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Vitrine / Personagem

Da incansável busca pelo filho a execução por militares: os momentos finais de Zuzu Angel

Segundo relatórios da Comissão da Verdade e Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos, a estilista teria sido morta por agentes da repressão

Victória Gearini Publicado em 08/07/2020, às 14h44

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Zuzu Angel, estilista e militante - Wikimedia Commons
Zuzu Angel, estilista e militante - Wikimedia Commons

Zuleika de Souza Netto, mais conhecida como Zuzu Angel, foi uma grande estilista brasileira, que teve a sua vida interrompida durante o período da ditadura militar no país.

Sua história foi amplamente divulgada pela mídia e ficou conhecida internacionalmente, não só pelo fato de seu trabalho ser inovador no ramo da moda, mas também pela procura incansável pelo seu filho, opositor do regime militar, que foi assassinado a mando do governo.  

Entre o fim da década de 60 e início dos anos 70, Stuart Jones, filho de Zuzu, passou a integrar ao MR-8, um grupo guerrilheiro de ideologia socialista formado no Rio de Janeiro. Na época, o jovem cursava Economia, quando foi preso no dia 14 de abril de 1971.

Stuart foi torturado e brutalmente assassinado pelo Centro de Informações da Aeronáutica (CISA) no aeroporto do Galeão e posteriormente foi dado como desaparecido pelas autoridades.

A partir disso, Angel passou a procurar incansavelmente pelo corpo de seu filho, traçando uma guerra contra o regime militar. Como estilista, utilizou a moda como forma de denunciar para o mundo as atrocidades cometidas pelos militares. Zuzu criou uma coleção estampada com manchas vermelhas e pássaros engaiolados. Já o anjo sendo torturado em suas estampas, representava a memória de seu filho. 

Em setembro de 1971, a estilista organizou um desfile-protesto no consulado do Brasil, em Nova York. Pouco tempo depois, Zuzu concedeu entrevistas internacionais denunciando o regime autoritário que havia se estabelecido no Brasil.

Com grande notoriedade, a estilista envolveu grandes nomes de Hollywood em sua causa, como Joan Crawford, Liza Minelli e Kim Novak. Além disso, suas roupas passaram a ser vendidas em lojas renomadas como Bergdorf Goodman, Saks, Lord & Taylor, Henry Bendell e Neiman Marcus. 

Zuzu Angel, estilista brasileira / Crédito: Wikimedia Commons

Após protestar na mídia e organizar coleções que denunciavam a ditadura militar, Zuzu Angel conseguiu fazer a história de seu filho chegar ao Senado dos Estados Unidos, por meio de um discurso do senador Edward Kennedy. Na ocasião, a ativista alegou que militares brasileiros estavam matando jovens estudantes e mantendo outros como prisioneiros. 

A luta final

A procura de Zuzu pelo corpo de seu filho e a incansável busca por justiça se mantiveram ativas até os seus últimos dias de vida. Durante a madrugada do dia 14 de abril de 1976, a estilista sofreu um grave acidente de carro na Estrada da Gávea, à saída do Túnel Dois Irmãos (Estrada Lagoa-Barra), no Rio de Janeiro — hoje batizado com seu nome. 

Segundo a perícia, o carro dirigido por ela, do modelo Karmann Ghia TC, teria derrapado na saída do túnel. Após sair da pista, o veículo teria se chocado contra uma mureta de proteção, capotando e caindo na estrada abaixo. Zuzu Angel morreu na hora e seu corpo foi sepultado no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.

No entanto, um dos maiores fatos intrigantes foi a carta que a estilista deixou para Chico Buarque de Hollanda, uma semana antes do acidente. "Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho", escreveu Zuzu no documento enviado ao amigo. 

Zuzu Angel e ao lado de seus filhos Stuart, Hildegard e Ana Cristina / Crédito: Divulgação / Instituto Zuzu Angel

Em 1998, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos julgou o caso e reconheceu que a estilista morreu em decorrência da perseguição militar. No relatório final publicado em 2007, a Comissão inseriu depoimentos de duas testemunhas oculares, que alegaram terem visto o carro de Zuzu ter sido fechado por outro veículo, que a jogou para fora da pista. 

Em 2014, Cláudio Antônio Guerra, ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social do Espírito Santo (DOPS) escreveu a obra Memórias de uma Guerra Suja, onde revelou ter participado de inúmeros assassinatos e conspirações, entre eles a morte de Zuzu Angel, o Atentado do Riocentro, a morte do delegado Sérgio Fleury, e atentados à bomba contra a sede da OAB e de veículos jornalísticos. 

O ex-agente da repressão disse, ainda, que o falecido coronel do Exército, Freddie Perdigão Pereira, teria participado da morte de Zuzu Angel. Após o ocorrido, o jornal O Globo divulgou uma imagem da cena do acidente, onde aparece um homem que não havia sido identificado até então.

No entanto, segundo Guerra, o homem presente na imagem trata-se de Perdigão. Para Comissão da Verdade, esta declaração e documento são suficientes para comprovar o envolvimento de militares na morte de Zuzu Angel.


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