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Matérias / Brasil

Você decide: O controverso programa brasileiro onde a audiência escolhia o final

A produção exibida durante os anos 90 tocou em temas polêmicos, como traição, estupro e eutanásia

Ingredi Brunato, sob supervisão de Alana Sousa Publicado em 26/02/2021, às 07h00

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Imagem da vinheta do programa - Divulgação / Rede Globo
Imagem da vinheta do programa - Divulgação / Rede Globo

“Você decide” foi um programa interativo exibido pela TV Globo no período entre os anos de 1992 e 2000. Na produção, cada episódio trazia uma história diferente, sempre girando em torno de algum dilema. 

No fim, o caminho seguido pelo personagem era escolhido pela audiência, que votava através de ligações de telefone. Para tanto, eram sempre gravados dois finais — o que ia ao ar dependia do resultado das votações. 

O programa contava também com um apresentador para sua porção ao vivo, que tinha a função de estimular quem estava assistindo a votar, e também de anunciar qual havia sido o final escolhido, logo antes dele ser passado.  Esse papel começou sendo desempenhado por Antônio Fagundes, mas também foi ocupado posteriormente por Tony Ramos

Trecho do programa em que Tony Ramos estava apresentando / Crédito: Divulgação

Nesses 8 anos de duração, foram exibidos 323 episódios, não sem gerar muita polêmica durante o percurso, desafiando o telespectador brasileiro a refletir sobre suas noções de certo e errado. 

Proposta única 

Logo na estreia, Antônio explicou à audiência qual seria a proposta do Você Decide da seguinte forma: “O mundo está cheio de histórias. Histórias reais, histórias imaginadas... Mas existem algumas histórias especialmente polêmicas, onde fica difícil separar entre o correto e o errado. Entre o belo e o maldito. É dessas histórias que trata o nosso programa. Histórias sempre contadas no limite entre o certo e o incerto. No final, você decide”, afirmou. 

Fotografia de Antônio Fagundes nos dias atuais / Crédito: Wikimedia Commons

Segundo divulgado pelo site Teledramaturgia, a produção recebia cerca de 25 mil votos por semana, todavia o total de telespectadores ligando chegava a 100 mil — isso porque nem todos conseguiam ser atendidos. 

Inclusive, o “Almanaque da TV” documentou que a companhia de telefonia de São Paulo teria precisado aumentar sua capacidade de ligações por segundo para dar conta da quantidade de brasileiros usando as linhas telefônicas durante a exibição do Você Decide. 

Divisor de opiniões

Um episódio em particular acabou gerando mais repercussão que os demais por conta da decisão inesperada da audiência. Chamado de "Achados e Perdidos”, ele contava a história de um publicitário desempregado (interpretado por Diogo Vilela) que viajava para buscar trabalho quando conhece um senhor com uma maleta cheia de dinheiro. 

O senhor acaba infartando ao lado do personagem de Vilela, que tem a oportunidade de pegar a maleta. Em seguida, ele vive o seguinte dilema: Deve entregar o dinheiro para um orfanato, que é destino que seu dono original pretendia dar a ele, ou usar para resolver as dificuldades financeiras de sua própria família? 

Trechos do episódio / Crédito: Divulgação/ Youtube 

A audiência assistindo o programa da Globo acabou escolhendo a segunda opção, que recebeu cerca de 20 mil votos a mais em relação à primeira, gerando uma reação negativa de certas figuras públicas. 

Segundo relatado pelo Jornal do Brasil na época, “políticos de Brasília, em plena noite de votação do novo valor do salário mínimo, davam entrevistas indignadas contra a decisão popular [no episódio do Você Decide]". 

O próprio diretor do Você Decide, Paulo José, acabou manifestando-se a respeito das críticas dessa escolha considerada imoral: “Não se pode exigir valores de um colégio suíço a uma pessoa que tem dificuldades de comprar pão e leite. Estamos vivendo em um estado selvagem, onde as necessidades primárias prevalecem", afirmou ele, segundo relembrado por uma reportagem do Estadão em 2020. 

José ainda pontuou que a população havia sofrido recentemente nas mãos do Plano Collor, que congelou seus bens e colocou muitos em uma situação de instabilidade econômica.  

"Vivemos sendo assaltados por emendas e medidas econômicas. Vivemos uma crise de valores e a corrupção está estampada nas altas esferas do poder", disse o diretor ainda, completando que o programa não pretendia induzir a julgamentos, apenas refletir a respeito de situações. 

Controvérsias 

O Você Decide abordou diversos temas cercados de tabu em seus episódios, confrontando o Brasil dos anos 90 com dilemas como “Esse padre que ouviu uma confissão de assassinato deve denunciar o culpado?”, ou “Essa mulher que foi estuprada deve denunciar o crime que sofreu, ainda que possa sofrer ‘humilhações’ em sua vida pessoal?” (em ambos esses casos, a audiência escolheu as denúncias). 

Também é possível identificar posicionamentos interessantes da população da época dependendo das decisões feitas. Em um dado episódio, por exemplo, que se chamava “Morte em Vida”, foi possível escolher a desligada dos aparelhos de um bailarino que havia sofrido uma hemorragia cerebral, ou seja, a realização de uma eutanásia. A votação, todavia, decidiu que o dançarino deveria continuar sendo mantido vivo pelas máquinas. 

Em outro quadro do programa, chamado “Segredo de Família”, uma mulher descobriu que seu marido assassinara seu amante, e os telespectadores decidiram que ela não devia denunciá-lo, demonstrando uma grande valorização do casamento e da família. Diante da possibilidade de um abalo a essas instituições, foi considerado preferível manter uma relação com um cônjuge assassino.


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