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Notícias / Idade Média

Zombaria com padres e embriaguez: Os textos dos 'comediantes' da Idade Média

Escritos recém-descobertos mostram que ‘stand-up comedy’ da Idade Média zombava de tudo e de todos através de canções e histórias

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 31/05/2023, às 12h48

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Menestréis em uma apresentação - Domínio público
Menestréis em uma apresentação - Domínio público

Textos recém-descobertos na Biblioteca Nacional da Escócia dão detalhes inusitados sobre o papel desempenhado pelos menestréis na sociedade medieval, que eram bardos que contavam histórias reais ou imaginárias para entreter o público. Os documentos mostram escritas com conteúdos que vão desde zombar de reis e padres até encorajar as pessoas a ficarem bêbadas. 

Contendo o registro mais antigo do uso do termo "red herring" ('pista falsa' ou 'arenques vermelhos', algo que serve como gatilho para desviar a atenção de um assunto mais sério ou levam os leitores a uma conclusão falsa), os textos fazem parte de um livreto conhecido como Heege Manuscript.

Textos recém-descobertos/ Crédito: Biblioteca Nacional da Escócia

O responsável pela descoberta, James Wade, da Universidade de Cambridge, disse que os ecos do humor menestrel podem ser encontrados "em programas como Mock the Week [painel satírico britânico sobre celebridades], comédias situacionais e no humor pastelão".

A autoironia e fazer do público o alvo da piada ainda são muito característicos da comédia stand-up britânica", acrescentou ao The Guardian. 

Os menestréis

Durante a Idade Média, os menestréis viajavam entre feiras, tabernas e salões baroniais para entreter as pessoas com canções e histórias, como se fossem os stand-ups da época.

Apesar dos menestréis fictícios serem comuns na literatura medieval, as referências a artistas da vida real são raras, mas o Heege Manuscript está entre as primeiras evidências da vida e obra de um menestrel real.

Wade, porém, explica que a maior parte da "poesia, música e narrativa medieval foi perdida". "Os manuscritos muitas vezes preservam relíquias de arte erudita", continuou ao The Guardian.

Isso é outra coisa. É louco e ofensivo, mas igualmente valioso. A comédia stand-up sempre envolveu correr riscos e esses textos são arriscados! Eles zombam de todos, altos e baixos".

Os textos consistem em um romance burlesco com rimas que se chama 'A Caça à Lebre', um falso sermão em prosa e um verso aliterativo non-sense (sem sentido) chamado 'A Batalha de Brackonwet'

Os escritos foram copiados por volta de 1480 por Richard Heege, um clérigo doméstico e tutor de uma família de Derbyshire chamada Sherbrookes, de um texto escrito por um menestrel desconhecido que se apresentava perto da fronteira de Derbyshire-Nottinghamshire. Wade acredita que o menestrel escreveu parte de seu ato porque suas muitas sequências repletas de elementos aleatórios teriam sido extremamente difíceis de lembrar. 

"Ele não se deu o tipo de repetição ou trajetória da história que tornaria as coisas mais simples de lembrar. Aqui temos um artista que se fez sozinho com muito pouca educação, criando um material realmente original e irônico. Ter uma visão de alguém assim desse período é incrivelmente raro e emocionante."

O conteúdo

'A Caça à Lebre' trata-se de um poema sobre camponeses, "cheio de piadas e travessuras absurdas". Wade disse que uma cena possui uma vaga semelhança com 'Killer Rabbit of Caerbannog' de Monty Python.

O sermão se dirige ao público como "criaturas amaldiçoadas" e inclui fragmentos de canções de embriaguez. "Este é um menestrel dizendo ao seu público, talvez pessoas de posições sociais muito diferentes, para ficarem bêbados e se divertirem uns com os outros", conta Wade

O sermão também contém o primeiro uso registrado do termo "red herring", quando três reis comeram tanto que 24 bois explodiram de suas barrigas, lutando com espadas; os bois esquartejam-se uns aos outros até ficarem reduzidos a três "arenques vermelhos".

'A Batalha de Brackonwet' apresenta Robin Hood, bem como duelos de ursos, abelhas lutando e porcos festeiros. O poema nomeia várias aldeias perto da fronteira de Derbyshire-Nottinghamshire e inclui uma "demonstração hábil de verso aliterativo e um inteligente duplo sentido". O estudo foi publicado na The Review of English Studies.