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Matérias / Arqueologia

A tábua que registra reclamação recebida por um comerciante há 3,8 mil anos

O curioso artefato mostra que já existiam clientes insatisfeitos durante a antiguidade na Mesopotâmia

Ingredi Brunato Publicado em 04/03/2023, às 17h00

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Fotografia da tábua - Divulgação/ Museu Britânico
Fotografia da tábua - Divulgação/ Museu Britânico

A antiga cidade de Ur, que fica localizada no território atualmente correspondente ao Iraque, foi um dos mais importantes centros comerciais da Mesopotâmia.

Já em uma escavação arqueológica das ruínas do local realizada no início do século 20, pesquisadores encontraram a interessante residência pertencente a um negociante de cobre que viveu milênios atrás. 

O homem, conhecido como Ea-Nasir, era membro de uma notória guilda de mercadores do mundo antigo, a Alik Tilmun. De acordo com as evidências encontradas, porém, ele não parecia ser um bom negociante: isso, pois havia uma série de "cartas de reclamação" de clientes insatisfeitos entre seus pertences. A informação foi amplamente divulgada em 2018.

Vendedor impopular

Segundo informações repercutidas pela revista Forbes em reportagem de 2018, mais de uma dúzia de tabuletas revelam reclamações sobre a qualidade dos produtos e a demora em sua entrega. Um artefato, contudo, se destaca entre os outros — trata-se daquele enviado por Nanni, que vivia na antiga Babilônia. 

Este cliente enviou ao mercador uma tábua de argila de 11,6 centímetros de altura coberta frente e verso com sua longa mensagem insatisfeita, que está no idioma acádio, sendo expresso com os símbolos da escrita cuneiforme. 

O objeto histórico de 3,8 mil anos está hoje incluído no acervo do Museu Britânico, tendo sido traduzido pelo assiriólogo A. Leo Oppenheim em seu livro "Cartas da Mesopotâmia", que foi lançado em 1967, segundo lembrado por uma matéria da revista Galileu. 

Quando você veio, disse a mim: 'Eu darei barras de cobre de qualidade para Gimil-Sin (quando ele vier)'. Mas você não fez o que me prometeu. Você ofereceu barras que não eram boas para meu mensageiro e disse: 'Se você quiser levá-los, pegue-os; se você não quiser levá-los, vá embora!'", começa Nanni, que faz uma extensa lista dos erros que Ea-Nasir teria cometido em suas negociações com ele. 

"Quem sou eu para você me tratar dessa forma, com tanto desprezo? E isso que somos cavalheiros", continua ele, frustrado. 

Fotografia de tábua de argila no Museu Britânico / Crédito: Divulgação/ Wikimedia Commons/ Zunkir

A seguir, Nanni afirma as moedas de prata que enviou para o comerciante teriam sido mantidas por ele, ainda que nenhum produto fosse entregue, de forma que os homens enviados pelo morador da Babilônia teriam desperdiçado suas viagens — para piorar, não teriam sido viagens fáceis, já que cruzavam zonas pertencentes a povos inimigos. 

Existe alguém entre os comerciantes de Dilmun [que sediava a guilda Alik Tilmun] que me tratou dessa maneira? Você só trata meu mensageiro com desprezo! Você reteve minha bolsa de dinheiro em território inimigo. Agora cabe a você restaurar (meu dinheiro) para mim na íntegra. Tome conhecimento de que (a partir de agora) não aceitarei aqui nenhum cobre seu que não seja de boa qualidade. Eu irei (de agora em diante) selecionar e pegar as barras individualmente em meu próprio quintal, e exercerei contra você meu direito de rejeição porque você me tratou com desprezo", conclui o cliente irritado, também conforme repercutido pela Galileu.

O desfecho do conflito entre os dois homens que viveram há 3,8 mil anos, todavia, não é conhecido, já que a única evidência de seu desentendimento que sobreviveu até os dias atuais é a carta de reclamação de Nanni. De tão impressionante, a descoberta entrou para o 'Guinness Book' como a 'Reclamação de cliente escrita mais antiga'.