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Matérias / Dom Pedro I

Dom Pedro I reconheceu os filhos que teve fora do casamento?

A historiadora e escritora Mary Del Priore relembrou em entrevista ao site Aventuras na História curiosidades sobre a vida de Dom Pedro I

Luisa Alves, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 03/09/2022, às 10h00 - Atualizado em 18/04/2023, às 15h28

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Imagem de Dom Pedro I - Domínio Público
Imagem de Dom Pedro I - Domínio Público

Em entrevista exclusiva ao Aventuras na História, realizada em 2022, a ilustre historiadora e escritora Mary Del Priore, relembra fatos curiosos sobre a vida íntima de D. Pedro I.  

Já no início da entrevista, quando questionada sobre a possibilidade de separação de D.Pedro I de sua vida íntima, a historiadora afirma acreditar que não. A figura de Dom Pedro está associada aos heroísmo e ao mesmo tempo ao seu caráter de mulherengo.

"Eu acho que não! É uma figura complexa, e eu acho interessante como o Dom Pedro nos ajuda a entender como que a virilidade masculina era construída nesse período. O que se considerava um homem viril? Um homem forte, que tivesse várias mulheres, que tivesse uma vida dupla ou tripla, que fosse agressivo, que não fosse diplomático. Que de todo o lustro excessivo e intelectual, era considerado uma coisa diferenciada, então era melhor ser grosso. Então a virilidade masculina nesse período era construída dessa maneira e o Dom Pedro segue ela plenamente, sendo um excelente cavaleiro, excelente esgrimista, enfim, um homem físico. Que tinha uma atividade física muito importante. Além disso, esperto. Eu não diria que ele era brilhantemente inteligente, mas ele era um homem esperto e sabia lidar com as situações, talvez por conta da sensibilidade e também porque vivia numa família muito disfuncional", contou.

Mary Del Priore também explica a inconstância de Dom Pedro, que hora afirmava para o pai que não gostaria de permanecer no Brasil e hora afirmava aos brasileiros que iria “obedecer o papai e ficar até o final”. De acordo com ela, para os estudiosos do processo das "Independências", ele estava "preparando o terreno".

"A gente vê que ele está o tempo todo em cima da corda bamba, mas quem estuda os processos das independências — no plural, pelo amor de Deus, que começa lá atrás! —, percebemos que ele estava preparando o terreno. Que muito antes do 7 de setembro, que já haviam definido a data do aniversário dele, no 11 de outubro de 1822, como a data da aclamação do Rei do Brasil. Não é a da coroação do imperador, essa é só em dezembro! Mas a aclamação. Então ele tinha a habilidade para construir, o tempo todo, projetos para o brasileiro, acalmando o pai e ao mesmo tempo os constitucionalistas em Portugal, para fazer tudo um pouco às escondidas e lidar com a vida dupla dele às escondidas da Leopoldina".

O lado menos falado

A historiadora Mary Del Priore também reflete sobre o relacionamento de D.Pedro I com seus filhos. Segundo ela, apesar de péssimo marido, Dom Pedro foi um excelente pai.

Sua história com Leopoldina foi dolorosa, já que de oito gestações, eles perderam dois filhos. Com a Marquesa de Santos, ele teve cinco filhos e mais um com Sorocaba, irmã de Domitila. Longe dos olhos da Marquesa, ele também teve um filho com a costureira francesa, madame Saisset. Dom Pedro reconhece cada um desses filhos e cuida deles. 

"O Dom Pedro foi um pai excepcional. Foi um péssimo marido, mas um pai excepcional. Eu lembro que ele teve o 8 filhos com a Leopoldina em 9 anos de casamento, oito gestações e ela morre no parto. Eles perdem juntos os filhos deles, primeiro o Dom Miguel, um menino que morre logo [após o nascimento]. Mas o João Carlos, que era o menino dos olhos do casal, morre com quase dois anos. Em pleno processo de Independência, é uma perda horrorosa para esses pais. A gente abre o testamento de Dom Pedro e lá estão todos os filhos, com todos os bens e direitos preservados."

Dom Pedro também se preocupa com a carreira que será seguida pelos filhos, que gostaria que fosse de armas. A historiadora revela, no entanto, que seu filho com madame Saisset não o conheceu e só veio a descobrir a identidade de seu pai quando recebeu cartas após a morte da mãe.

"Até o filho da madame Saisset vai ter uma história sensacional. Ele não sabe que é filho de Dom Pedro, se torna comerciante, vai trabalhar nos Estados Unidos, faz fortuna por lá e após a mãe morrer que ele recebe cartas dizendo: “Olha, essas cartinhas são do papai. Ele que ajudou você a se educar” E aí, ele vai conhecer Dom Pedro II".

Ela também conta que D.Pedro I teve mais uma filha com Maria Amélia de Leuchtenberg. Segundo ela, ele escrevia cartinhas aos filhos, mandava brinquedos depois de ter ido ao exílio e solicitou que colocassem espiões no Palácio de São Cristóvão para ver se a dama encarregada, estava cuidando bem das crianças.

'Toda essa carga afetiva é um cuidado que ele também vai ter com a ‘Duquesinha’ de Goiás, filha da Marquesa de Santos que ele ama e adora, e que ele vai comprometer a Amélia de Leuchtenberg dizendo: “Olha, você vai ficar viúva, mas vai ter que cuidar da minha filha bastarda”. E a Amélia vai cuidar dessa menina como se fosse dela. Ela tem paixão Izabel Maria, criando, até por conta desse afeto, desse carinho, um problema com a Dona Maria da Glória, que morria de ciúmes'.

Dom Pedro também ficou conhecido por seu interesse e culto à ciência e conhecimentos gerais. Mary Del Priore contou que ele temia que seus filhos ficassem ignorantes e os incentivava aos estudos, chegando a acompanhar até mesmo a caligrafia dos filhos.

"[...] ele tinha pavor que os filhos ficassem ignorantes com ele, ele chegou a dizer isso. Ele queria que os filhos estudassem. E tinha um empenho muito grande na questão do estudo, ele se esforça muito para que os meninos tenham bons professores, vai acompanhar até a caligrafia dos filhos! [...] Então a gente vê que o Dom Pedro I não quer os filhos despreparados quando ele estava para qualquer função monárquicas, seja como imperador ou suas filhas como rainhas e princesinhas!", contou.

D. Pedro I foi um bom pai e um bom filho, como relatou Mary Del Priore. A historiadora e escritora contou que ele se preocupava com a saúde do pai. D.João VI morreu envenenado e uma das suspeitas é a Corte apoiada pela Carlota Joaquina num grupo com Dom Miguel.

D. Pedro I resolveu, então, escrever uma carta a seu irmão Dom Miguel dizendo: “Você matou nosso pai” e chora a morte de seu pai.

A viajante inglesa

Mary Del Priore é autora de "A viajante inglesa", livro que conta a história do processo de  manutenção do território unificado, após a emancipação do Brasil de Portugal, através de uma importante figura, Maria Graham que acompanhou e lutou durante importantes processos da história nacional, trocando correspondências e conversando com líderes políticos e militares.

 Ela já escreveu mais de 50 livros e já ganhou diversos prêmios. Além de ter sido eleita membro da Academia Paulista de Letras este ano.