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Matérias / Guerra do Vietnã

Vietnã: Da guerrilha ao confronto aberto

Com a desmobilização americana, o Vietnã do Norte trocou a tática de guerrilha pelo confronto aberto

Tiago Cordeiro Publicado em 15/01/2019, às 10h00

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Guerra do Vietnã - Wikimedia Commons
Guerra do Vietnã - Wikimedia Commons

A guerra de guerrilha operada pelo Vietnã do Norte não era das mais convencionais. É verdade que as forças do general Vo Nguyen Giap reuniam todos os elementos que fizeram dos vietcongues um exército mitológico. Os comunistas estavam tão infiltrados no Vietnã do Sul que, em janeiro de 1968, foram capazes de realizar ataques de surpresa em cinco das seis cidades autônomas, 36 das 44 capitais de províncias e 64 dos 245 distritos municipais. A ofensiva do Tet, como ficou conhecida, foi militarmente desastrosa para as forças do norte, mas causou um grande impacto junto à opinião pública americana.

Graças ao Tet, também ficou reforçada a lenda em torno da Trilha Ho Chi Minh, um conjunto de 16 mil quilômetros de túneis subterrâneos que ligava o norte ao sul pela fronteira com o Laos – e também por dentro do país vizinho. Por meio dela, em 1965, os comunistas movimentaram 90 toneladas de suprimentos por dia: Em 1966, infiltraram 90 mil pessoas em território inimigo. Ali os vietcongues operavam em sigilo tão absoluto que impediram os americanos de perceber que havia uma central militar inimiga subterrânea no distrito de Cu Chi, localizado a apenas 60 quilômetros da capital sul-vietnamita, Saigon. Nos pequenos vilarejos, os norte-vietnamitas vestiam-se como os moradores locais e mantinham um código de conduta impecável, que conquistava a simpatia dos agricultores miseráveis do sul – um grupo que compunha 97,5% da população e detinha menos de metade das terras do país. Quando os americanos chegavam a esses lugares e torturavam os civis para tentar localizar os infiltrados ou promoviam massacres vergonhosos, como o assassinato de 504 aldeões de My Lai, tudo o que eles conseguiam era aumentar a simpatia local pelos vietcongues.

Artilharia pesada

Vietnamitas transportando suprimentos pela Trilha Ho Chi Minh Reprodução

Quando caía a noite, era a vez de os comunistas agirem, seguindo a lição do líder chinês Mao Zedong: “Quando o inimigo avança, nós recuamos; quando ele acampa, o fustigamos; quando se cansa, o atacamos; quando se retira, o perseguimos”. O resultado é que 54% dos americanos mortos e desaparecidos no conflito tombaram em cinco províncias que faziam fronteira com o Laos. Mas o mesmo exército que operava em silêncio e esgueirava-se perigosamente pelas costas e sob os pés dos inimigos também tinha acesso a armamentos inimagináveis em grupos tradicionais de guerrilha. Muitos soldados usavam facas caseiras e bicicletas. No entanto, graças ao apoio da China e da União Soviética, o Vietnã do Norte contava com versões chinesas da submetralhadora russa AK-47 e mísseis terra-ar capazes de derrubar helicópteros. Também tinha seis batalhões de caminhões, com os quais eram formados comboios de até 300 veículos, que carregavam 24 mil homens através de trechos mais largos da Trilha Ho Chi Minh.

A partir de 1974, quando o presidente Richard Nixon renunciou e os americanos praticamente abandonaram a guerra, o Vietnã do Norte trocou a tática de guerrilha pelo confronto aberto. Havia chegado a hora da boa e velha estratégia do ataque direto, com manobras abertas e recuos táticos. O objetivo era unificar de vez o Vietnã sob o comando comunista em um prazo de dois anos, sob o lema “ofensiva geral, levante geral”.

Contagem regressiva

Garoto comemorando o fim da guerra Reprodução/Matt Franjola

Nessa época, Hanói tinha grandes quantidades de artilharia, como o lançador de foguetes RPG-7 e o rifle MAT-49 (tomado durante a ocupação francesa), tanques soviéticos e mais de 300 mil homens bem preparados e dispostos à luta. Em 24 de janeiro de 1974, com o início da Campanha Ho Chi Minh, seria dada a largada dos 95 dias até a queda de Saigon. Se a dissimulação havia funcionado contra os bombardeios pesados dos americanos, a melhor forma de derrotar os co-irmãos sul-vietnamitas era lutar frente a frente. Nesse momento decisivo, a estratégia de guerrilha não teria mais o menor valor. No final, quem venceria a Guerra do Vietnã seriam os armamentos pesados e uma estratégia militar mais simples e direta.