Militantes do Estado Islâmico na Síria - Reprodução

As origens do terrorismo islâmico

Uma suposta obra de caridade egípcia é a raiz do radicalismo atual

Wagner Barreira e Fábio Marton Publicado em 09/04/2017, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h35

Desde o atentado às torres do World Trade Center, há 16 anos, ninguém parou mais de falar em fundamentalismo islâmico. Não é à toa: o número de atentados se multiplicou por dez desde então, em grande parte inspirado pela ação da Al Qaeda e a vingança pela muitas vezes discutível reação reação ocidental.  

Mas o radicalismo em nome de Alá começou muitos anos antes de as Torres Gêmeas terem sido erguidas. Foi na cidade egípcia de Ismailia, quando o acadêmico e professor Hassan al-Banna e mais 6 operários do Canal de Suez fundaram a Irmandade Muçulmana (IM), em março de 1928. "É da natureza do Islã dominar, e não ser dominado, impor suas leis sobre todas as nações e estender seu poder a todo o planeta", dizia Al-Banna.

O grupo cresceu rápido. Nos anos 1950, tinha 1 milhão de seguidores, num país com 18 milhões de habitantes. Entre os objetivos da Irmandade estavam a construção de escolas e hospitais. Mas havia outra agenda, que justificava o envio de militantes à Palestina do pós-guerra para combater o recém-criado Estado de Israel e o assassinato de autoridades egípcias. "Deus é nosso objetivo; o Alcorão, nossa Constituição, o Profeta (Maomé) é nosso líder; a Jihad (guerra santa) é nosso caminho e morrer pela glória de Deus é a maior de nossas aspirações." Era esse o lema da Irmandade.

E ele foi seguido ao pé da letra. Al-Banna foi assassinado em 1949 e o controle da IM caiu em mãos de radicais. Em janeiro de 1952, em retaliação a um ataque de forças britânicas a um quartel da polícia, a Irmandade coordenou um assalto ao Quarteirão Europeu do Cairo, que destruiu tudo que lembrava o Ocidente na cidade. Mais de 750 prédios ficaram em ruínas, e 20 mil pessoas, sem abrigo. "O Cairo cosmopolita estava morto", registra o jornalista Lawrence Wright em O Vulto das Torres. No mesmo ano, o general Gamal Abdel Nasser, com o apoio da IM, derrubou o rei Faruk. A questão é que Nasser era um nacionalista, não um defensor de um governo islâmico, e passou a reprimir o grupo.

No ano da morte de Al-Banna, o professor Sayyid Qutb, seu futuro sucessor, vivia nos EUA. E ele não gostou do que viu por lá. Uma de suas conclusões: o sexo é inimigo da salvação. "No início dos anos 1960, Qutb pregava uma guerra total contra todos os que não apoiassem as ideias do grupo", diz a historidora Isabelle Christine Somma de Castro, que estuda a Sociedade dos Irmãos Muçulmanos, o nome oficial da IM. Qutb foi enforcado em 1966. Um dos integrantes da Irmandade nessa época era o médico Ayman al-Zawahiri, de uma família de classe média alta egípcia. Para escapar da repressão do governo, ele buscou refúgio na Arábia Saudita. Ligou-se à Al-Qaeda e hoje, depois da morte de Osama bin-Laden, em 2 de maio de 2011, tornou-se seu líder. 

Cinco anos depois, Zawahiri continua ser o líder da Al-Qaeda - o grupo perdeu espaço na imprensa para o Estado Islâmico, que brotou da Al-Qaeda do Iraque, mas continua muito ativo na internet. Sua revista online Inspire é lida por fanáticos do mundo todo. 

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