A pintura com foco na pessoa central do quadro - Divulgação/ Hajotthu/ Wikimedia Commons
Pintura

O que essa jovem segura nas mãos neste quadro de 1860?

Detalhe em pintura do século 19 pode causar estranhamento em espectadores modernos

Ingredi Brunato Publicado em 30/05/2023, às 17h03 - Atualizado em 03/11/2023, às 09h51

"O Esperado" é um belo quadro pintado pelo artista austríaco Ferdinand Georg Waldmüller em 1860. A obra retrata uma singela cena ambientada no campo: uma jovem andando por um bosque está prestes a ser surpreendida por um menino. Escondido mais adiante no caminho, ele segura uma flor cor-de-rosa em sua mão, provavelmente planejando se declarar para ela de alguma forma. 

Conforme repercutido pelo site do "Die Pinakotheken" ("Antiga Pinacoteca", em português) que é um importante museu alemão localizado na cidade de Munique e atual proprietário da obra de arte, trata-se de uma pintura que brinca com o elemento da expectativa. 

E não apenas por conta da figura do jovem, que aguarda em expectativa para surpreender sua amada, mas também por conta do próprio espectador que, frente a essa cena congelada de espera, pode apenas imaginar o que aconteceria em seguida. 

O espectador se torna uma testemunha da cena expectante. A garota retornará os sentimentos do garoto?", reflete a descrição disponível no site. 

Por mais interessante que seja o conceito do quadro, no entanto, não é essa sua característica que mais chama a atenção de um observador contemporâneo, mas sim o objeto entre as mãos da menina, que é muito semelhante a um celular — uma tecnologia que, como não é preciso enfatizar, definitivamente não existia no século 19. 

Ilusão de ótica 

Como explicado pelo próprio portal da "Die Pinakotheken", porém, a jovem retratada por Ferdinand Georg Waldmüller não estaria mexendo em um celular, como sugerem teorias da conspiração, e sim lendo os versos de um pequeno livro.

Pintura representando Ferdinand Georg Waldmüller / Crédito: Domínio Público

 

Mais especificamente, o item representado seria um hinário, que é uma coletânea de canções (em geral, de teor religioso). O contexto que podemos não perceber vendo a pintura hoje é que ambos os jovens estariam vestidos com "roupas de domingo", de forma que pode-se assumir que a menina está naquele momento a caminho da Igreja. 

Em um dia de verão, um menino com rosas espera por seu amor na sombra da floresta. Vindo de campos ondulados exuberantes, a garota se aproxima da borda isolada da floresta. Ambos usam suas roupas de domingo. Enquanto o menino olha para ela com esperança, a menina de rosto florido contempla seu hinário", explica o site da galeria de Munique. 

A importância do contexto

O detalhe curioso foi mencionado à redação da Vice, que é um jornal canadense-americano, por um homem alemão que viu o quadro pessoalmente.

Chamado de Peter Russell, o oficial de governo aposentado se mostrou fascinado com a maneira como as pinceladas podem ser encaradas de forma tão diferente de sua intenção original frente a um observador que pertence a uma época e sociedade diferentes daquela onde a obra de arte foi criada. 

O que mais me impressiona é o quanto uma mudança na tecnologia mudou a interpretação da pintura e, de certa forma, alavancou todo o seu contexto (...) A grande mudança é que, em 1860, qualquer espectador teria identificado o item em que a garota está absorvida como um hinário ou livro de orações. Hoje, ninguém poderia deixar de ver a semelhança com a cena de uma adolescente absorta nas mídias sociais em seu smartphone", apontou ele. 
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