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Matérias / Vang Gogh

Van Gogh: Há 135 anos o pintor decepava a própria orelha

Com uma saúde mental muito frágil, o renomado artista protagonizou um episódio emblemático e bastante misterioso no dia 23 de dezembro de 1888

Pamela Malva/ Atualizado por Fabio Previdelli Publicado em 16/09/2020, às 07h00 - Atualizado em 21/12/2023, às 13h11

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Autorretrato com Orelha Enfaixada, pintado por Van Gogh em 1889 - Domínio Público
Autorretrato com Orelha Enfaixada, pintado por Van Gogh em 1889 - Domínio Público

Mais famosas do que as obras de Vicent Van Gogh, talvez só as histórias e boatos sobre o pintor. Dono de um talento sem igual, ele também tinha uma saúde mental frágil e, segundo diversos historiadores, sofria com alguma doença psicológica.

Os surtos e transtornos do pintor, inclusive, foram usados para justificar dois dos episódios mais trágicos e emblemáticos da vida dele. Responsável por algumas das obras mais conhecidas da história da arte, ele chegou a atirar em si mesmo.

Autorretrato de Van Gogh pintado em 1887 / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Tão misteriosa quanto a própria condição mental do artista, a história sobre a orelha decepada de Van Gogh é outra grande incógnita. Apaixonada pela vida do grande pintor, então, a historiadora de arte Bernadette Murphy decidiu que encontraria a verdade sobre o episódio ocorrido em 23 de dezembro de 1888, há exatos 135 anos.

Pesquisas sem fim

Acompanhada pela equipe da BBC, a especialista não se contentava com a versão que falava apenas sobre os problemas psicológicos de Van Gogh. Assim, ela explorou cada detalhe do dia em que o pintor supostamente cortou a própria orelha.

Antes de procurar pelos motivos que levaram ao ato radical, Bernadette compreendeu que deveria descobrir se a orelha havia sido realmente decepada. Assim, desde 2010, ela partiu em busca de registros médicos e notícias da época.

Retrato de Vincent van Gogh em 1873 / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Não foi surpresa, contudo, descobrir que os documentos não levavam à qualquer resposta concreta. Preenchidos com alguns boatos, os textos contavam a mesma história, mas com alguns detalhes diferentes — a maior dúvida era sobre a própria orelha do pintor: ele teria decepado ela inteira, ou apenas o lóbulo?

Registros à próprio punho 

Foi buscando fontes mais confiáveis que Bernadette encontrou o nome de Félix Rey, o médico de Van Gogh que cuidou do pintor em seu último dia. Em uma carta ao biógrafo Irving Stone, o profissional registrou a verdade sobre a orelha do artista.

Datado de 18 de agosto de 1930, o documento mostrou a exata linha que Van Gogh usou como referência para decepar a própria orelha com uma navalha. Na cabeça, restou apenas um pedaço do lóbulo que escapou do corte desesperado.

'A Noite Estrelada', de Van Gogh/ Crédito: MoMA The Museum of Modern Art/Wikimedia Commons

Para a historiadora, então, já era claro: o pintor de 'A Noite Estrelada' removeu a orelha por completo em um corte que rompeu uma artéria, fazendo-o sangrar muito. Agora restava saber o que motivou a atitude tão drástica e violenta.

+ 'A Noite Estrelada': A instigante história por trás do icônico quadro de Van Gogh 

Um homem assombrado

Nascido na Holanda, Vincent Willem van Gogh chegou em Arles, na França, aos 35 anos — quando ainda era um artista desconhecido. Apaixonado pela cidade, ele pintava cores vibrantes e imaginava ter encontrado seu futuro da arte, mas não vendia um quadro sequer.

Apesar de frustrado, ele sabia que podia contar com seu irmão, Theo, e se inspirava no grande artista Paul Gauguin. Van Gogh, inclusive, sonhava com o dia em que Gauguin pintaria ao seu lado e até criou o quadro 'Os Girassóis' para decorar o quarto do ídolo.

A Casa Amarela, de 1888. Van Gogh usava o prédio como seu estúdio / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Os dois chegaram a se conhecer e até pintaram juntos, mantendo uma amizade consideravelmente próxima. Gauguin, no entanto, era um homem excêntrico que não aguentava os acessos de loucura de Van Gogh — para começo de conversa, ele só foi até Arles porque Theo teria lhe enviado uma comissão para tal.

Abandono e solidão

No dia 23 de dezembro de 1888, há 135 anos, a relação entre os dois artistas já estava abalada quando Gauguin chegou ao seu limite e resolveu deixar Van Gogh sozinho em seu estúdio. Na mesma tarde, o holandês recebeu uma notícia que o abalou.

Em um cartão postal, representado em um quadro pouco conhecido do pintor, Van Gogh teria sido notificado do casamento de Theo com Johanna Bonger. Para o artista, aquele poderia ser o fim de sua tão apreciada relação com o irmão.

+ Jo Bonger: A mulher responsável pelo reconhecimento de Van Gogh

Van Gogh sentiu-se sozinho, devastado, além de cercado por pinturas que ele não conseguia vender. Naquela noite, então, ele decepou a própria orelha, de cima a baixo, em um ato pouco lúcido, e levou o pedaço de sua carne para sua amiga Gaby — uma jovem faxineira que trabalhava em um bordel no dia da mutilação.

Ala no Hospital em Arles, pintado em 1889 / Crédito: Wikimedia Commons

O fim de um artista transtornado

No dia seguinte, às vésperas do Natal, Van Gogh foi encontrado em posição fetal na sua casa. Ele sangrava muito, mas ainda estava vivo. Foi apenas 18 meses mais tarde, após o episódio traumático, que o incrível pintor deu seu último suspiro.

Na noite do dia 29 de julho de 1890, Van Gogh voltou para o bordel onde estava morando. Aos funcionários, falou que teria atentado contra a própria vida — esse é mais um episódio questionado por historiadores.

Theo foi chamado, assim como Félix Rey, que tentou salvar o pintor. Van Gogh, contudo, não aguentou os ferimentos e faleceu no dia seguinte, sem nunca presenciar o próprio sucesso como um dos maiores pintores da história. "Talvez Deus tenha me feito pintor para aqueles que não nasceram ainda", disse certa vez, em tom de conformidade.