A artista Valerie Solange em 1967 - Divulgação
Personagem

SCUM: o manifesto polêmico de Valerie Solanas que imaginou uma sociedade extinta de homens

A intelectual tinha episódios de depressão, foi presa por tentar matar Andy Warhol e escreveu um manifesto pedindo a destruição do sexo masculino

Nicoli Raveli Publicado em 19/03/2020, às 09h00 - Atualizado às 10h00

Valerie Solanas teve uma vida conturbada desde criança, quando afirmava com frequência os abusos sexuais que sofria nas mãos do pai. Aos 11 anos, seus pais se separaram e a garota passou a morar com sua mãe em Washington. A menina se enganou ao pensar que teria uma vida melhor. Pouco tempo depois, sua mãe casou-se novamente, o que fez com que sua filha se rebelasse contra ela.

Logo, seus problemas familiares ganharam espaço em sua vida escolar. Valerie bateu em um menino e em uma freira, escrevia frases impróprias às crianças e, devido a esse comportamento, passou a morar com seu avô em 1949. Mais uma vez, Solanas não teve sorte, já que seu parente era alcoólatra e a agredia constantemente.

Aos 15 anos, foi expulsa de casa. Entretanto, a garota continuou com seus estudos e se formou na Universidade de Maryland, no curso de psicologia. Como trabalho, ela encontrou um modo de dar conselhos sobre como combater um homem, e seus programas podiam ser ouvidos em uma rádio.

Mesmo com a cultura conservadora da época, Solanas não escondeu seu interesse sexual por mulheres. Em 1950, ela publicou dois artigos sobre psicologia e mudou-se para Berkeley, onde assistiu outros cursos e, mais tarde, começou a escrever seu manifesto.

Nos anos 60, Valerie manteve sua sustentação baseada na prostituição e viajou para Greenwith Village, foi quando começou a escrever artigos autobiográficos sobre uma mendiga e prostituta que odiava os homens, intitulado A Young Girl’s Primer e How to Attain the Leisure Class. Além disso, a intelectual produziu uma peça de teatro sobre o mesmo tema.

Valerie Solanas, escritora da década de 1950 / Crédito: Divulgação 

 

Já em 1967, a escritora encontrou com Andy Warhol pela primeira vez e lhe pediu para conduzir sua peça. Ele ficou surpreso com o título e decidiu ficar com o roteiro para fazer uma revisão, mas nunca foi devolvido. Como desculpa, o então produtor afirmou que havia perdido os papeis e ofereceu a Solanas um papel em seu filme intitulado I, A Man.

Ela dominou o diálogo do filme e fez uma aparição notável. Porém, em seu livro, Andy escreveu que a considerava uma pessoa muito interessante, mas que o ameaçava constantemente e, por isso, decidiu se afastar da moça.

A criação do Society for Cutting Up Men Manifesto (SCUM)

Ainda em 1967, Valerie publicou o SCUM Manifesto, seu trabalho mais conhecido. Trata-se de um livro que aborda a destruição dos homens e a libertação das mulheres. Com essa realização, a mulher ganhou diversas simpatizantes feministas que enxergaram seu texto como provocativo, reflexivo e determinava um chamado a ação.

O manifesto seria publicado pela editora que era propriedade de Maurice Girodias, a Olympia Press. No contrato realizado, o editor solicitou a artista que suas próximas obras também pertenceriam a ele. Dessa maneira, ela entendeu que o homem possuiria todos os seus trabalhos.

Como continuação do manifesto, a escritora pretendia dar vida a um romance, mas acreditava que estava sendo vítima de uma conspiração de Warhol e Gorodias. Na mesma época, ela foi até Paul Krassner e pediu-lhe dinheiro, e afirmou que tinha a intenção de atirar no proprietário da Olympia Press. Com o dinheiro em mãos, Valerie comprou uma pistola calibre 32.

A tentativa de assassinato

Em 1968, Solanas foi até o Hotel Chelsea, local que Girodias morava, não o encontrou e foi até o estúdio The Factory, onde esperou por Warhol. Foi quando ela escondeu a arma e pegou o mesmo elevador que ele. Valerie ergueu o objeto e atirou três vezes no homem, mas acertou apenas uma.

Andy Warhol, uma de suas vítimas / Crédito: Wikimedia Commons

 

Após isso, ela atirou no crítico de arte Mario Amaya e tentou ferir Fred Hughes, mas sua arma parou de funcionar. Foi então que ele a sugeriu que deixasse o prédio. Mesmo com dificuldades, Warhol sobreviveu, mas nunca se recuperou por completo.

Na mesma tarde, a escritora se entregou à polícia e foi acusada por seus crimes. Em seu depoimento, afirmou que Warhol tinha muito controle sob sua vida e que desejava roubar seus trabalhos.

Após o relato, ela se declarou culpada pela tentativa de assassinato e passou três anos em um hospital psiquiátrico, onde foi diagnosticada com esquizofrenia e depressão. Mesmo com o ocorrido, Andy recusou-se a testemunhar contra Solanas, mas passou grande parte da sua vida com medo de que o evento se repetisse.

Em 1971, Valerie foi libertada, mas presa no mesmo ano devido a cartas ameaçadoras que enviou a diversas pessoas, inclusive a Warhol. Em seus últimos anos, a artista enfrentou mais crises de depressão e ficou por muito tempo no hospital psiquiátrico.

Ela foi libertada novamente seis anos depois e, em abril de 1988, aos 52 anos, faleceu de enfisema pulmonar e pneumonia. Sua peça de teatro foi encontrada somente após 30 anos e, em 2000, estreou em São Francisco.


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