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Matérias / Oppenheimer

Oppenheimer: O que aconteceu com o irmão do físico?

Assim como seu irmão, Frank Oppenheimer era físico e também foi perseguido pós-Segunda Guerra, mas foi nome importante para a ciência

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 11/04/2024, às 19h00 - Atualizado em 13/04/2024, às 10h57

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Frank Oppenheimer: Realidade e ficção - Divulgação/Exploratorium e Universal Pictures
Frank Oppenheimer: Realidade e ficção - Divulgação/Exploratorium e Universal Pictures

Baseado na biografia de Kai Bird e Martin J. Sherwin, 'Oppenheimer: O triunfo e a tragédia do Prometeu americano', publicado no Brasil pela Intrínseca, o filme 'Oppenheimer', de Christopher Nolan, além do desenvolvimento da bomba atômica, também apresenta personagens reais que tiveram importância na vida do físico norte-americano.

Ainda que o filme, que já está disponível no catálogo do Amazon Prime Video, tenha o foco nos anos do físico em Los Alamos, criando a bomba atômica que destruiu Nagasaki e Hiroshima em 1945 durante a Segunda Guerra, o longa dirigido por Christopher Nolan também apresenta pessoas íntimas com quem Oppenheimer confidenciou não só o Projeto Manhattan, mas também questões pessoais. 

E poucos trouxeram tanto apoio e amizade ao físico quanto seu irmão, Frank Oppenheimer. Mas o que aconteceu com Frank, que também era físico, após os eventos retratados no filme? 

Frank Oppenheimer

Embora não seja um personagem tão badalado em meio aos inúmeros mostrados no longa, Frank é essencial para o desenvolvimento da história de Oppenheimer. Um ponto significativo é sua conexão comunista. 

Em 'Something incredibly wonderful happens: Frank Oppenheimer and his astonishing Exploratorium', K.C. Cole recorda que, durante a década de 1930, Frank Oppenheimer e sua esposa Jackieingressaram no Partido Comunista Americano — algo não tão aprovado por Julius Robert Oppenheimer

Apesar disso, como visto no longa de Nolan, os irmãos permaneceram próximos e, ainda mais, Julius Robert também se tornou próximo de outros membros do Partido Comunista, como Jean Tatlock

Quando Oppenheimer trabalhava em Los Alamos, para o desenvolvimento da bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial, Frank atuou no Laboratório de Radiação da Universidade da Califórnia no problema da separação de isótopos de urânio sob a direção do amigo de seu irmão, Ernest O. Lawrence. Mais tarde, ele chegou a se juntar à equipe de Los Alamos. 

Como visto no final do filme, Frank também enfrentou o mesmo escrutínio político que seu irmão mais velho. Em julho de 1947, o jornal Washington Times Herald reportou que Frank havia sido membro do Partido Comunista entre 1937 e 1939

Em primeiro momento, relata a revista Time, ele negou as acusações, entretanto, confessou. Dois anos depois, enfrentou uma ampla investigação do Comitê de Atividades Antiamericanas da Câmara do Congresso dos Estados Unidos (HUAC) sobre o possível uso indevido de "segredos atômicos" durante a guerra. 

À comissão, registrou K.C. Cole, Frank Oppenheimer testemunhou que ele e sua esposa foram membros do Partido Comunista por três anos e meio. Esclarecendo que aderiram ao grupo enquanto procuravam respostas para o elevado desemprego vivido nos Estados Unidos durante a parte final da Grande Depressão. Ainda assim, acabou se vendo obrigado a renunciar ao cargo na Universidade de Minnesota — onde, desde 1947, era professor assistente de física. 

Perseguido 

Considerado comunista, Frank Oppenheimer não conseguiu mais encontrar trabalho como físico nos Estados Unidos e também teve seu passaporte negado, o que o impediu de trabalhar no exterior.

Frank Oppenheimer no filme - Divulgação

Com o dinheiro da venda de uma pintura de Van Gogh, que havia herdado de seu pai, Frank e Jackie compraram uma fazenda no Colorado e viveram como criadores de gado por quase uma década

Sua vida só começou a mudar com o fim da 'Ameaça vermelha nos Estados Unidos' — expressão que se refere à perseguição anticomunista no país. Com isso, Frank voltou a ensinar física: primeiro em uma escola secundária, onde seus alunos ganharam o primeiro prêmio na Feira de Ciências do Estado do Colorado.

Anos depois, voltou ao ensino superior quando recebeu uma oferta para ser professor de física na Universidade do Colorado. Além da oportunidade de voltar à pesquisa de partículas, sua área de interesse antes e durante a Segunda Guerra Mundial, Frank Oppenheimer também desenvolveu um novo interesse pela educação científica. 

Ele também recebeu uma bolsa da National Science Foundation para desenvolver novos métodos pedagógicos, que resultaram em uma 'Biblioteca de Experimentos' — quase cem modelos de experimentos clássicos de laboratório que poderiam ser usados ​​para auxiliar o ensino de física no ensino fundamental e médio de crianças, aponta K.C. Cole

Dedicando grande parte de seu tempo para desenvolver novas formas de ensinar ciência, Frank Oppenheimer, após uma visita aos museus de ciências da Europa, se inspirou para criar o Exploratorium — um museu dedicado à arte, à ciência e à percepção humana, aberto em São Francisco em 1969. Seu projeto inicial era tornar a ciência mais acessível ao público e, com o local, conseguiu deixar o aprendizado mais divertido e interativo.

Piso principal do Exploratorium - Amy Snyder via Wikimedia Commons

Conforme explica o ScreenRant, o Exploratorium de Oppenheimer combinava ciência e arte; visto que ele acreditava que os dois assuntos andavam de mãos dadas e sua mistura poderia ser muito didática. O museu contou também experiências de percepção humana. Durante seus primeiros 12 anos, o local tinha entrada gratuita. 

O fim 

Frank Oppenheimer dedicou o resto de sua vida ao Exploratorium, atuando como diretor desde sua fundação, em 1969, até sua morte. Naquela época, Frank não era apenas um líder do museu, mas estava envolvido em todos os seus aspectos, fazendo alterações para torná-lo cada vez melhor. 

Em 1977, Frank Oppenheimer foi diagnosticado com um linfoma — tratado com sucesso após dois anos de quimioterapia. Jackie, sua esposa, faleceu em 1980 e ele se casou novamente, com Mildred 'Milly' Danielson, dois anos depois. 

Mas no ano seguinte à união, foi descoberto que Frank sofria de câncer no pulmão, impulsionado por seu hábito de fumar. Submetido a uma lobectomia, ele acabou falecendo em 3 de fevereiro de 1985 — quase duas décadas depois de Julius Robert Oppenheimer.