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Matérias / Personagem

Solomon Perel: o judeu que se disfarçou de soldado da SS e ajudou a capturar o filho de Stalin

Com medo de ser capturado, o jovem fugiu aos 14 anos de idade e acabou sendo acolhido por um internato da Juventude Hitleriana

Wallacy Ferrari Publicado em 15/03/2020, às 09h00

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Salomon chegou a se apresentar como Josef Perjell para não levantar desconfiança - Wikimedia Commons
Salomon chegou a se apresentar como Josef Perjell para não levantar desconfiança - Wikimedia Commons

Nascido em 21 de abil de 1925, Solomon Perel tinha apenas 10 anos quando teve de se mudar da Alemanha, onde havia passado toda sua infância, para morar com tios na Polônia. Seus parentes, todos judeus, administravam uma loja de sapatos que havia sido saqueada em 1935, deixando a família sem recursos e tendo de morar com outros familiares.

O que não os esperava era que, quatro anos depois, em setembro de 1939, sofreriam uma forte perseguição a doutrina judaica e aos seguidores, vinda do Partido Nazista ao assumir o poder da Alemanha e se apoderar do território polonês. A família de Solomon, com o perigo eminente de ser pega, orientou os filhos mais velhos a arranjarem um refúgio.

Junto ao irmão Isaak, Solomon se direcionou ao lado ocupado pelos soviéticos na Polônia. Lá, acabou sendo pego por autoridades locais, entretanto, sem relação com o governo nazista. Acabou sendo colocado em um orfanato de Komsomol, uma espécie de organização juvenil com doutrinas relacionadas ao Partido Comunista da União Soviética

Enquanto ele estava instalado no orfanato de educação política em Grodno, na Bielorrússia, seu irmão já conseguia escapar para a cidade de Vilnius, capital da Lituânia. Por lá ficaram até junho de 1941, quando os nazistas fizeram a invasão a parte do território soviético. O jovem, junto aos outros do orfanato, foram capturados e interrogados, entretanto, foi mais esperto que os militares.

Solomon, junto a soldados nazistas, posando para a foto em cima de um trator / Créditos: Divulgação

Por passar a infância na Alemanha, Solomon era alfabetizado na língua russa com fluência. Sem sotaques e estudando as possíveis invasões, deixou o texto decorado quando o pior acontecesse: afirmou ser um Volksdeutscher — alemão étnico que vive fora da Alemanha — sem citar nenhuma relação com o judaísmo. A equipe acreditou e o acolheu.

Na base militar, foi escalado para a função de tradutor da língua polonesa e intérprete russo para as solicitações do exército, desempenhando um papel importante para na captura do filho de Joseph Stalin, Yakov Dzhugashvili. Solomon, na época com 16 anos, transcrevia as pistas e orientava o comando geograficamente, visto que já tinha vivência na região em seus tempos de desabrigado.

Junto aos seus feitos, a equipe alemã começou a nutrir um carinho ao garoto que, muito empenhado, permanecia sem registro de paternidade. O comandante da unidade onde Solomon atuava chegou a manifestar interesse em adotá-lo para designar uma melhor educação e, possivelmente, uma boa carreira militar.

Porém, a adoção acabaria com seu plano de sobrevivência; qualquer exame médico eu uma simples conferida poderia mostrar a circuncisão, ato de inclusão da comunidade judaica onde se extrai o prepúcio. Com a intervenção descoberta, o jovem poderia ser recolhido em campos de concentração. Por isso, decidiu fugir novamente, sem sucesso.

Tentando conseguir se deslocar para o território soviético, Solomon era sempre acolhido por outra base militar. As condições adversas da guerra também colocavam a saúde e segurança do rapaz em risco. Por isso, antes de completar a maioridade penal, foi informado que não poderia se manter no exército, entretanto, seria direcionado a um local seguro, gratuitamente.

Os internatos de Hitler militarizavam os jovens de maneira que enaltecesse o líder / Créditos: Divulgação

O local seguro era o Internato da Juventude Hitlerista. Desorientado sobre como seria o acolhimento, se apresentou como Josef Perjell, nome sem relação com qualquer referência ao judaísmo. Com rotinas de educação e treinamento para vangloriar o Führer, o mesmo era o próprio corintiano em uma torcida repleta de palmeirenses.

Chegou a ter inclusive uma namorada, chamada Leni Latsch, que compunha a Liga das Moças Alemãs, uma organização também de jovens associadas ao nazismo. Não chegou a ser descoberto nem em suas relações íntimas e não teve interesse em revelar, acreditando que poderia atrapalhar os planos para se manter vivo. 

Somente em 1945, um dia antes de completar 20 anos de idade, Solomon foi recolhido por uma equipe do Exército dos Estados Unidos, que o direcionou para a volta à Alemanha após o fim da guerra. Conseguiu localizar o irmão Isaak, que estava casado e residindo em Munique, porém, sua mãe havia sido morta em uma câmara de gás, a irmã assassinada com um tiro durante uma Marcha da Morte e seu pai havia morrido de fome.

Seu outro irmão, David, estava vivo e morava na Palestina, onde se deslocou para continuar sua vida. Lutou pelo Exército de Israel antes de se tornar um empresário local. A história só foi revelada ao mundo em 1989, com o lançamento de sua biografia. A mesma foi contada no filme Filhos da Guerra, no ano seguinte, que chegou a ganhar um Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro.

Em entrevista ao El País, em 2019, Solomon afirma que toda a doutrinação nazista o fez ter vergonha de suas origens judias durante sua juventude, porém, não se sente um traídor, pois reconhece o esforço para sobreviver: “Obedeci à ordem da minha mãe. Jurei a ela que iria sobreviver e ainda estou aqui”.


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