no Quênia, Elizabeth partiu para a Inglaterra. Vivendo os primeiros meses de reinado em um profundo luto, ela foi oficialmente coroada em 2 de junho de 1953, em um espetáculo transmitido da Abadia de Westminster ao mundo inteiro.

Para transtorno de Philip, tanto a rainha Mary, avó de Elizabeth, quanto o primeiro-ministro Winston Churchill aconselharam a nova monarca a manter o nome da casa real como Windsor, em vez de adotar o sobrenome do marido como de costume.

Curiosamente, a casa de Windsor havia sido criada justamente para validar o poderio britânico, como aponta Lincoln Secco, professor de História Contemporânea na Universidade de São Paulo: “Há que se lembrar que a monarquia britânica procurou se legitimar mediante tradições falsas. Em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, o rei George V alterou os sobrenomes alemães de sua família criando a Casa de Windsor. Afinal, a Inglaterra estava em guerra com a Alemanha”.

O início do reinado de Elizabeth II foi marcado por profundas mudanças na conjuntura internacional. Desde sua infância, o Império Britânico – que havia reinado absoluto durante o século 19 – ia perdendo colônias à medida que lutavam pela independência.

Antigos territórios do Império firmaram acordos com o Reino Unido, originando em 1926 a Comunidade das Nações, ou Commonwealth, uma associação livre de estados independentes. E o processo de emancipação colonial se intensificou após a Grã-Bretanha e o restante da Europa saírem devastados da Segunda Guerra, não tendo mais condições de manter seu aparato militar em território estrangeiro.

Crédito: Getty Images

“Até a Segunda Guerra Mundial, a nobreza tinha um papel político e cultural importante e o país sediava um Império. Já no pós-guerra, a monarquia foi se tornando um símbolo somente para o consumo espetacular, pois o Império Britânico estava sendo desmantelado pela luta anticolonial e já havia perdido a verdadeira joia da coroa: a Índia. Depois da Índia, a maioria das independências foi cedida por negociação, especialmente na América Central, onde os britânicos optaram por evitar a guerra e, assim, favorecer governos anticomunistas. À monarquia restou adaptar-se a esse mundo de espetáculo midiático”, comenta o professor Lincoln.

A jovem rainha subia ao trono para enxergar um mundo novo. Em 1953, ela embarcou com seu marido em uma volta ao mundo de seis meses, firmando relações com 13 países da Commonwealth e sendo a primeira monarca em exercício a visitar a Austrália e a Nova Zelândia – pioneirismo que também ocorreu na América do Sul, quando o casal visitou o Brasil e o Chile em novembro de 1968. No decorrer dos anos, a rainha se dedicou às obrigações como chefe de Estado, esposa e mãe, dando luz aos filhos Andrew, em 1960, e Edward, em 1964.

Elizabeth II é hoje a chefe de Estado que mais viajou pelo mundo. Em 2015, ano em que se tornou a monarca britânica de reinado mais longo (ultrapassando sua tataravó, a rainha Vitória, que esteve no trono por 64 anos), ela contabilizava cerca de 260 visitas oficiais ao exterior, passando por 116 países.

Seu governo tem sido marcado pelas urgências da modernidade: cerimônias oficiais televisionadas, a abertura do palácio de Buckingham para visitações públicas e permissão de divórcio aos membros da realeza são exemplos de transformações necessárias diante de uma sociedade britânica cada vez mais multicultural.

Seu reinado também foi marcado por duras críticas. Em 1992, considerado pela própria rainha um Annus Horribilis, o divórcio de Charles, Andrew e Anna levou a imprensa a especular intensamente sobre a vida íntima da família real. Naquele mesmo ano, a fortaleza dos Windsor foi destruída por um grande incêndio e uma recessão enfrentada pelo país levou Elizabeth a pagar impostos sobre sua renda pessoal.

No ano de 1997, a recusa da rainha em hastear a bandeira nacional no Palácio de Buckingham por decorrência da morte de Diana, ex-esposa de Charles, também gerou críticas intensas – que foram amenizadas após um pronunciamento ao vivo sobre o ocorrido. Hoje, com 96 anos de idade e carregando o peso da coroa, Elizabeth II segue firme como símbolo de uma monarquia que precisou se adaptar às lutas anticoloniais e necessidades modernas.

Seu primogênito Charles é o sucessor oficial da coroa, seguido por uma legião de netos e bisnetos. A popularidade da rainha que cresceu em meio à guerra e viajou o mundo como chefe de Estado permanece alta – e suas raras aparições em público ainda ofuscam qualquer um que estiver por perto.