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Matérias / Personagem

Zhang Hongbing, o soldado que denunciou a própria mãe por criticar Mao Zedong

Encarando os fantasmas da Revolução Cultural, Hongbing se arrepende e se culpa pela morte da mãe

Wallacy Ferrari Publicado em 26/09/2020, às 09h00

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Zhang junto de fotografia da mãe - Divulgação/YouTube/The Guardian/27.03.2013
Zhang junto de fotografia da mãe - Divulgação/YouTube/The Guardian/27.03.2013

Em abril de 1970, Zhang Hongbing era um guarda vermelho do governo de Mao Zedong com apenas 16 anos de idade. No auge da Revolução Cultural chinesa, diversos estudantes eram recrutados, percorrendo as ruas do país com livrinhos vermelhos e declarando guerra contra a cultura burguesa, aos adeptos do capitalismo e, principalmente, aos intelectuais.

Zhang não tinha problemas em defender os mesmos ideais, visto que recebia, desde a infância, uma educação ortodoxa como plano nacional para as escolas, enaltecendo o partido e afastando o apreço pelos valores familiares. Tais ideais chegaram a motivar o rapaz a mudar seu nome para Tiefu (soldado vermelho, em tradução livre) com apenas 14 anos de idade.

O desligamento da família foi ainda mais eminente pelo fato de que o pai, Zhang Yuesheng, já havia entrado e confronto com a Guarda Vermelha anos antes, sendo reprimido.

Segundo o The Guardian, em nota de 2013, a irmã mais velha era a mais próxima do irmão, visto que havia recebido a mesma educação, mas morreu aos 14 anos, em 1966, após contrair meningite durante uma visita a Pequim para ouvir um discurso de Mao.

Hongbing segura fotografia da mãe em álbum de família / Crédito: Divulgação/YouTube/The Guardian/27.03.2013

Partido acima da família

Os episódios trágicos durante a adolescência de Hongbing foram suficientes para sua mãe observar uma família desestruturada, que passou a atribuir a Revolução Cultural como o fator que destruiu laços.

Trabalhando em jornadas longas e abusivas no Hospital Popular Huaiyuan durante dez anos, o descontentamento da funcionária era constante ao chegar em casa e ver propagandas de Mao por todas os cômodos.

Em uma dessas ocasiões, decidiu que rasgaria as fotografias e pôsteres do Partido Comunista. “Quando minha mãe disse que duvidava do presidente Mao, ela não era mais minha mãe. Ela se tornou uma inimiga de classe, como um monstro com presas”, afirmou Hongbing em entrevista ao Irish Times, em 2013. A ameaça ao ato foi suficiente para o filho escrever um relatório e denunciar a mãe, fazendo com que as autoridades comparecessem horas depois.

Com medo, ela se trancou no quarto, todavia, teve a porta arrombada por guardas, que ordenaram seu espancamento pelas mãos do próprio filho, que cumpriu as ordens. Após ser levada, passou por um julgamento coletivo dias depois, que a considerou culpada por “atacar o presidente”, sendo executada dias após a sentença.

Hongbing visita o túmulo da mãe  / Crédito: Divulgação/YouTube/The Guardian/27.03.2013

Arrependimento familiar

Yuesheng fez questão de se divorciar antes da execução para evitar problemas de registro, mas o filho não fez questão de assistir o fuzilamento. Do contrário, deixou de lado o fanatismo junto ao fim do período de Revolução Cultural — que perdurou por dez anos.

Tirou de saldo apenas um país cujo jovens manifestavam desestruturação familiar com a filosofia de destruir os chamados “quatro velhos”, catalogados como os antigos pensamentos, antigas culturas, antigos costumes e antigos hábitos.

"Minha mãe, meu pai e eu fomos devorados pela Revolução Cultural", disse Zhang em entrevista ao The Guardian em 2013. "Foi uma catástrofe sofrida pela nação chinesa. Devemos nos lembrar dessa dolorosa lição histórica e nunca deixar que aconteça novamente."

O corpo fuzilado da mãe voltou aos braços do filho com o fim do período — visto que era o único vivo em laço parental após a separação do pai — que a enterrou no quintal de casa, manifestando arrependimento pela denúncia.

Hongbing faz visitas diárias a lápide da figura materna e busca uma revisão dos registros históricos do condado que vive, de maneira que o túmulo da mãe de torne um patrimônio cultural tombado.

De acordo com o ex-soldado, a memória de ter trocado a família por uma ideologia política o atormenta, mas deve ser propagada como uma verdade histórica: “Acho que devo usar o caso injusto de minha mãe para lembrar às pessoas que não devemos esquecer a história e devemos aprender nossa lição para evitar uma repetição da Revolução Cultural”.


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