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Notícias / Religião

Como ‘capítulo perdido’ de 1.500 anos pode ajudar entender primórdios da Bíblia

'Capítulo perdido', correspondente a passagens de Mateus do Novo Testamento, foi encontrado em texto guardado na Biblioteca do Vaticano

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 12/04/2023, às 14h33

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Imagem ilustrativa - Pixabay
Imagem ilustrativa - Pixabay

Um 'capítulo perdido' de um texto bíblico de 1.500 anos pode lançar uma nova luz sobre como os textos religiosos mudaram ao longo dos anos. A escrita descoberta na antiga língua siríaca corresponde a passagens de Mateus 11-12 do Novo Testamento

O texto, que pode dar mais detalhes das mudanças do padrão do Evangelho para a linguagem mais atual, foi encontrado por cientistas que investigaram um antigo manuscrito com luz ultravioleta. O texto analisado continha antigas histórias cristãs e hinos que estavam guardados na Biblioteca do Vaticano

Segundo o Daily Mail, o 'capítulo perdido' havia sido raspado do antigo pergaminho, o que era uma prática comum para que um novo texto pudesse ser escrito. A escrita deixou vestígios detectáveis pela luz ultravioleta. 

Texto onde foi encontrado o 'capítulo perdido'/ Crédito: Divulgação/ Biblioteca do Vaticano

De acordo com o doutor Garrick Allen, professor sênior de estudos do Novo Testamento na Universidade de Glasgow, a descoberta fornece uma nova visão sobre as primeiras traduções bíblicas

“Esta descoberta é altamente interessante, mas não é inovadora isoladamente, principalmente porque o texto recém-identificado é apenas partes fragmentárias de Mateus 11-12”, apontou. 

"A tradução siríaca da Bíblia é importante por conta própria como uma das primeiras traduções do grego", continua. "Isso nos dá uma visão sobre os primeiros estágios do texto da Bíblia e as comunidades que produziram essas traduções". 

Hugh Houghton, professor do Departamento de Teologia e Religião da Universidade de Birmingham, classificou o 'capítulo perdido' de uma "descoberta genuína e importante".

"Até alguns anos atrás, conhecíamos apenas duas testemunhas manuscritas da tradução siríaca antiga dos evangelhos e agora temos quatro", disse ao Daily Mail. "O valor das primeiras traduções é que elas foram feitas de manuscritos gregos que não sobrevivem mais e podem fornecer algumas das primeiras evidências para leituras particulares". 

Dado como poucos manuscritos sobrevivem desde os primeiros séculos, todas as peças são bem-vindas na reconstrução do quebra-cabeça da história do texto", completou.  

A descoberta

O 'capítulo perdido' foi encontrado por Grigory Kessel, da Academia Austríaca de Ciências. A tradução do texto ainda não foi compartilhada, entretanto, já se sabe detalhes do texto encontrado. 

Enquanto na versão grega o capítulo 12 de Mateus diz em um versículo: "Naquele tempo, Jesus passou pelos campos de trigo no sábado e seus discípulos ficaram com fome e começaram a colher espigas e comer"; a tradução siríaca detalha: "[...] começou a colher as espigas, esfregá-las nas mãos e comê-las". 

Além disso, descobriu-se que o texto original foi escrito por volta do século 3, mas foi apagado por um escriba (pessoa empregada antes da invenção da impressão para fazer cópias de documentos) na Palestina. 

A prática de 'apagar' textos era comum na época, visto que o 'papel' era feito de pele de animal, material que era escasso, portanto, que precisava ser reaproveitado. Desta forma, escrever sobre um texto raspado criava os chamados palimpsestos, ou seja, manuscritos com múltiplas camadas de escrita. 

"O texto do Evangelho está oculto no sentido de que a cópia em pergaminho do início do século 6 do Livro dos Evangelhos foi reutilizada duas vezes e hoje, na mesma página, pode-se encontrar três camadas de escrita [siríaco, grego e georgiano]", explica Grigory Kessel. As descobertas foram publicadas na revista New Testament Studies.