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Matérias / Idade Média

Praga de Justiniano: A primeira pandemia da História

Exército do imperador bizantino Justiniano pode ter espalhado uma peste para toda a Europa

Redação Publicado em 19/03/2020, às 14h50

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À esquerda traje utilizado por médicos medievais e à direita retrato de Justiniano - Creative Commons
À esquerda traje utilizado por médicos medievais e à direita retrato de Justiniano - Creative Commons

Em 540 d.C. a Europa passava por uma série de transformações na sociedade. Este período é marcado pela transição da Antiguidade Tardia para a Idade Média — mais conhecido período da Treva iniciou-se em 476 d.C. em decorrência a queda do Império Romano do Ocidente — e durou até o século 15. 

Marcado pela fragmentação dos poderes e a regionalização este período foi responsável, ainda, pelo crescimento do mundo rural e dos conflitos entre nobrezas locais. A guerra varria o continente por causa da campanha do imperador bizantino, Justiniano, que buscava buscava restaurar o Império Romano do Ocidente. Neste cenário difícil os europeus tiveram que enfrentar a primeira pandemia da História.

A chamada Praga de Justiniano, foi a primeira epidemia de peste bubônica, que séculos mais tarde voltou a assolar a Europa, entre 1346 e 1352. Transmitida por pulgas de ratos infectados, vindos dos navios, a praga surgiu no Egito, passou pelo Oriente Médio e chegou à capital do Império Bizantino, Constantinopla, em 540 d.C., matando 5 mil moradores por dia, e eliminando metade da população — estima-se que entre 500 mil a 1 milhão de pessoas — da cidade.

A doença se espalhou também pela Síria, Europa e Ásia Menor — atual Turquia). Meio século depois, havia morrido, em decorrência da doença, entre 25 e 100 milhões de pessoas. "É difícil precisar dados estatísticos, mas é possível afirmar que 40% da população de toda a área mediterrânea foi dizimada por volta do ano 600", afirma Celso Taveira, doutor em história bizantina e professor da Universidade Federal de Ouro Preto.

Mapa da peste negra na Europa / Crédito: Wikimedia Commons

A peste bubônica, que mais tarde ficou conhecida como peste negra, ataca os nódulos linfáticos, localizados em axilas, virilhas e pescoço, que incham e formam enormes bolhas de pus. As extremidades do corpo são atacadas por necrose, o que dava aos infectados uma aparência aterradora, algo como mortos-vivos.

Devido à sua mobilidade, as tropas justinianas podem ter ajudado a propagar a doença, mas foram também extremamente afetadas por ela. O exército foi assolado pela praga e até o próprio imperador chegou a contrair a doença, mas sobreviveu.

O impacto na população europeia e, consequentemente, nas guerras travadas por Justiniano se deu de várias formas. Constantinopla chegou a ser fechada e a entrada de navios foi proibida, fazendo com que as pessoas passassem a morrer de fome. Em questões militares, com a falta de pessoal para as batalhas, a situação foi de estagnação e derrotas.

A praga afetou também os persas, que contraíram a doença durante a guerra contra os bizantinos, em 543 d.C. Com o enfraquecimento do exército, Justiniano viu-se incapaz de dar continuidade aos combates e foi forçado a firmar um acordo de paz com o rei persa, Cosroes, em 545 d.C.

Alguns historiadores acreditam que os danos causados aos persas e bizantinos os tornaram vulneráveis às conquistas muçulmanas no século seguinte. Estima-se que a pandemia tenha durado mais de 200 anos. "Não se pode falar de uma epidemia que durou de um período a outro, mas que ela mudava de lugar", afirma Silvia Waisse, professora de história da ciência da PUC-SP.

Pintura da Guerra Persa-bizantina / Crédito: Wikimedia Commons

Na pandemia do século 6, nem a imperatriz Teodora escapou. Alguns a culparam, dizendo que a praga era uma punição divina por sua promiscuidade. Não passava pela cabeça dos médicos que pulgas, ratos e organismos invisíveis pudessem causar o mal. "A noção de que havia alguma coisa que se transmitia só se estabeleceu no final do século 15", diz Silvia.

Em 285, tentando organizar o caos administrativo do decadente Estado romano, o imperador Diocleciano dividiu o Império em duas partes, Ocidente e Oriente. Roma — e, com isso, o Império Romano do Ocidente — caiu nas mãos dos bárbaros em 476 d.C., mas a parte oriental sobreviveu. A capital, na cidade de Constantinopla, foi chamada de Bizâncio até 330 d.C. — daí o nome Império Bizantino, que, aliás, não era usado pelos bizantinos. No entanto, para eles o certo era chamar de Império Romano, mesmo após mudarem a língua oficial para o grego, em 620 d.C.

A peste foi um imenso revés na campanha de Justiniano para restaurar o Império Romano às suas antigas fronteiras. Iniciada em 527 d.C., e contando com generais legendários, como Belisário e Narses, Justiniano retomaria dos bárbaros toda a Itália, norte da África e parte da península Ibérica. No entanto, pelo impacto brutal da doença, e por problemas políticos, e econômicos, a reunificação de Roma seria efêmera.

A Itália seria perdida para os lombardos em 568 d.C. Após três anos da morte de Justiniano, o Império Romano do Oriente sofreu grandes derrotas para os povos islâmicos, a partir do século 8 e até a queda de Constantinopla para os turcos otomanos, em 1453. Os gregos viveram sob domínio otomano até 1822, quando declararam independência e iniciaram uma guerra contra os turcos com o apoio de outros países europeus.


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