Fotografia do Castelo Aragonês - Getty Images
Religião

Cemitério das Clarissas Pobres: O culto à brevidade da vida

Um conjunto de freiras no subsolo de um castelo: enquanto umas rezam, outras se decompõem bem ao lado

Joseane Pereira, edição impressa da Aventuras na História Publicado em 20/09/2019, às 08h00 - Atualizado em 08/01/2022, às 10h54

O Castelo Aragonês, localizado na costa da Itália, já é curioso por si só. Construído acima de uma imensa rocha vulcânica que se liga à Ilha de Ischia por uma ponte, o local já foi residência de mais de 2 mil famílias entre os séculos 16 e 18, tendo sido um belo refúgio de proteção contra piratas.

Sua origem é antiga: foi arquitetado no século 5 a.C. pelo grego Gerone I, o tirano de Siracusa — naquela época, a única maneira de alcançar a fortificação era por alto-mar. Em 1441, o rei Afonso V de Aragão ordenou a construção de uma ponte, tirando o castelo do isolamento total.

Mas algo que seus idealizadores não imaginavam é que uma tradição horripilante seria levada a cabo nos subsolos da construção algum tempo depois.

No século 17, o Castelo tornou-se o lar do convento das Clarissas Pobres, ordem de freiras que seguiam Santa Clara. Entre suas tradições estava o culto à brevidade da vida e, para isso, tinham um hábito curioso: quando uma delas morria, era transportada a um cômodo no subsolo e sentada em uma cadeira de pedra com orifícios no assento e nos braços.

Seu corpo inerte se decompunha lentamente enquanto o líquido era captado pelos orifícios e coletado em vasos especiais sob os assentos. O esqueleto restante era lavado e transferido para um ossuário.

Apenas isso já renderia um conto de Edgar Allan Poe. Mas outra parte da tradição era seguida à risca: todas as noites, as Clarissas vivas desciam ao cemitério para visitar as cadeiras da morte, rezando e meditando sobre a efemeridade da vida terrena. Passando horas em lugar tão insalubre, as freiras frequentemente contraíam doenças, que em alguns casos eram fatais.

Esse ambiente temporário, conhecido como Putridarium, existia em muitos conventos na região do sul da Itália. Assistindo à modificação diária na aparência do cadáver, cuja carne (símbolo de impureza) dava lugar à liberação completa dos ossos, era poss­­ível refletir sobre os estágios de purificação encarados pela alma em sua jornada para a eternidade.

Durante as Guerras Napoleônicas, o Castelo Aragonês foi bombardeado até sua quase completa destruição. Depois disso, virou uma prisão e, em 1912, foi vendido a um proprietário privado, tornando-se hoje o monumento mais visitado da Ilha de Ischia. Aos turistas que querem uma experiência mais forte, os assentos de pedra ainda podem ser vistos na cripta do subsolo.


Fontes: Atlas Obscura e Ancient Origins (2018).

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