Além de restringir a liberdade de ir e vir, os residentes argumentam que o combate ao turismo de massa não será resolvido com a implementação de taxas
Redação Publicado em 25/04/2024, às 19h41 - Atualizado às 20h04
Nesta quinta-feira, 25, as autoridades de Veneza começaram a cobrar uma taxa dos turistas que visitam a cidade italiana por apenas um dia, sem pernoitar. Apesar da justificativa de frear o turismo de massa, fortemente criticado pelos residentes, a iniciativa foi amplamente contestada. Centenas de venezianos saíram às ruas em protesto contra a cobrança, argumentando que não resolverá efetivamente o problema.
Com cartazes que diziam “Acesso gratuito à Veneza”, “Não ao ticket, sim para casas e serviços para todos” e “Veneza se vende, se defende”, cerca de 300 pessoas se reuniram em uma estação na manhã desta quinta, que já apresentava placas e cabines para a venda do bilhete, que custa € 5 (quase R$ 28).
Conforme repercutido pelo The Guardian, houve confrontos entre alguns manifestantes e a tropa de choque. Reconhecida como uma das cidades mais bonitas do mundo, Veneza é um dos principais destinos turísticos, mas está sofrendo com o peso das multidões.
Segundo o Guardian, desde o início da década de 1950, a cidade viu uma redução de mais de 120 mil residentes. Durante os horários de pico, pelo menos 100 mil visitantes ocupam o centro histórico durante a noite, o dobro da população de apenas 50 mil habitantes.
Apesar disso, alguns moradores expressam se preocupam de que a medida restrinja os direitos fundamentais de liberdade de movimento e transforme a famosa cidade em uma simples atração turística.
“Isso não é um museu, não é uma área ecológica protegida, você não deveria ter que pagar. É uma cidade”, argumentou, Marina Dodino, da associação de moradores locais ARCI, à AFP.
Esse pensamento também é compartilhado por Matteo Secchi, responsável pelo Venessia.com, outra associação de moradores. Em entrevista ao The Guardian, ele afirmou que, ao estabelecer uma taxa para os turistas, as autoridades transformam Veneza em um “parque temático”.
A “Taxa de Acesso a Veneza” está sendo implementada inicialmente em 29 dias de grande movimento ao longo de 2024, principalmente nos fins de semana de maio a julho. Nesta quinta-feira, dia 25 de abril, os italianos celebram a “Festa della Liberazione”, um feriado nacional que marca a libertação da Itália do fascismo.
De acordo com o gabinete do prefeito, Luigi Brugnaro, cerca de 13 mil ingressos foram vendidos até o final da manhã de hoje. O prefeito negou, conforme relatado pelo Guardian, que a iniciativa tenha um caráter lucrativo, e se comprometeu a reduzir os impostos locais caso a medida seja bem-sucedida.
Brugnaro destacou que o novo sistema é “um experimento”, monitorado com “controles bastante suaves” e sem “filas”. É importante ressaltar, que não existem catracas ou barreiras pela cidade, porém inspetores conduzirão verificações nos principais pontos de entrada. Eles têm autoridade para aplicar multas aos visitantes sem ingressos, que variam de € 50 a € 300 (equivalente a R$ 276,6 a R$ 1,6 mil).
Não será estabelecido um limite para o número de ingressos disponíveis. Em vez disso, a intenção é persuadir os turistas de um dia a visitarem Veneza em períodos mais tranquilos.
