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Notícias / Arqueologia

Enterro de 3.500 anos revela um dos primeiros casos de doença óssea comum hoje

Esqueleto feminino de 3.500 anos foi encontrado às margens do rio Nilo, no sul do Egito, e é o caso mais antigo conhecido na história de artrite reumatoide

Éric Moreira Publicado em 12/02/2024, às 14h59

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Lesões ósseas causadas por artrite no esqueleto encontrado no Egito - Divulgação/M. Mant, et al
Lesões ósseas causadas por artrite no esqueleto encontrado no Egito - Divulgação/M. Mant, et al

Em 2018, arqueólogos encontraram em escavações em um cemitério ao longo da margem do rio Nilo, próximo à cidade de Assuã, no sul do Egito, o esqueleto de uma mulher que teria vivido entre os anos 1750 a.C. e 1550 a.C.

Porém, o que mais intrigou desde o achado foi que os ossos apresentavam sinais de uma doença óssea relativamente comum hoje, sendo o registro mais antigo do tipo: artrite reumatoide.

De acordo com o Live Science, a mulher teria entre 25 e 30 anos quando morreu, e seus restos mortais estavam tão bem preservados, que uma análise osteológica completa pôde ser realizada em seu esqueleto. O estudo de caso foi publicado na edição de março do International Journal of Paleopathology.

Em muitos casos arqueológicos, muitas vezes não se obtém o esqueleto completo", disse a principal autora do estudo e professora assistente do Departamento de Antropologia da Universidade de Toronto, no Canadá, Madeleine Mant, em entrevista ao ao WordSideKick.com.

Ela também afirmou que os restos mortais bem preservados "deram-nos a oportunidade de olhar para esta doença que ataca ativamente os pequenos ossos das mãos e dos pés e falar sobre isso com um pouco mais de segurança."

A partir das análises, foi constatado em definitivo que aquela mulher provavelmente sofria de artrite reumatoide, uma doença autoimune em que o sistema imunológico ataca os tecidos do próprio corpo, o que provoca inflamação especialmente nas articulações. No caso, o que restou da mulher para ser analisado foram apenas os ossos.

"As superfícies articulares em si não foram danificadas e, em muitos outros tipos de artrite, ocorre destruição onde os dois ossos se encontram", descreve Mindy Pitre, professora associada e catedrática de antropologia na Universidade St. York e coautora do estudo ao Live Science.

No entanto, foram detectadas "cavitações ou lesões erosivas com buracos suavizados" nos ossos, o que pode apontar para um diagnóstico de artrite reumatoide.

Ossos de mulher com artrite reumatoide encontrados no Egito / Crédito: Divulgação/M. Mant, et al

Raridade arqueológica

Mindy Pitre também conta que está "acostumada a ver osteoartrite — é uma das doenças articulares mais comuns que vemos arqueologicamente. Parece osso com osso, onde você obtém uma aparência suave que lembra o marfim. Na reumatoide, você não consegue isso de forma alguma. No minuto em que reconheci, percebi que as lesões não pareciam típicas."

Vale mencionar que, hoje em dia, menos de 1% da população adulta de todo o mundo é diagnosticada com artrite reumatoide, segundo estudo de 2023 publicado na The Lancet Rheumatology. Para se ter como comparação, estima-se que quase 8% da população sofra, por sua vez, de osteoartrite.

Não seria surpreendente que, arqueologicamente falando, fosse muito raro ter isso no antigo Egito. Especialmente porque as pessoas não viviam o suficiente no passado para manifestar esses tipos de lesões", acrescenta Pitre.

Os casos mais antigos de artrite reumatoide descritos clinicamente, no caso, ocorreram somente milhares de anos depois, mais especificamente no século 17, na Europa; sem qualquer menção feita nos antigos textos egípcios.

A doença, por sua vez, já foi descoberta também em contextos arqueológicos de outros lugares, incluindo ossos de 5,5 mil anos também do antigo Egito, e em restos humanos de 5 mil anos encontrados no Alabama, nos Estados Unidos.

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Por fim, os pesquisadores alegaram que ainda é difícil determinar como era a vida da mulher cujos restos mortais foram analisados, e qual a impacto da doença em seu cotidiano, mas pontuam no estudo que ela "provavelmente teria experimentado uma diminuição na qualidade de vida, especialmente à medida que a condição progredia".

"Essa pessoa provavelmente estava lidando com uma condição que causava inchaço, dor e problemas de mobilidade", afirma Madeleine Mant. "Temos que pensar sobre como seria para alguém que vivia naquela paisagem naquela época."