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Notícias / Guerra dos Sete Anos

Cartas de 250 anos enviadas para marinheiros na Guerra dos Sete Anos são reveladas

“Mal posso esperar para possuir você”, dizia mensagem de uma missiva confiscada pelos ingleses durante conflito; confira!

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 07/11/2023, às 10h47

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As cartas enviadas aos marinheiros franceses - The National Archives/ Renaud Morieux
As cartas enviadas aos marinheiros franceses - The National Archives/ Renaud Morieux

Entre 1757 e 1758, marinheiros franceses serviam no navio Galatée, sob o comando de Luís XV, durante a Guerra dos Sete Anos. Nos tempos de conflito, eles receberam cartas — que foram confiscadas pela Marinha Real Britânica.

As missivas jamais foram lidas pelos destinatários e permaneceram seladas por mais de 250 anos. Mas, recentemente, as mensagens foram reveladas, mostrando como eram as vidas e paixões dos marinheiros — com cartas com declarações quentes de amor ou até mesmo de mães furiosas.

Mal posso esperar para possuir você", escreveu uma mulher francesa ao marido, um suboficial do Galatée, antes de assinar "sua esposa obediente".

Já outra missiva, endereçada ao primeiro-tenente do Galatée, também era uma declaração de amor: "Eu poderia passar a noite escrevendo para você... sou sua esposa eternamente fiel".

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Ao todo, durante a Guerra dos Sete Anos, a Marinha Real Britânica confiscou 104 cartas destinadas aos combatentes franceses. Deste montante, 75 eram para a tripulação do Galatée, mas acabaram sendo levadas ao Almirantado, o antigo departamento governamental de Londres.

As cartas enviadas aos marinheiros franceses/ Crédito: The National Archives/ Renaud Morieux

As missivas permaneceram fechadas até que o professor Renaud Morieux, historiador da Universidade de Cambridge, obteve permissão para abri-las. A coleção faz parte do Arquivo Nacional de Kew, tendo também sido mantida no Public Record Office em Chancery Lane e até na Torre de Londres nos últimos 250 anos. Os registros foram compartilhados em artigo publicado na revista Annales. Histoire, Sciences Sociales.

"Havia três pilhas de cartas unidas por uma fita", disse o professor Morieux, segundo repercute o Daily Mail. "As cartas eram muito pequenas e estavam seladas, por isso perguntei ao arquivista se podiam ser abertas e ele as abriu".

"Percebi que fui a primeira pessoa a ler essas mensagens muito pessoais desde que foram escritas", continuou. "Os destinatários pretendidos não tiveram essa chance. Foi muito emocionante".

As escritas

Nem todas as cartas, porém, são de natureza romântica. Na verdade, a grande maioria delas apresenta uma visão mais detalhada de tensões e brigas familiares. O professor aponta que algumas das melhores missivas foram destinadas a um jovem marinheiro francês chamado Nicolas Quesnel, da Normandia.

Em 27 de janeiro de 1758, a mãe de Nicolas, Marguerite, de 61 anos, enviou uma mensagem se queixando de que não estava recebendo recados suficientes do filho. Ela também confidenciou que estava com uma doença grave, acrescentando dramaticamente que estava "indo para o túmulo".

No primeiro dia do ano você escreveu para sua noiva [...]. Eu penso mais em você do que você em mim", lamentou Marguerite.

"De qualquer forma, desejo-lhe um feliz ano novo repleto de bênçãos do Senhor. Acho que estou indo para o túmulo, estou doente há três semanas… Dê meus cumprimentos a Varin [um companheiro de bordo], é apenas a esposa dele que me dá suas notícias".

As cartas enviadas aos marinheiros franceses/ Crédito: The National Archives/ Renaud Morieux

Semanas depois, a noiva de Nicolas, Marianne, escreveu para orientá-lo a ser um filho melhor e mandar correspondências para sua mãe — possivelmente porque Marguerite tenha a culpado pelo silêncio de Nicolas: "A nuvem negra se foi, uma carta sua que sua mãe recebeu ilumina a atmosfera".

Em 1758, o Galatée viajava de Bordeaux para Quebec quando foi capturado pelo navio britânico HMS Essex e enviado para Portsmouth. Parte da tripulação foi presa e acabou morrendo de doença e desnutrição ou acabou liberta, tudo isso enquanto a própria embarcação era vendida.

A administração postal francesa tentou entregar as cartas à tripulação do navio, enviando-as para vários portos franceses. Mas, ao saberem que o navio havia sido capturado, encaminharam as missivas para a Inglaterra, onde foram entregues ao Almirantado de Londres.

Segundo os registros, Nicolas Quesnel sobreviveu à prisão na Inglaterra e se juntou à tripulação de um navio transatlântico de comércio de escravos na década de 1760, logo após o fim da Guerra dos Sete Anos.