A estudante Vitória Barros - Divulgação / Arquivo Pessoal
Racismo

Estudante cotista que teve matrícula cancelada em universidade diz ter sofrido racismo

Banca de heteroidentificação acusou a jovem de ter feito chapinha e passado maquiagem para parecer mais indígena

Giovanna Gomes Publicado em 26/09/2023, às 16h43

Uma estudante cotista relatou ter sido vítima de racismo na Universidade Federal de Rondônia (Unir) após sua matrícula ter sido cancelada pela banca de heteroidentificação — responsável por verificar o direito a cotas étnico-raciais.

A jovem Vitória Barros foi acusada de tentar parecer mais indígena por meio do uso de chapinha e maquiagem. No entanto, três líderes indígenas confirmaram seu pertencimento à comunidade Tapuia Tarairiú. As três pessoas em questão são a cacica Francisca Conceição Bezerra, o professor de língua materna e guardião da memória cultural do povo Tapuia Tarairiú, Josué Jerônimo, e Ednete dos Santos Silva, coordenadora de ação.

De acordo com informações do portal de notícias G1, Jerônimo e Ednete destacaram que não foram contatados pela universidade e que, caso questionados, teriam confirmado que Vitória faz, de fato, parte do povo Tapuia Tarairiú.

A Unir afirma que a documentação da jovem não atendeu às normas editalícias, embora não tenha especificado os critérios utilizados pela comissão. A universidade implementou entrevistas de heteroidentificação para evitar fraudes nas cotas indígenas.

Racismo

“Uma coisa que me chamou atenção é que no final [da entrevista com a banca] uma das voluntárias falou: ‘olha, a gente entrou em contato com as lideranças, mas só conseguimos falar com sua cacique e isso é muito ruim pra você. Porque você que é indígena sabe que muitas pessoas fraudam e muitos caciques assinam documentos para qualquer pessoa pra colocar quem eles querem aqui dentro da universidade’”, relembra.

Li atentamente cada detalhe [do relatório] e os argumentos usados eram basicamente achismos e falas extremamente racistas”, destacou a jovem.

Sem vínculo

Além de acusar Vitória de ter alisado o cabelo e de ter passado maquiagem para parecer mais indígena durante a entrevista — que se deu de forma online no dia 16 de junho — o relatório da comissão ainda declarou que ela não teria "vínculo, nem pertencimento à comunidade indígena à qual declarou pertencer".

Eu estava em casa o tempo todo nesse dia [da entrevista], então não tinha nem porque fazer maquiagem. Eu não tenho cabelo cacheado, nunca tive e também se eu tivesse isso não me faria menos indígena. Se eu tivesse maquiada também não me faria menos indígena’”, aponta a jovem.

Agora Vitória, que diz que o sonho de cursar faculdade de medicina tornou-se um pesadelo, busca uma liminar na Justiça Federal para reativar sua matrícula — e um ofício da Funai apoiou seu pedido.

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