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Matérias / Espaguetificação

Espaguetificação: Entenda o curioso fenômeno capaz de fazer estrelas 'virarem espaguete'

Em 2020, os astrônomos viram uma estrela ser espaguetificada após passar na vizinhança de um dos objetos mais poderosos do Universo

Ingredi Brunato Publicado em 17/05/2023, às 16h01

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Ilustração de estrela sendo espaguetificada - Divulgação/ ESO/M. Kornmesser
Ilustração de estrela sendo espaguetificada - Divulgação/ ESO/M. Kornmesser

"Espaguetificação" é um curioso termo da astronomia que, embora soe como algo divertido, é, na verdade, algo que descreve uma das consequências de um dos mais brutais eventos cósmicos que podem ocorrer no Universo.

Os ingredientes para esse fenômeno astronômico consistem de um corpo qualquer detentor de massa e um buraco negro. Basta que os dois se aproximem o suficiente para que o primeiro esteja no inescapável campo gravitacional do segundo. 

O acontecimento é raríssimo de ser observado, no entanto, em 2020, uma equipe de astrônomos publicou um artigo em que descrevem o registro que fizeram da espaguetificação de uma estrela. Entenda! 

Encontro com uma singularidade 

Ilustração representando buraco negro / Crédito: Divulgação/ESA/HUBBLE/DIGITIZED SKY SURVEY/NICK RISINGER

Buracos negros, vale lembrar, são definidos como regiões do espaço sideral onde existe uma quantidade incompreensivelmente grande de massa compactada em um ponto muito pequeno.

Essa densidade, que não é simplesmente alta, mas infinita, é responsável por criar uma força gravitacional também infinita, que suga tudo que está ao redor. As propriedades que caracterizam estas áreas do Universo são tão extremas que criam uma deformação no tecido do espaço-tempo, a chamada singularidade, que fica localizada no coração do buraco negro, onde está concentrada toda a sua massa. 

É o ponto do Universo em que as equações da física param de funcionar, por algum motivo. Normalmente é porque as quantidades físicas como a massa ou a densidade crescem, vão para o infinito (...) Qualquer equação com infinitos deixa de fazer sentido", diz ele", explicou o físico Eduard Larrañaga em uma entrevista de 2020 à BBC.

Virou espaguete

O chamado "evento de ruptura das marés" descreve a situação em que uma estrela é azarada o suficiente para acabar se aproximando de um buraco negro, começando a ser consumida pelo mesmo. 

O corpo celeste é tão deformado ao ser puxado na direção da singularidade, que sofre a espaguetificação, processo no qual sua massa se divide em filamentos, passando a lembrar a aparência do clássico macarrão espaguete.

Uma das poucas vezes que os astrônomos conseguiram observar esse raro fenômeno foi reportada justamente em outubro de 2020, quando uma estrela de massa semelhante à do nosso Sol teve um encontro com um buraco negro a 215 milhões de anos-luz da Terra. 

Ilustração de estrela sendo espaguetificada / Crédito: Divulgação/ Nasa

O acontecimento gerou uma explosão de luz forte o suficiente para atravessar toda essa distância e ser detectada por nossos telescópios. Infelizmente, um detalhe que atrapalha o registro da ruptura de marés é o fato de ser liberada, durante a absorção do astro, uma imensa nuvem de poeira.

Descobrimos que, quando um buraco negro devora uma estrela, [o fenômeno] pode lançar uma parcela de matéria para o exterior, obstruindo a sua visualização", explicou Samantha Oates, uma das cientistas envolvidas no estudo, conforme repercutiu a Galileu na época. 

Por sorte, o grupo de pesquisadores conseguiu detectar o evento cósmico logo em seu início, sendo capazes de fazer alguns cálculos antes de tudo ser envolvido em poeira espacial. 

Como apanhamos o evento cedo, pudemos ver a cortina de poeira e detritos sendo criada à medida que o buraco negro lançava uma poderosa corrente de matéria com velocidades de até 10 mil quilômetros por segundo para o exterior", apontou a co-autora do artigo de 2020, Kate Alexander

De forma surpreendente, vale mencionar que parte do astro sobreviveu à atração do campo gravitacional. Cerca de metade dele foi consumido durante sua passagem pelas proximidades da singularidade, enquanto o restante prosseguiu em seu caminho. 

Essa pesquisa forneceu avanços importantes na maneira como a comunidade científica encara as rupturas de marés e as espaguetificações sofridas pelas estrelas durante estes fenômenos, mas deve-se enfatizar que ainda falta muito o que decifrar a respeito do que acontece quando objetos espaciais interagem com as regiões de deformação do espaço-tempo.

O assunto é particularmente relevante quando se leva em conta que, no centro de nossa própria galáxia, a Via Láctea, existe o Sagittarius A*, um supermaciço buraco negro que está constantemente devorando planetas, estrelas e nebulosas.