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Notícias / Ciência

Novo estudo aponta que a sífilis estava no Brasil antes dos portugueses

Pesquisadores brasileiros e europeus encontraram vestígios do microorganismo em ossos humanos de 2.000 anos atrás, antes da chegada dos colonizadores

Redação Publicado em 24/01/2024, às 17h29

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Imagem da bactéria Treponema pallidus, causadora da sífilis - Reprodução/Flickr/NIAID
Imagem da bactéria Treponema pallidus, causadora da sífilis - Reprodução/Flickr/NIAID

Há cerca de 500 anos, os europeus desembarcaram nas Américas, disseminando várias doenças entre os indígenas e intensificando a devastação das populações locais. Até agora, a sífilis se encontrava entre as enfermidades introduzidas nesse primeiro contato, mas é possível que ela tenha seguido o caminho contrário, indo do Novo para o Velho Mundo, segundo uma recente pesquisa genética.

Neste estudo, liderado por pesquisadores europeus, mas com a participação de especialistas da Universidade de São Paulo (USP), os cientistas explicam que traços do DNA da bactéria Treponema pallidum, causadora da doença, foram encontrados em ossos de um sítio arqueológico em Santa Catarina, datados de mais de 2.000 anos. 

Como os primeiros registros de sífilis na Europa são do final do século 15, quando Cristóvão Colombo havia acabado de retornar à Espanha, estudiosos já especulavam que a doença teria surgido no Novo Mundo. Porém, a comprovação desta hipótese surgiu com este trabalho brasileiro-europeu, publicado na revista Nature.

A descoberta aconteceu graças ao sítio arqueológico da Lagoa do Camacho, em Santa Catarina, batizado de Jabuticabeira II. O local, que nada mais é do que um cemitério antigo, em razão da abundância de fragmentos de ossos humanos, está sendo explorado pelos cientistas da USP desde a década de 1990. 

Durante as expedições, alguns ossos despertaram a curiosidade dos pesquisadores, porque tinham marcas e alterações que sugeriam a presença de doenças. Assim, os cientistas da USP, José Fillipini e Sabine Eggers, iniciaram uma parceria com colegas europeus, para determinar o parasita que havia contaminado aquela população. 

Conforme repercutido pelo jornal O Globo, após a análise de 100 amostras, a geneticista Verena Schünemann, da Universidade de Zurique, identificou a presença do DNA de Treponema em quatro fragmentos. 

Agora a gente sabe com certeza que, 2.000 anos atrás, as pessoas sepultadas em Jabuticabeira tinham essa sífilis endêmica”, afirmou Eggers.

Mistério continua

A detecção do Treponema, entretanto, não soluciona o enigma relacionado à evolução da doença pelo seguinte detalhe, a cepa da bactéria identificada no solo catarinense não é a mesma responsável pela sífilis comum, transmitida sexualmente.

A subespécie do micróbio identificada é aquela associada à bejel, uma forma não venérea da sífilis mais presente em países do Oriente Médio e outras regiões áridas, transmitida por contato direto com a pele. Até o momento, não é possível afirmar definitivamente que a sífilis venérea já estava presente nas Américas naquela época.

Até agora, a pesquisa realizada por cientistas brasileiros e europeus não resultou em qualquer aplicação médica para o tratamento ou prevenção da sífilis. Embora a doença possa progredir de um cancro genital para formas mais severas que afetam o sistema nervoso e vários órgãos, existem opções de tratamento disponíveis.

Porém, a pesquisa liderada por Schünemann lança luz sobre a natureza da doença em um momento crítico, em que o Treponema está desenvolvendo maior resistência aos antibióticos. Compreender a evolução desse microorganismo em interação com os humanos pode ser crucial para enfrentá-lo no futuro.