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Matérias / 'Cidade Invisível'

A lenda e a origem da Mula Sem Cabeça, novo personagem de 'Cidade Invisível'

Segunda temporada de 'Cidade Invisível' chegou na Netflix na última quarta-feira, 22, com novos personagens e lendas do folclore brasileiro

Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 23/03/2023, às 17h38

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Cena da segunda temporada de 'Cidade Invisível' com a Mula Sem Cabeça - Reprodução/Netflix
Cena da segunda temporada de 'Cidade Invisível' com a Mula Sem Cabeça - Reprodução/Netflix

Na última quarta-feira, 22, chegou à Netflix a tão aguardada segunda temporada de 'Cidade Invisível', série brasileira que se passa em um universo onde os mais diversos personagens do folclore nacional são retratados em um mundo contemporâneo. 

Segundo a sinopse oficial da nova temporada, "após dois anos ausente, Eric aparece em um santuário natural, protegido por indígenas e procurado por garimpeiros ilegais, perto de Belém do Pará. Ele descobre que Luna e a Cuca estavam morando nas proximidades com o objetivo de trazê-lo de volta à vida. Embora queira retornar imediatamente para o Rio de Janeiro com Luna, suas habilidades sobrenaturais recém-adquiridas o tornam necessário para proteger Luna e o santuário, que descobre serem intimamente ligados". 

E, claro, com uma nova temporada, os criadores da série não deixariam de perder a chance de acrescentar à trama novos personagens e lendas do folclore brasileiro. Entre as aquisições no elenco, se destaca a atriz Simone Spoladore, que dá vida a uma versão "desconstruída" da Mula Sem Cabeça.

A lenda 

Uma das lendas mais conhecidas do folclore brasileiro, a mula sem cabeça — que também pode ser conhecida como 'burrinha de padre' ou apenas 'burrinha' — não é uma lenda presente apenas aqui, como também em alguns outros países da América Latina. Mas no Brasil, narra-se sempre se tratar de uma mulher que se transforma em uma mula com labaredas no lugar da cabeça, de acordo com o Brasil Escola.

Conforme as lendas, são amaldiçoadas e condenadas a se transformar em mula as mulheres que praticam relações íntimas com alguém antes do casamento, mas, sobretudo, com padres. A metamorfose acontece nas viradas de quinta para sexta-feira, assumindo a forma de uma mula toda preta, com labaredas em vez de uma cabeça — por vezes, a cabeça é um crânio em chamas —, fogo na cauda e um assustador relinchar que lembra um lamento de dor, permanecendo nesta condição até o cantar do galo.

Ilustração de uma das versões descritas da mula sem cabeça
Ilustração de uma das versões descritas da mula sem cabeça / Crédito: Foto por The ponta cabeça pelo Wikimedia Commons

E a lenda não serve apenas como um alerta para que mulheres não se envolvam amorosamente com sacerdotes. A história conta que, durante a madrugada, a mula ataca a todos aqueles que cruzem seu caminho, tendo ela um coice forte suficiente para ferir gravemente alguém.

Mas há uma forma de se evitar que uma mulher seja transformada em mula, além de não se relacionar com padres: ela deve ser amaldiçoada por um sacerdote desses sete vezes antes do início de uma missa. Porém, como para tudo existem versões alternativas, também tem quem conte que é necessário retirar o freio que está na boca da mula ou então feri-la com qualquer objeto pontiagudo. Após retornar para a forma humana, porém, a mulher se encontraria toda ferida.

Origem da lenda

Como pode ser notado, a lenda da mula sem cabeça foi amplamente utilizada no passado especialmente para reforçar os padrões morais que a sociedade impunha às mulheres, amedrontando-as — o que reforça isso também é o fato de que, caso uma mulher e um padre se relacionem, nenhuma versão indica que o religioso seria punido.

Além do mais, diferentemente de muitas outras lendas brasileiras, que possuem origens em contos indígenas, essa possui também uma forte conotação cristã. Isso porque a lenda teria, na verdade, se originado na Península Ibérica, tendo sido 'importada' para cá pelos portugueses e espanhóis.

E justamente pelo fato de espanhóis já deterem a lenda em sua cultura, outros povos colonizados por eles também a conhecem, além do Brasil. Os Argentinos, por exemplo, conhecem-na como "mula anima", enquanto os mexicanos a chamam de "malora". Além deles, nomes como "mula sin cabeza" e "mujer mula" também são utilizados.

Mula "desconstruída"

Como já mencionado, na segunda temporada de 'Cidade Invisível' a versão de Mula Sem Cabeça seria "desconstruída". Isso porque, como pode-se notar, a construção da lenda é pautada em valores patriarcais, machistas e sexistas, o que os desenvolvedores da série querem desassociar da figura. De acordo com o portal Splash, do UOL, a série busca, dessa vez, subverter a ideia de que se tornar uma mula seja uma maldição.

Simone Spaladore interpreta a Mula Sem Cabeça/ Crédito: Divulgação/Netflix

É como se ela precisasse resgatar essa força dela, a força da natureza, a força de ser quem ela é, e assumir que ela é a Mula Sem Cabeça. Eu trabalhei muito esse símbolo, na sensação mesmo dessa mula, desse animal livre, correndo pela floresta sem cabeça. Essa relação com o instinto, com o sagrado, com o cosmos, com o infinito. [...] A gente trabalhou nesse sentido de ela aceitar e tornar aquilo uma bênção e não uma maldição. Que a liberdade dela seja uma bênção", explica Simone Spoladore ao portal.