Livro de Gabriel García Márquez, que 'deveria ser destruído', é publicado

Há duas décadas, Gabriel García Márquez, escritor falecido em 2014, publicou seu último romance em vida. Porém, o legado do ilustre autor colombiano continuou a se desenvolver. Isso porque uma obra inacabada, composta por até cinco rascunhos nos quais o laureado com o Prêmio Nobel de Literatura trabalhou nos últimos anos de sua vida, permaneceu arquivada em sua coleção pessoal na Universidade do Texas.

No dia em que García Márquez completaria 97 anos, última quarta-feira, 6, seus filhos, Rodrigo e Gonzalo García, decidiram publicar o romance, intitulado "Em Agosto nos Vemos". Entretanto, como reconhecem na introdução do livro, seu pai não desejava que a obra visse a luz do dia. "Este livro não funciona", recordam seus filhos de ele ter dito antes de sua morte. "Deve ser destruído."

Embora os filhos de García Márquez admitam que a publicação foi uma "traição", Gonzalo afirmou em uma coletiva de imprensa na terça-feira, 5, que nenhum acréscimo foi feito aos múltiplos rascunhos deixados por seu pai.

"O romance estava um pouco disperso, mas completo", disse ele, segundo a CNN. "Não é tão polido quanto seus maiores livros", prosseguiu Rodrigo. “Mas, como dizemos no prólogo, definitivamente tem muitas de [suas] características marcantes: bela prosa, conhecimento do ser humano, poder de descrição.”

Acometido pela demência

García Márquez trabalhou no romance por vários anos até ser acometido pela demência. A perda de memória, segundo os filhos, teria minado sua confiança no trabalho.

"Ele nunca guardou livros inéditos", explicou Rodrigo. “Todo livro que ele não terminou e com o qual não ficou satisfeito foi destruído. Então, o fato de ele não ter destruído esse livro, eu acho, também é um sinal de que ficou um pouco indecifrável para ele."

"Em Agosto nos Vemos" se passa em uma localidade caribenha não especificada, acompanhando a protagonista Ana Magdalena Bach em sua viagem anual à ilha onde sua mãe está sepultada. A cada ano, enquanto está lá, ela “por uma noite arruma um novo amante”, conforme descrito pela editora Penguin Random House, que descreve o romance como uma “meditação profunda sobre liberdade, arrependimento, autotransformação e os mistérios do amor.”