Adriana Caselotti em 1937 - Creative Commons
Personagem

Adriana Caselotti, a dubladora da Branca de Neve que teve a carreira boicotada por Walt Disney

Um contrato assinado pela artista, aos 18 anos de idade, é prova de que manter o encanto dos desenhos animados custa bem caro

Vanessa Centamori Publicado em 20/04/2020, às 13h00

Em 21 de dezembro de 1937, durante a festa de lançamento de A Branca de Neve e os Sete Anões, uma platéia de incontáveis celebridades de Hollywood se maravilhou ao ouvir uma doce voz, muito afinada, que entonava junto à alegres passarinhos fictícios. Era o encanto da dubladora Adriana Caselotti - que nem se quer aparecia nos créditos da animação. 

Os holofotes iluminaram apenas os atores presentes no evento, como Cary Grant, Marlene Dietrich, Judy Garland e Carole Lombard. Mal sabia o mundo que a autora da voz da protagonista do filme fora esquecida.

Caselotti não estrelou em nenhum musical e sua identidade permaneceu guardada a sete chaves. O dono do cadeado? seria o próprio Walt Disney, que, segundo a lenda hollywoodiana, teria proibido a artista ao estrelato para não quebrar o encanto da Branca de Neve dos telões. 

Branca de Neve, no trailer de 1937 / Crédito: Divulgação 

 

Princesa da Disney 

Nascida em Bridgeport, Connecticut, em 6 de maio de 1916, a moça já apresentava sinais de que tinha dom para fazer sucesso com a voz desde pequena. A começar pelo seu berço musical: Caselotti era filha de uma família ligada à ópera.

Seu pai era o italiano Guido Caselotti, professor de música em Nova York; a mãe, por sua vez, Maria Orefice, cantou no Royal Opera. Igualmente, a irmã, Louise Caselotti, era cantora de ópera e professora de canto de Maria Callas.

Adriana Caselotti / Crédito: Wikimedia Commons 

 

Caselotti foi educada em um convento italiano, San Getulio, perto de Roma, enquanto sua mãe se apresentava na Ópera. Durante a adolescência, retornou aos Estados Unidos para aprender canto com o pai.

Quando completou 18 anos, o pai da moça recebeu um telefonema de um diretor de elenco da Disney, perguntando se algum de seus alunos de música poderia ter uma voz adequada para o papel feminino de um dos mais novos filmes.

A jovem Caselotti ouviu o diálogo no outro lado da linha do telefone. E entrou na conversa: "Ouça-me - minha voz não funcionaria?", disse. De fato, sim, e, no ano seguinte, a garota passou por um teste. 

Mais de 150 meninas também participaram de audições para o papel, mas Walt Disney optou pela voz de soprano de Adriana Caselotti. As músicas foram gravadas por ela e os animadores da Disney estudaram seus gestos em busca de inspiração.

Negócio complicado

Ainda muito jovem, Caselotti aceitou termos do contrato que não pareceram ser nada favoráveis. Segundo os rumores da época, a moça teria acabado concordando em seder totalmente os direitos por sua voz. Ela ganhou um total de $970 por três anos de trabalho (isso equivale a cerca de $16 mil dólares hoje). 

Walt Disney apresentando seus anões em 1937 / Crédito: Divulgação 

 

Em 1938, um ano depois da estreia de A Branca de Neve e os Sete Anões, a jovem recebeu um convite de se apresentar no programa de rádio do comediante Jack Benny. Porém, ela teve que negá-lo, por conta de suas correntes contratuais. O programa revelaria a verdadeira mulher por trás da princesa, quebrando a ilusão tão defendida por Walt Disney. 

Naquele mesmo ano, Caselotti e o ator que dublava seu Príncipe Encantado processaram a Disney e a RCA por valores de $200 mil e $100 mil dólares, respectivamente. Após esse episódio, ela manteve suas relações com o império de desenhos animados em uma aparente paz. 

Em 1939, participou de O Mágico de Oz, com autorização de Walt Disney. Em 1943, a empresa finalmente creditou a voz da moça e a dos outros dubladores em A Branca de Neve e os Sete Anões. Caselotti eventualmente fez ainda pequenas aparições em óperas e também no filme A Felicidade Não se Compra (1946). 

Reconstituição do poster de 1937 / Crédito: Divulgação 

 

A dubladora participou do relançamento de A Branca de Neve e os Sete Anões no 50º aniversário do desenho, em 1987. Não se negou a estar presente em inúmeros outros eventos publicitários e especiais de televisão comemorando o famoso filme.

Durante entrevistas, ela se demonstrou orgulhosa de sua contribuição ao legado da Disney, sempre discreta a respeito dos atritos que sofreu com o império. Um ano depois de ganhar um Disney Legend Award, ela disse a um repórter em 1995: "Eu sei que minha voz nunca morrerá".

Embora as suas canções ainda permaneçam na memória de várias gerações de crianças que assistem à Branca de Neve, Adriana Caselotti faleceu em 19 de janeiro de 1997, em Los Angeles.


+Saiba mais sobre o tema através das obras abaixo:

Walt Disney: O triunfo da imaginação americana - 3ª Edição, de Neal Gabler (2020) - https://amzn.to/2IbPgLt

O jeito Disney de encantar os clientes: Do atendimento excepcional ao nunca parar de crescer e acreditar, de Disney Institute (2012) - https://amzn.to/2wjkcH8

Criatividade S.A., de Ed Catmull (2014) - https://amzn.to/33r6qhQ

The Color of Pixar, de Tia Kratter (2017) - https://amzn.to/2UhHYLF

Vale lembrar que os preços e a quantidade disponível dos produtos condizem com os da data da publicação deste post. Além disso, a Aventuras na História pode ganhar uma parcela das vendas ou outro tipo de compensação pelos links nesta página.

Aproveite Frete GRÁTIS, rápido e ilimitado com Amazon Prime: https://amzn.to/2w5nJJp

Amazon Music Unlimited – Experimente 30 dias grátis: https://amzn.to/3b6Kk7du

História Walt Disney Branca de Neve Conto de fadas Amazon matéria dubladora Adriana Caselotti

Leia também

O Caso Asunta: Veja a verdadeira história por trás da série da Netflix


Quatro Dias com Ela: Veja a história real por trás do filme


Atentado ao Hotel Taj Mahal: 5 coisas para saber sobre a história real do filme


Bebê Rena: Veja 5 diferenças entre a série e a história real


A outra vítima do GP de San Marino: A trágica morte de Roland Ratzenberger


Bebê Rena: Suposta perseguidora da vida real critica série: 'Eu sou a vítima'