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Matérias / Monarquia

Veneno e exílio: a destemida saga do Cavaleiro de Lorena, o amante de Filipe I

Os bastidores da trajetória do amor homossexual entre o Cavaleiro e o Duque de Orleans, dentro da corte do Rei Luís XIV, na França

Vanessa Centamori Publicado em 23/04/2020, às 17h00 - Atualizado às 20h00

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Wikimedia Commons - Cavaleiro de Lorena
Wikimedia Commons - Cavaleiro de Lorena

O escritor francês do século 17, Abade de Choisy, descreveu um episódio no qual Monsieur — como era chamado Filipe I — dançou apaixonadamente com seu amante predileto, Filipe, o Cavaleiro de Lorena. Segundo o relato histórico, o casal homossexual balançou ao som de um minueto em um elegante baile da realeza.

“Monsieur começou com [a canção] Melle de Brancas, que era muito bonita (...)”, escreveu de Choisy. “O Cavaleiro de Lorena lhe deu a mão; dançou o minueto e foi sentar-se entre todas as mulheres”.

A paixão dos dois começou em 1658, antes mesmo do casamento de Filipe I, o Duque de Orleans, com a princesa inglesa Henriqueta Ana Stuart. Mesmo quando Monsieur se casou — e teve uma amante mulher — isso não impediu que o Cavaleiro de Lorena continuasse a nutrir por ele grande afeto. A paixão homossexual dos dois durou cerca de trinta anos. 

Filipe I, o Duque de Orleans, conhecido na corte como Monsieur / Crédito: Wikimedia Commons 

O amante 

Filipe, o Cavaleiro de Lorena, vinha de uma família principesca e era primo distante dos duques soberanos de Lorena. Era o segundo filho do Conde e da Condessa do condado de Harcourt. O seu pai era Henrique de Lorena, o Grande Escudeiro da França — um cargo prestigiado. 

O ofício consistia em se encarregar do transporte do rei e da sua comitiva de cerimônias. Enquanto isso, a mãe do cavaleiro era Margarida Filipa du Cambout, membro da antiga Casa do Cambout, originária dos Duques Soberanos da Bretanha.

Curiosamente, o Cavaleiro de Lorena seguiu um rumo diferente dos pais. Tornou-se Abade titular de quatro mosteiros: Saint-Pierre, na Diocese de Chartres; Tiron; Saint-Benoit-sur-Loire e Saint-Jean-des-Vignes de Soissons.

Ao mesmo tempo que estava ligado à vida religiosa, participava da corte de Luís XIV nos anos 1660. Possuía uma casa de campo em Frémont e desfrutava de grande riqueza. Quando conheceu Filipe I, o Cavaleiro de Lorena tinha fama de ser “tão belo quanto um anjo”. Não foi difícil encantar seu parceiro. 

Amor forjado 

Filipe I parecia ser bem devoto à futura primeira esposa, Henriqueta Ana Stuart. Porém, historiadores acreditam que isso era apenas uma farsa, afinal o casamento dos dois não passava de um acordo político. 

Antes da morte de seu tio Gastão, o Duque de Orleans jamais tinha demonstrado ânimo para o casamento com a mulher. Acontece que quando morreu, em 1660, Gastão deixara uma herança para o sobrinho — fortuna que só poderia ser coletada após um laço matrimonial.  

Henriqueta Ana Stuart, primeira esposa de Filipe I  / Crédito: Wikimedia Commons 

Outro indício que Filipe I não nutria amor pela primeira esposa foi que ele teve vários amantes — homens e mulheres. Além disso, o Duque de Orleans era conhecido pela maneira distinta de se vestir e por sua feminilidade acentuada. 

Monsieur foi um grande adepto às perucas e saltos-altos na corte de seu irmão mais velho, o rei Luís XIV. Sua atitude homossexual também estava presente na vida amorosa: ele teve inúmeros relacionamentos com homens nobres. 

No entanto, circulavam na realeza rumores de que Filipe I tinha uma amante mulher: Laura Mancini, a duquesa de Mercoeur. Ainda assim, o amado favorito em seu coração era o Cavaleiro de Lorena. 

Tanto que o peso desse amor pode ter sido extremo. Em janeiro de 1670, a esposa de Filipe I, Henriqueta, convenceu o rei a aprisionar seu próprio amante. Então, o Cavaleiro de Lorena foi preso próximo à Lyon, e depois na ilha-fortaleza mediterrânea do Château d'If . 

Finalmente, ele foi banido para Roma. No entanto, em fevereiro daquele ano, os protestos e pedidos desesperados do apaixonado duque de Orléans convenceram o rei Luís XIV a resgatar o Cavaleiro, que voltou a fazer parte da comitiva real.

Após a morte de Henriqueta, em 1670, morta por envenenamento, suspeitas caíram sob o Cavaleiro de Lorena. A principal hipótese para explicar o caso é que amante teria orquestrado o homicídio da rival sem o envolvimento de Monsieur. 

A segunda esposa de Filipe I, Isabel Carlota do Palatinado / Crédito: Wikimedia Commons 

Novo matrimônio, velho amante 

Em novembro do ano seguinte (1671), Filipe I assinou o sagrado matrimônio com outra mulher, Isabel Carlota do Palatinado. Ainda assim, ele continuou um relacionamento com o seu fiel amante. 

Mais uma vez, o Cavaleiro de Lorena manteve rivalidade contra a nova esposa do amado. Porém, não se deu bem: em 1682, o nobre de Lorena foi exilado depois de ter sido acusado de seduzir o jovem Conde de Vermandois (filho de Luís XIV e Louise de La Vallière), com os seus subordinados.

Após ser julgado em tribunal, o cavaleiro foi acusado novamente, de outro escândalo: incentivar o casamento de Filipe II (filho de Filipe I) e a filha ilegítima do Rei Luís XIV, Françoise Marie de Bourbon. Acontece que a mãe do futuro noivo, Isabel Carlota do Palatinado, não gostou nada daquilo. 

Isabel Carlota odiava o Cavaleiro de Lorena, pois ele instigava o lado homossexual do marido dela, Filipe I. Acrediava-se que Monsieur era manipulado pelo amante. Em 8 de dezembro de 1702, o nobre de Lorena faleceu, possivelmente por AVC, um ano após a morte daquele que ele tanto amou.


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