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Matérias / Pintura

O detalhe oculto identificado após a restauração de obra do século 18

Pintada por sir Joshua Reynolds, em 1789, A Morte do Cardeal Beaufort apresenta um personagem que foi alvo de controvérsia

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 11/11/2023, às 08h00

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A obra 'A Morte do Cardeal Beaufort' - National Trust
A obra 'A Morte do Cardeal Beaufort' - National Trust

Em 1789, sir Joshua Reynolds mostrou ao mundo, pela primeira vez, a pintura A Morte do Cardeal Beaufort. Aquela época, críticos ficaram chocados com o quadro pela presença de um personagem controverso: um demônio, que estava à espreita ao fundo do cenário.

A Morte do Cardeal Beaufort é inspirada na peça de William Shakespeare chamada Henrique VI, Parte II. No espetáculo, o rei lamenta ao lado da cama do cardeal, seu tio-avô, e apela a Deus para que lhe permita ter uma morte tranquila: "Oh! Afaste o demônio ocupado e intrometido que cerca a alma deste miserável."

Mas Reynold fez uma interpretação literal da cena. Assim, grande parte dos críticos ficou chocada quando viu A Morte do Cardeal Beaufort em exibição pela primeira vez na Galeria Shakespeare, em Londres, em 1789.

A Morte do Cardeal Beaufort/ Crédito: National Trust

Um deles chegou a apontar que Reynolds, considerado um dos maiores pintores de sua época, só deveria ter incluído o personagem caso ele existisse fisicamente na peça original de Shakespeare.

Em uma crítica publicada pelo Time naquele mês, outro declarou: "O diabrete no travesseiro do cardeal pode não estragar o quadro, mas não dá crédito ao julgamento do pintor. Preferimos que algum demônio estivesse cercado o gosto de sir Joshua, quando decidiu tornar literal a ideia".

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Conforme explica John Chu, Curador Nacional Sênior de Imagens e Escultura do National Trust, a pintura "não se enquadrava em algumas das regras artísticas da época de ter uma figura de linguagem poética representada tão literalmente como um monstro".

Embora fosse considerado aceitável na literatura introduzir a ideia de um demônio como algo na mente de uma pessoa, incluí-lo visualmente em uma pintura deu-lhe uma forma muito física", completou.

A maioria das pessoas parecia concordar que o demônio era um floreio desnecessário na pintura. Conforme recorda a BBC, até mesmo amigos e comentaristas tentaram convencer o pintor a não incluir o personagem ou até mesmo excluí-lo de seu quadro (quando o mesmo já havia sido finalizado).

Com o passar do tempo, o demônio começou a desaparecer completamente da pintura. Se a primeira exposição do quadro o personagem estava presente, na segunda, que aconteceu em 1792, depois que Reynolds morreu, não.

Demônio apagado

Em um comunicado oficial enviado à imprensa, o National Trust, o Fundo Nacional para Locais de Interesse Histórico ou Beleza Natural do Reino Unido, explicou que, na verdade, "na pintura original, o caráter do demônio estava tão degradado que parecia ter sido removido de lá também".

Área onde ficaria o demônio na obra/ Crédito: National Trust

Apesar da relutância de sir Joshua Reynolds em alterar o quadro durante sua vida, especialistas do órgão descobriram que a obra havia sido "restaurada" ao longo dos anos por várias pessoas diferentes que adicionaram pelo menos seis camadas de verniz.

Talvez não seja uma surpresa que [o demônio] tenha recuado tanto para as sombras da imagem", disse Chu.

"Parece que [o personagem] foi mal compreendido pelos primeiros conservadores. Algumas décadas após a pintura, aquela área parece ter-se deteriorado em pequenas ilhas de tinta que se tornaram menos nítidas… A degradação das sucessivas camadas de verniz ao longo dos anos tornou-o ainda menos visível."

Já a curadora nacional sênior de pinturas do National Trust, Becca Helen, apontou que as áreas ao redor do demônio eram particularmente complexas de serem restauradas, repercutiu a BBC.

Agora, porém, a figura demoníaca pintada por sir Joshua Reynolds foi revivida graças a um trabalho de restauração do National Trust. O quadro está em exposição na Petworth House no condado de West Sussex, na Inglaterra, com o demônio em seu devido lugar ao lado da cama do cardeal — que na obra de Shakespeare é visto como um homem conspirador e com sede de poder.

"Esta é uma pintura grande e queríamos garantir que ela ainda representasse o que Reynolds pintou originalmente, o que incluía permitir que o demônio fosse descoberto", finalizou Becca.