O site Aventuras na História entrevistou o escritor e pesquisador Paulo Rezzutti sobre as relações extraconjugais de Dom Pedro I
Nos últimos meses, visto a proximidade com o bicentenário da Independência do Brasil, ocorrida em 1822, muito tem se falado sobre Dom Pedro I, o primeiro imperador brasileiro e responsável por proclamar a independência do país. No entanto, apesar do feito considerado positivo, o antigo monarca não era adorado por toda a população e até mesmo algumas polêmicas manchavam sua imagem na época da medida.
Uma das polêmicas mais negativas conhecidas de Dom Pedro I envolve seus relacionamentos amorosos (ou não): apesar de casado com a imperatriz Leopoldina, era de conhecimento público seus relacionamentos extraconjugais, o que levou até mesmo o título de Marquesa de Santos à Domitila de Castro Canto e Melo, amante mais famosa do antigo imperador.
Mas afinal, em meio a tantas críticas ao governo de Dom Pedro I, relacionadas principalmente ao seu autoritarismo, decisões equivocadas e envolvimento em conflitos desnecessários, será que o "lado mulherengo" do imperador contribuiu para que falassem mal dele? Para responder a questão, o site Aventuras na História convidou o escritor e pesquisador Paulo Rezzutti a falar sobre a fama de Pedro I e suas relações.
Paulo Rezzutti, pesquisador e escritor das biografias de Dom Pedro I e da imperatriz Leopoldina, conta à Aventuras na História que acredita, sim, que a fama de mulherengo contribuiu para que criticassem o imperador. No entanto, acrescenta, o comportamento era normal na época, especialmente entre nobres.
Pensar que os demais homens não faziam a mesma coisa que ele fazia na época dele é irreal. [...] O amor era uma coisa que basicamente nem existia. O casamento era um acordo", afirma Rezzutti.
Na época, primeiro se observava se a pretendente poderia gerar um filho para continuar a dinastia. Em segundo lugar, se analisava os interesses políticos entre os dois impérios ou nobres, a fim de se optar pelo mais vantajoso, de acordo com as necessidades de cada nação. Ou seja, segundo Paulo Rezzutti, "se rolasse amor ou paixão, ia ser lucro".
Logo, o sexo naquela época servia unicamente como procriação, dentro das famílias reais — o prazer, inclusive, era visto até mesmo "antirreligioso", maculando o significado do que seria gerar uma nova vida. Logo, o prazer se obteria fora do casamento, o que normalizava as relações extraconjugais.
[...] no casamento [o sexo] era para a procriação. Fora do casamento era para ter prazer, você não ia ter prazer com sua esposa. [...] Então você ia pecar fora de casa, manter sua esposa longe do pecado", explica Rezzutti.
O problema em torno de Dom Pedro I, no entanto, não era objetivamente o fato de ele trair, o que por si só era normal e aceitável na época e no contexto em que vivia. Paulo Rezzutti aponta que o verdadeiro empecilho sobre a imagem do imperador era, na verdade, ele ter sido "escancarado" nas ações, deixando óbvias a todos as traições.
Tamanho o escancaramento de Dom Pedro I sobre suas traições, que mesmo enquanto casado com a imperatriz Maria Leopoldina, ele chegou a levar a amante, Domitila de Castro Canto e Melo, à sua casa. Assim, eventualmente ela até mesmo recebeu o título de Marquesa de Santos, o que perturbou a ordem da família imperial.
A partir do momento que você leva sua amante para dentro de casa, ainda mais sendo o imperador, você transforma ela num elemento político, então você vai ter os partidários da amante e os partidários da imperatriz! E isso vai perturbar a própria imperatriz a ponto dela desabafar com o secretário dela que 'a bruxa consegue tudo'", explica Paulo Rezzutti.
O pesquisador ainda complementa que as trocas entre poderes dentro do palácio, sendo ora a imperatriz Leopoldina, ora a Marquesa de Santos quem tinha voz ali dento, que minaram o poder da imperatriz, que era adorada por parte da população brasileira. "Nisso, o Dom Pedro foi péssimo pro império, péssimo pra imagem dele", finaliza Rezzutti.
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