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Matérias / Curiosidades

Como um agente funerário revolucionou a telefonia... por pura vingança

Neste dia, em 1891, Almon Strowger registrava sua patente da central telefônica automática

Fabio Marton Publicado em 10/03/2019, às 12h00

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Agente funerário decidiu acabar com a profissão de telefonista - Shutterstock
Agente funerário decidiu acabar com a profissão de telefonista - Shutterstock

AImon Strowger era um homem de vários talentos. Veterano da Guerra Civil dos EUA, havia lutado na cavalaria da União. Depois, atuou como professor do primário até, na década de 1880, realizar o sonho de ser seu próprio patrão, abrindo uma funerária em Kansas City.

Mas os negócios não iam muito bem. Orgulhoso dono do grande invento da época, o telefone, via o aparelho pegar poeira em silêncio, sem nunca receber a esperada chamada com a voz chorosa disposta a abrir a carteira por seus funestos serviços. Enquanto isso, o dono da funerária rival mal dava conta de tanto defunto.

Strowger desconfiou de jogo sujo. Porque a mulher do concorrente vinha também a ser a telefonista da cidade. Quando alguém pedia simplesmente pela “funerária”, era óbvio para quem ela estava transferindo.

Ele poderia ter reclamado na companhia, pedindo por sua demissão. Ou aberto um processo por concorrência desleal. Mas não se desafia um homem com tantos talentos, que optou por uma retaliação desproporcional: acabar com a profissão de telefonista.

O Sistema

O agente funerário criou um sistema no qual ligações podiam ser feitas automaticamente. Consistia numa placa com vários conectores distribuídos numa matriz de 10 x 10. Cada um dando numa linha telefônica, num total de 100 delas. Um braço mecânico se movia duas vezes, uma na vertical, outra na horizontal, conectando-se ao número desejado na matriz, correspondente a dois números discados (por exemplo: 91 = linha 9, coluna 1).

A ordem era passada por pulsos elétricos, codificados por um disco, formato pensado para espaçar cada pulso regularmente e dar uma pausa entre cada número, para que não chegassem embaralhados.

O inventor recebeu a patente em 1891 e conseguiu patrocinadores e engenheiros elétricos para fundar a Companhia de Telefonia Automática Strowger, transformada em Automatic Electric em 1901.

Seus anúncios falavam na telefonia “sem moça, sem xingamento, sem manutenção, sem espera”. Moça essa, evidentemente, a pobre telefonista. A primeira cidade a receber o sistema foi La Porte, Indiana, em novembro de 1892.

Central telefônica com comutadores de Strowger em 1916. Cada bloquinho abaixo do motor é um deles, com os números acima indicando qual era o prefixo ao qual atendiam. Domínio Público

O sistema Strowger era extremamente eficaz. Podia ser ampliado usando-se outras máquinas idênticas para adicionar mais números. Por exemplo, se alguém discasse 9, a primeira máquina se conectava a uma outra responsável por atender os ramais começados por 9 (por exemplo, num sistema de três números, de 900 a 999).

As telefonistas não perderam seu emprego imediatamente. O sistema era caro e seu trabalho era barato. Mas a demanda crescente – e greves dos funcionários – fizeram com que as maiores empresas do ramo se abrissem à novidade.

A Bell, maior operadora da época, passou a comprar máquinas da Strowger em 1916, e desenvolveu um sistema próprio, que não colou fora dos EUA. Continuou com o sistema Strowger em cidades menores. A primeira central automática do Brasil surgiu em São Paulo, em 1923.

Diagrama mostrando a matriz de ramais do sistema, cada uma das 100 linguetas às quais o braço pode se conectar. Reprodução

As maquininhas do agente funerário só passaram a ser aposentadas após a década de 1950, com a introdução dos comutadores de barras cruzadas – igualmente mecânicos, mas mais compactos e de mais simples manutenção. Mas só sumiriam de vez com a adoção do sistema eletrônico – que usa o tom, não pulso – criado nos anos 1960, mas que só chegou ao Brasil nos 1980.

Quanto a Strowger, vendeu suas patentes por US$ 1.800 em 1896. Isso dá US$ 52.000 hoje. Em 1916, essas mesmas patentes foram vendidas por US$ 2,5 milhões (US$ 56 milhões atuais). Morreria de um aneurisma fulminante em 1902. Espera-se que ninguém tenha tido que pedir pela funerária a uma telefonista traiçoeira.