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Matérias / Rio Grande do Sul

Tragédia: Como foi a grande enchente de 1941 que afetou o Rio Grande do Sul?

Em meio a tragédia que atinge Porto Alegre, níveis de desastres ultrapassaram ocorrido há mais de 80 anos; veja como foi!

Parte da capital gaúcha inundada em 1941 - Acervo/Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo
Parte da capital gaúcha inundada em 1941 - Acervo/Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo

O Rio Guaíba, que circunda a cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, atingiu recentemente um recorde histórico de 5,31 metros no último dia 5, domingo, superando em muito os 2,5 metros necessários para acionar um estado de alerta.

Um boletim da Defesa Civil do estado relatou mais de 100 mortos, 128 desaparecidos e 372 feridos em 401 municípios. Apesar de ter recuado ligeiramente para 5,26 metros, espera-se que leve vários dias para diminuir. No entanto, esta não é a primeira vez que uma tragédia dessa magnitude ocorre no extremo sul do Brasil.

Retrato de Porto Alegre durante enchente há mais de 80 anos - Acervo/Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo

Antes de tal inundação devastadora atingir a capital, a pior enchente registrada em Porto Alegre ocorreu entre abril e maio de 1941. De acordo com documentos da época preservados pelo Museu Joaquim Felizardo, a cidade recebeu 24 dias consecutivos de chuvas torrenciais. Confira a seguir como foi a intensa chuva que aconteceu há mais de 80 anos.

Momento crítico

O desastre ocorreu em pleno outono, durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Brasil estava sob o regime ditatorial conhecido como Estado Novo, liderado por Getúlio Vargas. Durante cerca de 22 dias, entre abril e maio, fortes chuvas atingiram o estado do Rio Grande do Sul, elevando os níveis dos rios Caí, Gravataí, Jacuí e Sinos, que desaguam no Guaíba.

Ao longo dos dias da inundação, a precipitação na capital atingiu 791 litros de água por metro quadrado. Isso, combinado com o transbordamento dos rios, resultou na inundação de vários bairros de Porto Alegre. Além disso, um vento forte contrário à correnteza retardou ainda mais o escoamento do Guaíba.

Parte da capital gaúcha inundada após chuvas e rio transbordar - Acervo/Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo

Essa calamidade era até então a pior inundação já registrada na história da cidade. O nível do lago atingiu a marca de 4,76 metros, afetando severamente toda a área central. O transporte só era viável por barco, enquanto locais emblemáticos como o Mercado Público, com suas marcas permanentes nas paredes, a Prefeitura e o aeroporto foram submersos em mais de 1 metro de água.

Da população de 272 mil habitantes de Porto Alegre na época, cerca de 26%, o equivalente a aproximadamente 70 mil pessoas, tiveram suas residências e propriedades afetadas. Um terço das empresas e fábricas também foram inundadas, de acordo com informações da Superinteressante.

Além das dificuldades no fornecimento de água, a Usina do Gasômetro, responsável pela geração de eletricidade na cidade, enfrentou sérios problemas, resultando em um apagão total.

Todo o translado era realizado somente por barcos - Acervo/Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo

Possível proteção

Após a devastação causada pela inundação de 1941 na capital gaúcha, surgiu a discussão sobre a urgência de construir uma barreira para proteger a cidade contra futuras enchentes. Um pouco mais de 30 anos depois, em 1974, foi concluída a construção do Muro da Mauá.

A cidade de Porto Alegre alagada - Acervo/Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo

Esta estrutura, com 3 metros de altura e extensão de 2,6 quilômetros, está localizada entre o cais Mauá e a avenida Mauá, no coração do Centro Histórico de Porto Alegre.

Uma reportagem da época, preservada nos arquivos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), revela que mais de 10 mil edifícios foram afetados pela enchente. "Um serviço popular de salvamento foi organizado por meio de canoas construídas às pressas e nem sempre seguras", diz o texto, segundo a CNN Brasil.

Parte da reportagem que retratou a enchente - Acervo/UFRGS

Em um estudo científico publicado em 2020, o pesquisador André Luiz Lopes da Silveira, especialista em Ciências da Água no Ambiente Continental e professor da UFRGS, sugeriu que a situação vivida pela cidade em 1941 poderia ter sido ainda mais catastrófica.

"Há que se considerar que o Guaíba antes da cheia de 1941 estava com nível d'água baixo, compatível com o normal esperado para abril, desta forma, pode especular que o mesmo evento chuvoso em outra época poderia resultar num coeficiente de escoamento maior, gerando uma cheia ainda maior", escreve o pesquisador.