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Matérias / Arqueologia

O mistério linguístico de 2,5 mil anos desvendado

Graças à epifania de um pesquisador indiano, o estudo do idioma sânscrito foi revolucionado

Ingredi Brunato Publicado em 16/12/2022, às 17h00 - Atualizado em 20/12/2022, às 14h31

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Fotografia de documento escrito em sânscrito - Domínio Público
Fotografia de documento escrito em sânscrito - Domínio Público

Na última quarta-feira, 14, o pesquisador indianoRishi Rajpopat, de 27 anos,publicou através do portal da Universidade de Cambridge um artigo em que descreve a solução para um curioso enigma linguístico que durou 2,5 mil anos. 

Seu objeto de estudo é o sânscrito, um idioma morto de cerca de 3 mil anos que era falado na Índia e no Nepal, sendo a língua de inúmeros textos antigos dessa região. A dificuldade de sua tradução, todavia, dificulta a interpretação de inúmeros documentos históricos produzidos através das pessoas que habitaram o território. 

Graças a um "momento Eureka" de Rajpopat, todavia, conseguiremos traduzir o sânscrito com muito mais facilidade. 

Sua pesquisa é baseada nos ensinamentos de Dhātupāṭha de Pāṇini, um gênio linguístico que teria vivido em 5 mil a.C. e foi responsável pela criação de um sistema de 4 mil normas gramaticais que, se aplicadas à risca, permitiriam a escrita correta do sânscrito. 

Confusão milenar

Um dos aspectos do sistema Pāṇini, porém, provocou confusão entre estudiosos durante séculos: como se deve proceder quando mais de uma regra pode ser aplicada à mesma palavra? Para resolver esse "conflito de regras", a figura histórica incluiu uma única "meta regra" entre seus ensinamentos.

Conforme demonstrado pelo estudo recente, no entanto, os especialistas interpretaram essa norma metalinguística de forma errônea durante anos, o que fez com que diversas meta regras adicionais precisassem ser criadas, levando a inúmeras exceções, e, no geral, complicando a tradução do sânscrito. 

O que Rishi Rajpopat descobriu é que, ao interpretar Pāṇini de forma levemente diferente da tradicional, os ensinamentos do linguístico não precisam de nenhum acréscimo para funcionarem com perfeição. 

Pāṇini tinha uma mente extraordinária e construiu uma máquina sem igual na História da humanidade. Ele não esperava que adicionássemos novas ideias às suas regras. Quanto mais mexemos na gramática de Pāṇini, mais ela nos escapa", explicou Rajpopat, segundo repercutido pelo Phys.Org. 

Momento Eureka

"Tive um 'momento eureka' em Cambridge. Depois de 9 meses tentando resolver esse problema, estava quase pronto para desistir, não estava chegando a lugar nenhum. Então fechei os livros por um mês e apenas aproveitei o verão, nadando, andando de bicicleta, cozinhando, orando e meditando. Então, a contragosto, voltei ao trabalho e, em poucos minutos, ao virar as páginas, esses padrões começaram a emergir e tudo começou a fazer sentido", relatou o pesquisador ainda. 

Sua descoberta permitirá que o sistema de Pāṇini seja inclusive ensinado a computadores, o que poderá automatizar a decodificação de antigos textos em sânscrito, mudando para sempre a maneira como estudamos o idioma.

O estudo possui ainda grande importância para a cultura indiana, que poderá enfim se reconectar com raízes que, por muito tempo, foram ocultas por uma barreira linguística.  

+ Para conferir o artigo de Rishi Rajpopat na íntegra, clique aqui;