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Albino Friaça: ressaca da Copa de 1950

Jogador que fez um gol na final relembra a derrota para o Uruguai

Flávia Ribeiro Publicado em 01/06/2006, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

Quem pensa que a eliminação do Brasil na Copa da Alemanha, este ano, foi uma tragédia não sabe o que foi viver a derrota para o Uruguai, na final do mundial de 1950. Albino Friaça Cardoso, 81 anos, sabe - e sente as marcas da derrota na pele até hoje, 56 anos depois. Foi ele o responsável pela louca alegria que invadiu o Maracanã logo no primeiro minuto do segundo tempo da final, no dia 16 de julho, quando marcou 1 a 0 sobre o Uruguai. Mas, minutos depois, um "silêncio monumental", como disse o escritor Nelson Rodrigues, tomou o estádio - Schiaffino empatou o jogo e Gigghia virou, selando a vitória uruguaia por 2 a 1. Os jogadores desceram dos pedestais para viver um drama que os acompanhou por toda a vida. Um dos últimos titulares vivos, Friaça mora em sua cidade natal, Porciúncula, no noroeste do estado do Rio de Janeiro, onde tem uma loja de material de construção. Quando fala do mundial de 1950, repete: "Foi um fardo. Um fardo que carrego até hoje". Leia abaixo os principais trechos da entrevista exclusiva que ele concedeu a História.

Entrevista

História - Como foi seu gol na Copa?

Peguei a bola na intermediária, passei pelo lateral-esquerdo e chutei da entrada da área. Tinha uma pancada forte, dei com toda força na Leonor. Quando vi que tinha feito o gol, um radialista pulou em cima de mim (o locutor César de Alencar). Foi uma alegria. Era como se fôssemos deuses.

Leonor era a bola?

Sempre chamei a bola de Leonor. A torcida gostava de mim porque eu sabia o que fazia com ela, o tapa na bola era firme.

E quando o Uruguai virou o jogo?

Até hoje eles "doem" em cima daquilo. Como é que o Brasil perdeu aquele jogo? Não sei. Mas foi um fardo muito pesado para nós. É um fardo para mim até hoje.

Havia um clima de "já ganhou"?

Não. A gente entrava em campo para ganhar, ninguém pensava em perder. Mas a gente jogava sério, era sem oba-oba.

Foi preciso perder em 1950 para ganhar em 1958, para amadurecer?

Não precisava nada, nós tínhamos que ter ganho. O Brasil tem que ganhar sempre.

O senhor ainda acompanha futebol?

Não perco um jogo do Vasco nem da seleção pela TV. Esses eu gosto de ver.

Dizem que o Obdúlio Varella deu um tapa no Bigode na final da Copa de 50. Isso foi verdade?

Não, essa história não aconteceu. Eu estava lá e vi tudo, teve uma confusão, mas não teve tapa. Hoje em dia é tudo diferente. Os jogadores não têm amor à camisa. Eu ficava com a minha sempre por perto, tinha em casa. Ela estava sempre lavada, passada, porque era um prazer levá-la comigo aonde eu ia. A gente chorava, gemia, mas não entregava os pontos num jogo.

O senhor ganhou dinheiro?

Ganhei. Tenho minha casa, minha loja. Não tenho do que reclamar. Mas não era esse dinheiro que os jogadores de hoje ganham, não. Era bem menos. E não ganhei os prêmios que me prometeram.

Os prêmios para o jogador que fizesse gol na final da Copa?

É, era um terreno, eu queria criar cabritos nele. E uma televisão também. Fiz o gol, fui cobrar depois, mas não ganhei nada. Do terreno só me deram couves (risos). Estou esperando meus prêmios até hoje.