Banjiha em "Parasita" (2020) - Divulgação/Barunson Entertainment & Arts
Coreia do Sul

Apartamentos como os de ‘Parasita’ devem desaparecer da Coreia do Sul

Entenda por que o governo de Seul está agindo para eliminar gradualmente as residências vistas no filme vencedor do Oscar de 2020

Isabela Barreiros Publicado em 11/08/2022, às 11h43

Os apartamentos sul-coreanos que mais se parecem com porões, retratados no filme vencedor do Oscar de 2020 “Parasita”, devem deixar de existir em Seul gradativamente devido a esforços do governo para eliminá-los da capital.

Chamadas de “banjihas”, as residências semi-subsolo surgiram na década de 1970, quando as autoridades tornaram obrigatório piso no porão em novas construções. Morar no subsolo ainda era ilegal, mas começou a atrair a população de baixa renda sul-coreana.

Depois que os regulamentos ficaram menos rígidos em 1984, foi permitido que os apartamentos passassem a ser construídos metade acima do solo e o restante no subsolo, com residências mais altas.

No entanto, o recorde de chuvas na capital sul-coreana da última semana expôs as dificuldades enfrentadas pelos moradores das banjihas, fazendo com que o governo de Seul reavaliasse a decisão sobre as construções.

Na segunda-feira, 8, a capital sul-coreana foi atingida pela mais forte chuva registrada em 115 anos, responsável por inundar apartamentos, encher estações de metrô e afogar quatro pessoas que viviam nesses porões apertados.

Segundo relatou o The Guardian com informações das mídias locais, duas irmãs de 40 anos e uma menina de 13 anos, filha de uma delas, morreram em seu apartamento no subsolo, no distrito de Gwanak, após pedirem ajuda, mas não serem alcançadas por equipes de emergência. Outra pessoa que vivia em uma banjiha também morreu afogada.

Desigualdade social

Banjiha em "Parasita" (2020) / Divulgação/Barunson Entertainment & Arts

 

Dados oficiais de 2020 estimam que Seul tinha, naquele ano, cerca de 200 mil apartamentos semi-subsolo, o que compreende cerca de 5% de todas as residências da capital. Mais da metade dessas casas estão na cidade, especialmente devido à alta dos preços dos imóveis.

A recente tragédia fez com que grupos cívicos exigissem mudanças no regulamento, além de maior apoio a moradores das banjihas para que eles pudessem deixá-las. Em um comunicado publicado no Korea Herald, a Coalizão de Cidadãos pela Justiça Econômica condenou “a negligência do governo em relação aos marginalizados em moradias por esta tragédia”.

À medida que as chuvas se tornam mais fortes e frequentes como resultado das mudanças climáticas, deve embarcar em uma mudança fundamental de sua abordagem aos moradores do semi-subsolo”, acrescenta a nota.

O governo declarou que não deve conceder mais licenças para construções de apartamentos semi-subsolo e que os existentes serão convertidos ao longo do tempo. O prazo dado aos proprietários para a cobertura das banjihas para uso não residencial será de 10 a 20 anos.

“Parasita” fez com que os porões sul-coreanos se tornassem um símbolo da crescente desigualdade do país, sob o olhar de Bong Joon-ho. Segundo o cineasta, existem “nuances sutis” encontradas nas banjihas.

"As pessoas vivem no subsolo, mas querem acreditar que estão acima do solo porque têm um momento em que a luz do sol entra em seu quarto”, disse. “Mas, ao mesmo tempo, eles têm medo de cair em uma situação subterrânea completa se as coisas piorarem.”

História Coreia do sul notícia desigualdade social parasita Bong Joon-ho banjihas

Leia também

Justiça do Nepal limita número de alpinistas para 'deixar o Everest respirar'


Madeleine McCann: mensagem deixada por amigo de suspeito mudou rumo das investigações


Maldição por trás da abertura da tumba de Tutancâmon é desvendada


China: Missão para coletar amostras do lado 'oculto' da Lua é lançada


‘Está se saindo melhor do que se esperava’, dizem britânicos sobre reinado de Charles III


Espanha: Primeiro-ministro anula prêmio nacional de touradas, tradição no país