O rei Charles III - Getty Images
Charles III

Documento revela ligação de ancestrais de Charles III com comércio de escravizados

Ancestral direto de Charles III esteve envolvido na compra de 200 escravizados de plantações de tabaco da Virgínia (EUA)

Fabio Previdelli Publicado em 27/04/2023, às 13h08

Ancestrais diretos do rei Charles III e da Família Real britânica compraram e exploraram escravos em plantações de tabaco no estado norte-americano da Virgínia. A afirmação faz parte de uma nova pesquisa compartilhada com o The Guardian. 

Documentos mostram que um ancestral direto do rei, que será coroado oficialmente no início do próximo mês, esteve envolvido na compra de, ao menos, 200 escravizados da Royal African Company (RAC), em 1686.

O registro mostra que o capitão de um navio recebeu instruções para entregar africanos escravizados a um homem chamado Edward Porteus — dono de uma plantação de tabaco na Virgínia — e outras duas pessoas. 

Conforme relata o The Guardian, o filho de Edward, Robert, herdou a propriedade de seu pai e mudou-se para a Inglaterra, em 1720. Uma de suas descendentes, Frances Smith, anos depois, se casou com Claude Bowes-Lyon. A neta deles foi Elizabeth Bowes-Lyon, a Rainha-Mãe.

Os documentos que fazem esse elo foram encontrados pela pesquisadora Desirée Baptiste, que investigava a ligação entre Igrejas da Inglaterra e escravizados da Virgínia. A descoberta vai de encontro com uma matéria publicada pelo The Guardian que liga o comerciante de escravos Edward Colston à monarquia. Desirée conseguiu traçar uma árvore genealógica entre o clã dos Windsor com o tráfico de africanos escravizados.

Sabe-se que o Royal African Company traficou cerca de 180.000 pessoas escravizadas. A RAC ainda recebeu diversas cartas régias de diversos monarcas ingleses. O documento, que pode ser visto abaixo, mostra que altos funcionários do RAC, que se descrevem como “seus amigos amorosos”, mandaram instruções a um capitão para enviar “negros” a Edward Porteus.

Documentos sobre o tráfico de escravizados/ Crédito: Reprodução

 

“Você está com sua primeira oportunidade de vento e clima que Deus enviará após o recebimento deste documento para zarpar do rio Tâmisa no navio de Speedwell e fazer o melhor possível para chegar à Ilha James no rio Gâmbia”, diz o documento. 

… nosso referido agente deve colocar a bordo do navio duzentos negros e tantos quantos ele preparar e o navio puder transportar convenientemente.. e então, prosseguir… para o rio Potomac em Maryland, e entregá-los ao Sr. Edward Porteus, Sr. Christopher Robinson e Sr. Richard Gardiner”, continua a instrução. 

Histórico de escravidão

O estado norte-americano da Virgínia possui histórico com a escravidão, muito por conta do desembarque de africanos em Jamestown, em 1619. Leis dos estado, aliás, foram outorgadas para manter a escravidão e suprimir as revoltas — o que incluiu o chicotamento e desmembramento de pessoas. 

Um escravo que desse falsas evidências (…) receberia suas 39 chicotadas e depois teria suas orelhas pregadas no pelourinho por meia hora, após o que seriam cortadas”, dizia uma delas. 

Em 1663, por exemplo, uma revolta de escravos foi reprimida de forma impiedosa no condado de Gloucester. O local era o mesmo onde Porteus estava baseado. Relatos da Fundação Colonial de Williamsburg aponta que “várias cabeças ensanguentadas penduradas no topo das chaminés locais como um aviso horrível para os outros.”

Como resposta ao The Guardian, no início do mês, Charles III apontou que apoiará a pesquisa que liga a monarquia britânica e o comércio transatlântico de escravos. O Palácio de Buckingham ainda completou que o rei leva “profundamente a sério” a questão, a qual classificou como uma “atrocidade terrível”.

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