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Grécia Antiga

Por que Sócrates odiava a democracia?

O fundador da filosofia aparece nos Diálogos como um opositor ao sistema democrático, assim como era Platão e Aristóteles

André Nogueira Publicado em 21/08/2019, às 09h00

Um dos maiores nomes da filosofia, por ser seu grande fundador, era abertamente crítico ao sistema democrático colegiado. Sócrates, cujo seus pensamentos conhecemos principalmente pela obra de Platão, defendia que a democracia estava fadada à derrota – porém, também não defendia os tiranos que governavam antes. 

A democracia

Dentro da lógica autônoma regional, uma das que seriam as maiores pólis gregas, Atenas, desenvolveu um regime chamado democracia, em que os considerados cidadãos (homens livres nascidos na cidade, ou seja, 30%, no máximo, da população) possuíam direito a voto e à elegibilidade.

Este regime, que se iniciou no século 5 a.C; teve como pais fundadores Drácon e Sólon, dois legisladores eupátridas que fundamentaram uma Atenas racionalizada, livre dos tiranos e oligarcas e baseada em leis. E, por muito tempo, foi esse sistema dinâmico e aberto que permitiu que Atenas se tornasse a potência que foi durante sua Era de Ouro.

Ágora ateniense, palco das discussões políticas / Crédito: Wikimedia Commons

 

Porém, após tal era, cujo maior nome foi Péricles, iniciou-se o declínio das instituições democráticas em Atenas. Este é o momento histórico em que vive Sócrates, conhecido como crise da Democracia Grega.

Além do desgaste dessa forma política no interior da pólis, que seria considerado também por Aristóteles (outro crítico da democracia), a vida de Sócrates foi marcada pela Guerra do Peloponeso, na qual Esparta destruiu Atenas e assumiu a hegemonia no interior da Grécia e a estabilidade política da cidade.

Visão socrática

O principal debate traçado por Sócrates sobre a democracia aparece nos escritos de seu pupilo, Platão. Além dos Diálogos, a obra A República traz uma elucidação da visão política do mestre. Num intermédio do diálogo entre Sócrates e Glauco, o primeiro vira-se a Adimanto para questioná-lo, metaforicamente, sobre um navio. Sócrates pensou: quem seria o melhor para conduzir o barco: um estudado especialista em náutica ou um corsário qualquer conhecido e admirado pela tribulação?

Para Sócrates, essa é a metáfora precisa da Atenas democrática. Enquanto os diversos cidadãos tiverem como parâmetro a eleição de um homem qualquer que lhes é caro, antes de considerar a necessidade de dar poder àquele que o melhor usaria, a democracia seria falha (ou seja, o navio mal conduzida). Com isso, o filósofo conclui que o voto, além de uma ação, é uma habilidade que precisa ser ensinada.

Ou seja, em sua visão, o sistema político colegiado não deveria permitir que qualquer um votasse e que ficasse nisso, mas teria que ser diretamente acompanhado por um sistema de educação que elucidasse o campo filosófico da política e da ética e ensinasse a prática do voto. Com isso, ele se aproxima da proposta de Platão para a política, conhecida como uma República dos Reis Filósofos.

O pensamento de Sócrates era sectário, mas não era o que tradicionalmente entendemos como elitismo. Isso porque sua proposta não cria uma classe interna aos cidadãos que poderia ser elegível em detrimento do resto, mas defende que o direito ao voto deveria ser uma aptidão cuja conquista viria apenas com o estudo.

Sócrates é condenado à morte / Crédito: Reprodução

 

Conceitualmente, seu pensamento é enquadrado como uma Democracia Intelectual. Para Platão, a teoria socrática da inaptidão do colegiado foi posta a prova no julgamento de Sócrates pelo corrompimento dos jovens atenienses (afinal, ele era um questionador).

Diante de 500 atenienses, Sócrates foi considerado culpado (por uma curta margem na votação) e condenado à morte por cicuta. Sócrates não corrompeu os jovens, apenas os indagou seu método e polemizou sobre as instituições políticas e religiosas de Atenas. Mas, pelo método do voto, foi injustiçado.

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