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Matérias / Xógum

‘Xógum’: A trama da série é fiel à história do Japão? Historiador responde

Em entrevista exclusiva, historiador especializado em história japonesa revela o que é fiel na nova produção ‘Xógum’; descubra!

Isabelly de Lima Publicado em 11/03/2024, às 19h00 - Atualizado em 13/03/2024, às 15h14

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Pôster da série 'Xógum', sobre o Japão dos samurais - Divulgação / Star+
Pôster da série 'Xógum', sobre o Japão dos samurais - Divulgação / Star+

“Xógum”, a série épica disponível no Star+ e no Disney+, mergulha no Japão dos samurais do século 17, narrando a fascinante história de John Blackthorne, um navegador inglês interpretado por Ansel Elgort. Naufragado na costa japonesa, Blackthorne se depara com um mundo totalmente diferente, regido por costumes ancestrais e uma rígida hierarquia social.

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Capa do livro 'Xógum' - Divulgação / Editora Arqueiro

A série, com roteiro de Steven Kane e produção de Ridley Scott, é baseada no romance homônimo de James Clavell, publicado no ano 1975. A trama acompanha a jornada de Blackthorne enquanto ele se adapta à cultura japonesa e ascende na sociedade, enquanto conhece o próximo xógum, o governante militar do Japão.

Xógum” impressiona pela riqueza de detalhes na reconstituição do Japão pré-moderno. A cenografia, os figurinos e os rituais retratados na série são meticulosamente elaborados, proporcionando uma imersão profunda na cultura e na história da época.

A produção também explora os complexos sistemas políticos e sociais do Japão dos samurais, como o sistema de castas e a rígida hierarquia pré-moderna. Os costumes e tradições japoneses também não ficam de fora dos episódios.

Para saber mais detalhes sobre o contexto histórico da produção, o site Aventuras na História conversou com Kauê Metzger Otávio, historiador especializado na cultura japonesa, e doutorando pela Universidade Federal do Paraná. 

O que é Xógum?

Segundo o historiador, a série surge como um título incidental, pois, antigamente, 'Xógum' era conferido a líderes militares como título de comandante. Compreende uma abreviação de 'sei-i taishōgun'. Além disso, a primeira pessoa a receber a nomeação foi Minamoto no Yoritomo, após vencer a guerra no Japão em 1192.

"Então o Japão é um estado dos samurais? Não? Também não. Isso realmente acontecerá com o terceiro evento e o evento do Tokugawa, que acho que é tratado na série como Yoshi Toranaga. Então nós temos três eventos. Três regimes liderados por um xogum, certo? O primeiro, na verdade, é uma diarquia entre a Corte Imperial e o Bakufu", diz Kauê.

“Então, há um governo em Kamakura que é o Bakufu (xogunato) e há um governo em Kyoto que compreende a Corte Imperial. E os dois disputam pelo poder ao mesmo tempo que coexistem no cenário político japonês ao longo do século 13 e no primeiro quarteto do século 14. Depois, é fundado o segundo, após a queda do primeiro. Então já vemos um regime mais voltado para os guerreiros de fato”, completa o historiador.

O protagonista da série 'Xógum' - Divulgação / Star+

Kauê ainda ressalta que o segundo xogunato foi forte no centro do Japão e nas províncias do oeste, no entanto, falhou em outras regiões, o que fez com que o regime enfraquecesse ao longo dos anos.

O poder 

Na série, é apresentado ao público um pequeno príncipe, ainda criança, monitorado por Toranaga (Hiroyuki Sanada) até sua maioridade para assumir o poder um dia, o que faz com que o poder fique dividido em diversos “senhores” (cada um responsável por um feudo).

Conforme o historiador, essa é mais uma das coisas que, de fato, aconteceram na vida real.

Toyotomi Hideyoshi do Japão - Domínio público

"Toyotomi Hideyoshi termina a unificação do Japão. Praticamente faz duas campanhas contra a Coreia que não deram certo. Tenta invadir a nação e falece. Antes de falecer, ele fez provisões para o filho dele, que era criança, vir a governar".

O nome mais poderoso do Japão falece, então ele cria o que pode para tentar manter uma estabilidade até a maioridade do filho dele, o que gera um cenário político turbulento nesses últimos anos pré-período Edo. Ele cria um conselho meio que para tentar fazer um ‘checks and balances’, sabe, colocar um contra o outro, de modo que ninguém fique poderoso demais para dominar o Japão, por exemplo, no lugar do filho dele, que é o que ocorre”.

O historiador ainda destaca que o rapaz não era um príncipe, já que não fazia parte da família imperial, ainda que a família continuasse existindo, mas não tivesse a mesma influência política. Hideyori (filho do guerreiro Hideyoshi) era cria de um ex-Grande Sumo Conselheiro Imperial, a posição que Toyotomi (o pai) alcançou em vida.

Os europeus e os japoneses

Na produção, os europeus que chegam ao Japão possuem o desejo de fazer um acordo comercial, dominado pelos portugueses, até então. A religião também é influenciada pelos portugueses, já que implementaram o cristianismo, ou melhor, o catolicismo aos japoneses.

Na história real, segundo o historiador, Tokugawa tomou algumas medidas, após o encontro com os holandeses (na série liderados por Blackthorne), e expulsou os portugueses do país, o fechando somente para fazer comércio com os próprios holandeses.

Qual a importância do Xógum?

A unificação do Japão foi uma das principais atividades do Xógum, entretanto, o historiador destaca que é importante levar em conta a ambição de Tokugawa,  responsável por guardar o poder para Hideyori e acaba usurpando seu trono.

Tokugawa, o Xógum representado na série - Domínio público

Entretanto, o regime do novo Xógum traz um período de cerca de 268 anos sem guerras no país, ainda que, ao longo desse período, o líder consolidasse políticas nacionalmente.

Ainda durante a entrevista, Kauê relata sentir ansiedade com os próximos episódios da série, que, segundo ele, retrata o Japão e sua história de uma maneira “muito fiel”.

“O Japão é muito bem representado neste quesito. E a trama da série é muito interessante. Pode ser um pouquinho difícil às vezes acompanhar a trama política logo de cara, mas dá para pegar com o andar da carruagem, né? São muitos personagens. É baseado em romance. Então a gente sabe que sempre dá um trabalho [...], mas é um trabalho muito bem feito”.

A produção já está disponível no Star+ e também no Disney+ com episódios lançados semanalmente.