Fragmento da panela carbonizada - Divulgação/Lucy Kubiak-Martens
Arqueologia

Queimar a comida durante o preparo culinário já acontece desde a Idade da Pedra

Panela carbonizada com mingau queimado mostra que descuidos culinários já aconteciam há 5 mil anos, aponta estudo. Saiba mais!

Fabio Previdelli Publicado em 27/01/2024, às 13h04

Descuidos culinários acontecem há pelo menos 5 mil anos. Foi isso que confirmou os restos de uma panela carbonizada, com mingau queimado, encontrada na Alemanha; em estudo publicado na revista PLOS One.

O acidente na hora de preparar uma refeição foi constatado após arqueólogos ao examinarem um monte de cacos de cerâmica mista encontrados em Oldenburg LA 7 — um assentamento neolítico que os pesquisadores consideram uma das aldeias mais antigas do país.

Assim que olhamos dentro da panela, ficou óbvio que algo deu errado", disse a principal autora do estudo e arqueobotânica, Lucy Kubiak-Martens, ao Live Science.

Análises químicas dos resíduos ainda revelaram "crostas de alimentos" nos cacos de cerâmica, que continham vestígios de diferentes grãos de cereais antigos, incluindo trigo e cevada. Os pesquisadores também encontraram restos de pé-de-ganso, uma planta selvagem conhecida por suas sementes ricas em amido, explicou um comunicado da Universidade de Kiel, na Alemanha. 

"Um fragmento de cerâmica que antes fazia parte de um vaso simples e de paredes grossas continha restos de sementes brancas de pé-de-ganso, que estão relacionadas à quinoa e são ricas em proteínas", disse Kubiak-Martens. 

Havia também o farro, que quando germinado tem um sabor adocicado. Parecia que alguém misturou grãos de cereais com sementes ricas em proteínas e cozinhou com água", completou. 

Detalhes do acidente

O Live Science recorda que existem evidências de que as pessoas moíam aveia selvagem, acredita-se que para fazer farinha, há pelo menos 32 mil anos na Itália. Mas a recente descoberta pode representar a primeira tentativa registrada — e fracassada — de se cozinhas mingau no mundo.

No entanto, é impossível dizer se a pessoa quebrou a panela para não se preocupar em limpá-la, ou se o utensílio se rompeu naturalmente depois do acidente de cozimento. 

Um fragmento de cerâmica ainda continha resíduos de gordura animal — provavelmente leite — que se infiltraram na argila. No entanto, não parecia que o cozinheiro em questão tivesse misturado grãos no líquido; o que leva a crer que o leite não fazia parte do preparo. 

"Os grãos germinados também nos dizem quando foram colhidos, que teria sido quando germinaram em algum momento do final do verão", apontou Kubiak-Martens. "Naquela época, eles não podiam colocar os grãos em uma prateleira e armazená-los para uso posterior, como fazemos hoje. Eles tinham que usar o que colhiam imediatamente".

Apesar de estudos anteriores em amostras de solo mostrarem evidências de cozimento com grãos e sementes, essa é a primeira vez que pesquisadores encontraram resíduos de comida queimada em um recipiente de cerâmica na Alemanha neolítica e oferece um vislumbre da dieta da época.

Análise microscópica da panela/ Crédito: Divulgação/Lucy Kubiak-Martens

 

"[Este incidente culinário] não só nos mostra o último passo na rotina diária de preparação de refeições de alguém, mas também o último evento culinário usando esta panela", disse ela. "Isso é muito mais do que apenas um grão carbonizado. Estamos vendo como as pessoas preparavam suas refeições diárias há milhares de anos."

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