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Matérias / Curiosidades

A história por trás da lápide do 'Veterano Gay do Vietnã'

Cemitério para "cidadãos notáveis" americanos conta com curiosa lápide sem nome; confira!

Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 03/09/2023, às 17h00 - Atualizado em 18/01/2024, às 11h05

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Lápide de Leonard Matlovich, o "Veterano Gay do Vietnã" - Getty Images
Lápide de Leonard Matlovich, o "Veterano Gay do Vietnã" - Getty Images

Embora alguns considerem uma atividade relativamente mórbida, a verdade é que passeios por cemitérios também podem ser impressionantes aventuras pela História. Afinal, espalhados por todo o mundo existem cemitérios de todos os tipos, servindo de leito para todo tipo de gente, dos mais variados períodos da História.

E no sudeste de Washington, nos Estados Unidos, existe um cemitério com grande importância para os norte-americanos: um Cemitério do Congresso, que abriga quase 70 mil "cidadãos notáveis ​​que deixaram a sua marca na cidade e na nação".

Embora as pessoas sepultadas sejam, em maioria, Pais Fundadores ou legisladores da era da Guerra Revolucionária dos Estados Unidos, o local também é o local de descanso eterno para veteranos de guerra que conseguiram destaque. Entre todas as milhares de lápides, uma em específico chama bastante atenção, sem o nome daquele que ali descansa: a do 'Veterano Gay do Vietnã'.

Lápide de Leonard Matlovich, identificado como "Um Veterano Gay do Vietnã"
Lápide de Leonard Matlovich, identificado como "Um Veterano Gay do Vietnã" / Crédito: Getty Images

Leonard Matlovich

A lápide com a curiosa identificação, na verdade, pertence a um homem chamado Leonard Matlovich, um sargento técnico da Força Aérea que atuou na Guerra do Vietnã, reconhecido também como defensor LGBTQIA+ e ativista de HIV/AIDS. De acordo com o Yahoo, sua atuação no conflito rendeu uma Purple Heart e uma Estrela de Bronze — condecorações militares de grande prestígio no exército dos Estados Unidos.

No entanto, sua vida militar mudaria após março de 1975, quando publicou um memorando, depois de 12 anos de atuação na Força Aérea do país, onde anunciou que se assumiria gay

Após alguns anos de incerteza, cheguei à conclusão de que as minhas preferências sexuais são homossexuais e não heterossexuais", escreveu Leonard Matlovich ao seu comandante na época. "Também concluí que minha preferência sexual não interferirá de forma alguma em meus deveres na Força Aérea."
Antiga fotografia de Leonard Matlovich
Antiga fotografia de Leonard Matlovich / Crédito: Divulgação/leonardmatlovich.com/Brandon Wolf

No entanto, a Força Aérea estadunidense da época discordou das palavras de Matlovich, e realizou uma audiência logo após o memorando. Esta, por sua vez, mesmo com o veterano sendo dono de um histórico exemplar, levou-o à sua dispensa das forças armadas.

"Durante sua audiência de dispensa administrativa, um advogado perguntou a Matlovich se ele estaria disposto a assinar um documento prometendo 'nunca mais praticar a homossexualidade' para permanecer no exército", conforme descrito em registros da Força Aérea dos Estados Unidos.

Protestando contra esta proibição, então, Leonard Matlovich recusou a promessa. Foi então que o painel considerou-o inapto a permanecer em serviço militar, e ele finalmente recebeu uma dispensa geral.

"Eu sou um homossexual"

Apesar de ter sofrido retaliação por parte das Forças Armadas norte-americanas, o fato de Leonard Matlovich assumir-se homossexual depois mostrou-se muito importante em prol do movimento pelos direitos LGBT, tendo se tornado uma espécie de símbolo da causa.

Nessa época, inclusive, ele estampou a capa de uma edição da revista TIME, em setembro de 1975, ao lado de uma manchete que marcou a história do país: "Eu sou um homossexual", afirmava.

Capa da TIME de setembro de 1975
Capa da TIME de setembro de 1975 / Crédito: Divulgação/leonardmatlovich.com

Cinco anos após o episódio, uma ordem judicial forçaria a Força Aérea a readmitir Matlovich, e ainda ofereceu pagamentos atrasados do tempo que esteve fora. No entanto, ele optou por não retornar ao serviço, e tornou-se definitivamente um ativista dos direitos dos homossexuais, até sua derradeira morte em junho de 1988, aos 44 anos, devido a complicações causadas pela AIDS.

Hoje, em sua lápide vê-se, além de sua identificação sem seu próprio nome, uma frase que transcreve o preconceito da sociedade norte-americana da época, evidenciando o descaso com o serviço executado graças ao mero detalhe de sua homossexualidade: "Quando eu estava no exército, eles me deram uma medalha por matar dois homens e uma dispensa por amar um."