Nestor Makhno foi um anarquista que lutou na Revolução Russa e fundamentou a corrente que conhecemos como Plataformismo - Wikimedia Commons
Personagem

Nestor Makhno, o anarquista que desafiou o autoritarismo de Lenin

Liderando um exército organizado na Ucrânia, Makhno não abaixou a cabeça para os planos autoritários dos bolcheviques

André Nogueira Publicado em 19/11/2019, às 11h06

A Revolução Russa foi palco de inúmeros movimentos e ideais distintos em conflito de interesses durante a derrubada do czar. Ou seja, não havia apenas comunistas na revolução. Um evento de suma relevância no processo revolucionário foi a Revolução Ucraniana, iniciada em 1918, que desencadeou no nascimento da Confederação Anarquista Ucraniana.

Um dos principais nomes dessa unidade anarquista era Nestor Makhno, um militante anarco-comunista que entrou para a história por não se submeter ao projeto bolchevique e sua dominação durante a Guerra Civil, apontando os conflitos entre o socialismo marxista e o projeto libertário e anarquista.

Makhno em 1888 / Crédito: Getty Images

Para tanto, Makhno organizou o Exército Insurgente Makhnovista, ou Exército Negro. Inicialmente aliado ao Exército Vermelho contra a invasão da Ucrânia pelos contrarrevolucionários (Exército Branco), os anarquistas foram rapidamente traídos pelas forças de Lenin, que os declarou como uma milícia ilegal, perseguindo-os até a morte ou a deportação.

Antes das perseguições, os bolcheviques já eram hostis a Makhno, cujas tropas aumentavam diariamente diante das deserções no Exército Vermelho. Em 1918, os anarquistas foram declarados bandidos. No entanto, Lenin tentou criar relações diplomáticas com o Exército Negro, mesmo que tenha ordenado um ataque contra os makhnovistas.

Trotsky também colaborou com a perseguição a Makhno, mandando prender todos os anarquistas do Congresso dos Sovietes. Porém, os makhnovistas resistiram, preocupados com os flancos da Guerra Civil: também hostilizados pelo Exército Branco, os anarquistas organizaram uma operação que levou à recuperação do sul ucraniano contra as forças czaristas.

Em 1920, o Território Livre (anarquista) foi invadido pelo Exército Vermelho e a Cheka foi direcionada para matar Makhno. Ambas as operações falharam, por competência do Exército Negro. Muitos comunistas foram presos, mas Makhno liberou todos, por princípios. Depois disso, anarquistas e comunistas tiveram uma trégua, até que as forças brancas de Wrangel foram derrotadas e os bolcheviques voltassem a apontar seus rifles aos revolucionários makhnovistas.

Como consequência, foi iniciada uma era de terror que destruiu a Revolução Ucraniana. Anarquistas do Exército Negro e até mesmo simpatizantes e civis foram executados pelas forças de Trotsky, mas Makhno conseguiu sobreviver, e fugiu através de uma rota pela Romênia. Exilou-se na França, assim como uma série de companheiros de militância, e lá ficou até sua morte.

Retrato de Makhno com Pavel Dybenko no acervo do Museu de História de Moscou / Crédito: Getty Images

 

Na França, continuou em contato com uma série de anarquistas europeus e, a partir das experiências do Exército Negro e uma crítica à organização da entidade (que, na visão de Makhno, foi a razão da derrota ucraniana na Revolução de 1917), ele escreveu, em conjunto com outro autores, a Plataforma Organizacional dos Comunistas Libertários, onde organizava a proposta do anarquismo plataformista, uma forma de organização supostamente horizontal em que a organização militar e a disciplina aparecem como itens necessários para a prática revolucionaria.

Segundo a proposta plataformista, muito criticada por Errico Malatesta, era baseada em quatro princípios: a unidade tática (organização prática da estratégia de lutas), a unidade teórica (consenso popular em relação à teoria anarquista), a responsabilidade coletiva (uma negação à defesa dos interesses individuais) e o federalismo (contra o centralismo tipicamente comunista).

Grupo de combate do Exército Negro / Crédito: Wikimedia Commons

 

Nestor Makhno é até hoje figura de suma importância para o movimento anarquista organizado, mesmo que muito criticado por suas proposições de coordenação de tropas a partir de uma cadeia de mandos que parecem ir contra os ideais libertários. Entretanto, a visão de anarquismo de Makhno foi, essencialmente, pragmática e responsável, visando uma ação concreta antes da moralidade teórica. Acabaria morrendo no ano de 1934, em Paris.


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