Cela do DOPS em São Paulo - Memorial da Resistência
Brasil

Arquitetura da Repressão: como os edifícios da Ditadura colaboraram com a tortura

Segundo a pesquisa de Caroline Murta Lemos, os prédios dos órgãos da repressão tinham papel essencial na violência política

André Nogueira Publicado em 10/12/2019, às 13h57

A arqueóloga Caroline Murta Lemos divulgou uma pesquisa que traduz os âmagos dos prisioneiros da Ditadura Militar, afirmando que a arquitetura das dependências do exército era essencial para a prática da tortura. O método de exploração da Arquitetura da Repressão, uniu a arqueologia sensorial com a da arquitetura com o objetivo de pensar o ser humano no cenário de interrogatório violento.

“Como as estratégias de repressão e resistência são materiais, toda experiência humana ocorre no mundo físico. Os historiadores se baseiam nos fatos sobre quem controlava essas casas, sobre os presos que passavam pelo local. Mas como era a repressão cotidianamente?” Esta é a dúvida principal da tese 'Arquitetando o Terror: um estudo sensorial dos centros de detenção oficiais e clandestinos da Ditadura Civil-Militar do Brasil (1964-1985)'.

Antigo DOPs em São Paulo / Crédito: Memorial da Resistência

 

Para a pesquisa de doutorado pela UFSE, Lemos investigou o Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna, o Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo e locais clandestinos: a Casa Azul (Pará) e a Casa da Morte, em Petrópolis. A proposta da autora é demonstrar como funciona a arquitetura repressiva.

“Muitas pessoas falam sobre as sessões de tortura. Mas ninguém fala sobre como a experiência de detenção era fundamental para que os agentes conseguissem bons resultados nas sessões de tortura. A experiência de detenção dos presos e o papel que a materialidade dos centros desempenhava no condicionamento dessa experiência era tão importante e essencial no funcionamento desses órgãos quanto as sessões de tortura em si”.

Antigo DOI-CODI no Rio de Janeiro / Crédito: Wikimedia Commons

 

Além das visitas e análises de plantas, também foram realizadas entrevistas com ex-prisioneiros e leituras de relatos da CNV, para entender sua subjetividade. Com isso descobriu-se, por exemplo, que a estrutura era feita para que os presos ouvissem os gritos das sessões, num “clima de terror”.

A Casa da Morte, local clandestino de torturas do Exército / Crédito: Wikimedia Commons

 

 “Também foi constatado que as estratégias repressivas praticadas nesses espaços buscavam desconstruir a identidade do prisioneiro, disciplinando-o por meio de estímulos e privações sensoriais que afetavam seu sensorium, como, por exemplo: ameaças e humilhações; permanência por dias em aposentos sujos, muito quentes ou muito frios, pequenos e superlotados; detenção em regime solitário; capacidade limitante de manutenção da higiene pessoal; alimentação insuficiente e/ou de baixa qualidade etc.”

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