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Matérias / Personagem

William Ellis: a história do ex-escravo que conquistou Wall Street

Fingindo ser um imigrante mexicano, o homem nascido no Texas tornou-se um rico banqueiro durante a Era Dourada dos EUA

Pamela Malva Publicado em 17/02/2021, às 18h00

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Fotografia de William Ellis em seu passaporte - Site oficial de William Henry Ellis
Fotografia de William Ellis em seu passaporte - Site oficial de William Henry Ellis

No dia 8 de abril de 1864, o Senado dos Estados Unidos aprovou a Décima Terceira Emenda da Constituição. Com ela, o país comandado por Abraham Lincoln colocaria um fim ao sistema escravocrata, legalizado nas Treze Colônias desde o século 18.

Em janeiro de 1865, a Câmara dos Representantes concordou com o documento, que acabou entrando em vigor apenas em dezembro daquele mesmo ano. Assim, a escravidão e o trabalho forçado tornaram-se proibidos no território norte-americano.

Foi nessa época, em meio ao processo de libertação dos escravos, que William Henry Ellis nasceu, em uma fazenda no Texas. Descendente de afro-americanos, contudo, ele nunca sentiu-se satisfeito com sua posição na sociedade e, assim, decidiu que mudaria de vida.

Fotografia de William Ellis / Crédito: Site oficial de William Henry Ellis

Um menino inteligente

Conhecido por suas amplas plantações, Joseph Weisiger era um patriarca branco de Kentucky, mas que tinha belas terras no Texas. Era no mesmo estado, inclusive, que ele mantinha uma enorme fazenda de algodão, lotada de trabalhadores e escravos.

Localizada na cidade de Victoria, a casa foi o lugar onde William Henry Ellis nasceu, em meados de 1864 — um ano antes, portanto, do fim da escravidão. Filho de escravos, o garoto cresceu na fazenda, trabalhando ao lado dos pais e dos colegas que fazia.

Nos campos, inclusive, ele conheceu diversos mexicanos e anglo-americanos que mudaram sua vida. Com eles, Ellis aprendeu a falar espanhol, a chave de sua futura liberdade e a passagem para uma vida melhor, com a qual ele sonhava desde pequeno.

Fazenda onde Ellis cresceu, hoje abandonada, no Texas / Crédito: Site oficial de William Henry Ellis

Um empreendedor de ponta

Durante a adolescência, Ellis, já fluente na língua hispânica, começou a trabalhar como tradutor particular de William McNamara. Nascido na Irlanda, o homem era um influente comerciante de algodão e couro, que trabalhava na fronteira com o México.

Quando atingiu a marca dos 20 anos, já livre da escravidão, o garoto texano decidiu tentar a sorte em uma cidade maior que a sua. Foi assim que Ellis se mudou para San Antonio, onde abriu uma loja de couro e algodão, como aprendeu com o antigo patrão.

Acontece que, sem qualquer documento para comprovar sua identidade, Ellis passou a assumir uma nova personalidade. Aos seus clientes, por exemplo, ele dizia se chamar Guillermo Enrique Eliseo, um mexicano que teria imigrado para os Estados Unidos.

Gravuras representando Ellis em em 1880 e em 1904, respectivamente / Crédito: Site oficial de William Henry Ellis

Mentiras com um objetivo

A nacionalidade mexicana, inclusive, não foi a única escolhida por Ellis para fugir de suas raízes na escravidão. Quando mudou-se para Nova York, por exemplo, o jovem também disse ser cubano e, mais tarde, fingiu ser havaiano, segundo a BBC.

Em entrevista a um jornal de Chicago realizada em 1891, Ellis explicou que as diversas identidades seriam uma forma de garantir seus direitos. “Sou obrigado a me passar por mexicano, a fim de obter os confortos básicos de um viajante branco”, contou.

Interpretando um homem estrangeiro, então, o empreendedor enriqueceu rapidamente durante a "Era Dourada" dos Estados Unidos. Na época, apesar das trágicas leis de segregação racial Jim Crow, a industrialização criou muitos milionários no país. E com o inteligente Guillermo Ellis, como era conhecido, não foi diferente.

Ellis em foto de família, em meados de 1890 / Crédito: Site oficial de William Henry Ellis

Riquezas e projetos

Em 1889, o comerciante decidiu dar início a um de seus projetos mais ambiciosos. A fim de transformar o México, a terra da liberdade, em uma casa para os necessitados, ele queria que o presidente Porfirio Díaz recebesse imigrantes e ex-escravos em seu país. O projeto, inclusive, chegou a ser implementado, mas acabou falhando duas vezes.

Com o passar dos anos, tendo sua identidade revelada algumas vezes, Ellis descobriu como fazer negócios em Nova York, em Wall Street. Com os contatos certos no México, então, o ex-escravo tornou-se um rico banqueiro que vivia no Central Park.

Documentos mostram que, nessa época, o homem era presidente de, pelo menos, sete empresas, sendo que algumas valiam milhões de dólares. Ellis ainda era dono da maior fábrica de móveis do México e representante de uma fabricante francesa de armas.

Fotoragia de Ellis em meados de 1900 / Crédito: Site oficial de William Henry Ellis

Um homem influente

Após enfrentar a Revolução Mexicana de 1910, liderar uma missão diplomática na Etiópia e ser investigado pelo FBI, Ellis tinha mais um plano econômico em mente. Em 1923, então, ele tentou reduzir tarifas de importação, mas sua saúde entrou no caminho.

Tendo burlado sistemas, conhecido Theodore Roosevelt e sobrevivido às rígidas leis de Jim Crow, Ellis morreu na Cidade do México, no dia 24 de setembro de 1923. Na imprensa norte-americana, o nome do empreendedor foi lembrado com carinho.

De toda sua fortuna arrecadada durante a vida, o rico banqueiro não deixou nenhum patrimônio para trás. Sua única herança — cerca de 5 mil dólares — foi entregue para sua esposa, Maude, a mulher de sua vida, com quem teve seis filhos.


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