Imagem ilustrativa de uma criança escrevendo cartão de natal - Getty Images
Trabalho escravo

Menina de seis anos encontra denúncia sobre trabalho escravo em cartão de Natal

"Somos prisioneiros estrangeiros na prisão de Qingpu, na China", dizia o bilhete escrito no cartão de rede varejista britânica

Pamela Malva Publicado em 23/12/2019, às 14h49

O Natal da família Widdicombe corria normalmente até o momento que Florence, uma menina de seis anos, decidiu escrever mensagens para seus colegas. Ela pegou um pacote de cartões comprado na Tesco — uma rede britânica de supermercados — e começou a escrever.

Quando chegou no oitavo cartão, ela percebeu que ele já estava escrito. “Somos prisioneiros estrangeiros na prisão de Qingpu, na China”, dizia a nota escrita em caneta preta. Ela rapidamente levou o papel ao pai, Ben Widdicombe.

A mensagem no cartão alegava trabalho forçado na prisão: “somos forçados a trabalhar contra nossa vontade”. No final, o autor ainda pediu que a pessoa que encontrasse a nota entrasse em contato com Peter Humphrey, um jornalista, e com uma entidade de Direitos Humanos. 

Mensagem encontrada no cartão / Crédito: Divulgação

 

A produtora dos cartões encontrados pela família britânica, em Tooting, no sul de Londres, é a Zheijiang Yunguang Printing. A empresa já havia sido auditada no mês passado e, segundo tais auditores independentes, não apresentava nenhuma irregularidade.

Os Widdicombe entraram em contato com Peter Humphrey através de uma rede social e contaram ao jornalista sobre o ocorrido. À BBC, Peter disse saber a quem a letra no cartão pertencia, mas não revelou nomes.

“Passei dois anos em cativeiro em Xangai entre 2013 e 2015 e meus nove meses finais foram nesta mesma prisão, neste mesmo bloco de celas de onde esta mensagem veio”, narrou o jornalista. Ao Sunday Times, Peter ainda confirmou que os prisioneiros de Qingpu eram obrigados a produzir cartões e etiquetas de presentes da Tesco.

Florence Widdicombe com o cartão que continha a mensagem / Crédito: Divulgação

 

Segundo Peter, a rotina na prisão era sombria e pouco saudável. Em entrevista, o ex-prisioneiro disse que os blocos de celas de colegas estrangeiros contavam com cerca de 250 pessoas, com 12 prisioneiros por cela.

Quando questionada, a Tesco disse estar “chocada” com a mensagem encontrada por Florence. A varejista britânica citou a auditoria feita no mês passado e afirmou que não encontrou evidências de que a empresa chinesa já tenha violado a regra que proíbe o uso de mão de obra de prisioneiros.

Mesmo assim, a rede de supermercado disse ter interrompido a produção na Zheijiang Yunguang Printing imediatamente. Em nota, a Tesco ainda afirmou que novas investigações foram iniciadas.

A venda de cartões de Natal da empresa arrecada 300 mil libras por ano para instituições de caridade British Heart Foundation, a Cancer Research UK e a Diabetes UK. Mas, aparentemente, o preço de £1,5 por cada caixa de cartões sai muito mais caro que o esperado.

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