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Vitrine / Literatura

Um homem em sete décadas: autobiografia mescla vida de autor brasileiro a fatos históricos

Gastura: rastreando as profundezas da mente, do escritor Fernando Machado intercala experiências pessoais e momentos emblemáticos

Victória Gearini Publicado em 15/05/2020, às 17h50

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Capa da obra Gastura, de Fernando Machado - Divulgação / Editora Viseu
Capa da obra Gastura, de Fernando Machado - Divulgação / Editora Viseu

É no cenário da grande São Paulo da década de 50 que o escritor Fernando Machado constrói a narrativa Gastura: rastreando as profundezas da mente. A partir de suas memórias cotidianas, o autor reconstrói fatos históricos que marcaram a construção da cidade, entre eles os principais episódios políticos, sociais, culturais e esportivos ao longo de sete décadas.

Lançada em 2019 pela Editora Viseu, esta obra parte do ponto vista de Fernando Machado, a partir dos primeiros anos em que viveu no bairro da Vila Mariana. Formado em engenheira civil, atualmente encontra-se aposentado, usando o tempo livre para dedicar-se a escrita e a arte, espaço que ele denomina como multicultural. 

Engenheiro civil aposentado e escritor Fernando Machado / Crédito: Divulgação / Editora Viseu

Atualmente é quase impossível imaginar um cenário onde o Parque Ibirapuera não exista ou que o bonde seja um dos transportes públicos mais utilizados na cidade. É neste período histórico que o autor resgata suas memórias mais profundas, apresentando o Cine Leblon e os circos como as principais fontes de entretenimento da década de 50, uma vez que a televisão ainda não havia sido popularizada. 

“No dia da partida final (Copa de 1958), meu pai nos preparou uma surpresa: colocou no jardim, perto do chorão social, um equipamento inusitado: móvel baixo e comprido, com três repartições, rádio, toca discos 78 rpm e alto-falante. Era chamado de hi-fi, aparelho de rádio e vitrola valvulado com som em alta fidelidade; nessa época, ainda não havia televisores. A família toda, tios, primos e vários amigos ficavam sentados na grama do jardim de casa para ouvir o jogo, bebendo cerveja e caipirinha. Meu pai era tolerante com um pouco de bebida alcoólica para os garotos; a cada gol, havia gritaria e fogos. E foram cinco!”, trecho retirado da página 32.

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 Gastura: rastreando as profundezas da mente (2019) / Crédito: Divulgação / Editora Viseu

Além da final da Copa de 1958, esta obra mescla outros acontecimentos da vida do autor com episódios emblemáticos no Brasil e no mundo, como por exemplo, a morte de Getúlio Vargas, o assassinato de John Kennedy, a Guerra do Vietnã e a viagem do primeiro homem ao espaço. Esta autobiografia constitui, portanto, uma linha do tempo detalhada dos principais eventos que impactaram a humanidade. 

Aos 75 anos, Fernando Machado compartilha com o leitor as suas visões sobre o passado, de forma que revela sentimentos genuínos e experiências únicas. Segundo o autor, este processo de amadurecimento e autoconhecimento se deu durante o seu tratamento contra o alcoolismo, sendo de extrema importância para a sua recuperação. 

“A minha vida particular social-alcoólica estava provocando dissabores cada vez maiores, pois estava bebendo muito e metendo-me em uma série interminável de acidentes de carro. Numa época sem bafômetro, nem radar, a velocidade máxima permitida era sistematicamente desprezada. Além disso, vez ou outra ocorriam episódios deploráveis, no fim das noites; alguns inconfessáveis, outros perdidos na amnésia alcoólica, blecaute que causa incapacidade de lembrança de fragmentos ou de eventos inteiros do período de embriaguez da noite anterior. Apagão!”, trecho retirado da página 153.

Disponível na Amazon, em geral, a obra aborda temas ligados às emoções humanas, como a felicidade, o sofrimento, os sonhos e os desafios. A forma como autor encara a simplicidade da vida é o que torna esta autobiografia tão memorável. Portanto, o termo gastura refere-se ao o que incomoda e machuca, sendo impossíveis de serem apagadas da memória, mas que podem se transformar e eternizar no decorrer do tempo.


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